Severino, o aliado de Lula
FHC fez uma ofensiva midiática no fim de semana, com direito a página dupla no Estadão e entrevista no Fantástico. Ontem, deitou falação novamente. No Valor desta terça-feira, 30 de agosto, o jornalista Raimundo Costa dá um roteiro das bicadas entre os outros tucanos que pretendem ou cogitam disputar o day after de Lula: Serra, Alckmin e Aécio. No PT, segue uma luta interna sem heróis, só vilões. O PFL é o que sobrou da ditadura de 1964. O PMDB, uma confederação de micro-interesses. O PSDB, hoje presidido pelo senador Eduardo Azeredo, nem finge que é um partido.
Essa carência de balizamento faz crescer da importância a mídia. Mas a imprensa, com ínfimas exceções, assistiu surda, cega e calada ao desenvolvimento do quadro atual.
Enquanto isso, as velhas malandragens sobrevivem e o esperto Severino Cavalcanti, grande aliado de Lula, se confirma como pizzaiolo-mor da República das Bruzundangas.
O novo olhar do público
A imprensa foi incapaz de ver o que estava nas barbas de todos os Delúbios: a cooptação do PT pelo jogo manhoso do patrimonialismo brasileiro. Mas o olhar do público mudou com o advento de novas mídias, destaca o Alberto Dines. Fala, Dines.
Dines:
– Quem viu a edição de ontem do Jornal Nacional ficou com a impressão de que o nosso furacão político foi substituído pelo outro furacão, o Katrina, que, por sua vez, dará lugar ao anticiclone que está se armando no sul do país. Na verdade estamos encerrando a fase 1 de um escândalo que, embora sem nome, promete ainda muitas emoções. A fase 2 que agora se inicia vai exigir da imprensa menos palpitação e mais transpiração. Menos barulho e mais consistência.
Esta crise teve uma extraordinária repercussão não apenas porque abalou um partido e o seu governo, ela abalou a própria estrutura política do país, mexeu com o Estado. Parte desta repercussão deve-se à cobertura ao vivo das sessões das Comissões de Inquérito pelas emissoras de TV por assinatura, pelas rádios noticiosas e, principalmente pela Internet. Pela primeira vez temos blogs jornalísticos competindo com os veículos tradicionais. Esta é uma crise acompanhada em tempo real que vai alterar decisivamente nossa cobertura política. Sobre isso falaremos logo mais na edição televisiva do Observatório da Imprensa. Às 10 e meia pela rede da TVE e às 11 pela Rede Cultura. Até lá.
Folha contra o lucro
A manchete de ontem da Folha lamentava que no governo Lula o setor produtivo tenha tido resultados melhores do que o dos bancos. Mas empresa não é para ter lucro? Hoje, um editorial do jornal procura corrigir o enfoque esdrúxulo da véspera.
Varig não ata nem desata
A pretendida reestruturação da Varig não sai da pista nem decola. Leitor, será que a mídia foi enrolada nesse processo?
A inspetora e o delegado
A polícia do Rio de Janeiro leva uma vida tranqüila, como se viu ontem no morro Dona Marta, em Botafogo, onde uma repórter da TV Bandeirantes, Nadja Haddad, foi uma das cinco pessoas feridas. A favela fica em frente a um Batalhão da Polícia Militar. A polícia do Rio, como eu dizia, não tem com que se preocupar. Então, resolveu inventar uma história com Ronaldinho e Gabriel, o Pensador. Tomou-se de brios e investiu contra pessoas que estariam levando água ao moinho do traficante Bem-Te-Vi, da Rocinha. Foi um subproduto de escutas telefônicas das quais resultou a prisão de jovens de Niterói acusados de usar a rede de relacionamentos Orkut, na internet, para vender drogas.
A imprensa deu cobertura. A IstoÉ da semana passada acusou, julgou, condenou e colocou cinco personagens na reportagem de capa: quatro jogadores de futebol e o cantor Gabriel. Ontem, com os depoimentos de Ronaldinho e do goleiro Júlio César na polícia, que se seguiram ao de Gabriel, ficou nua a presepada. Foi obra de uma dupla dinâmica de policiais, a onipresente inspetora Marina Magessi e o até aqui desconhecido delegado de Niterói Luis Marcelo Xavier.
A IstoÉ dedicou sete páginas à grande cascata, cujo único atributo era o sensacionalismo provocado pelo suposto envolvimento de ícones midiáticos.
Desatinados
Memorável lambança desse binômio inextricável formado pela polícia e pela imprensa foi dar um nome de guerra para a velhinha de Copacabana que filmou traficantes sem e com uniforme durante dois anos: “Dona Vitória”. Duas mulheres de prédios vizinhos que foram batizadas com esse nome por seus pais agora têm medo até de sair de casa.