Faltam análises de fundo
A cada fim de semana espera-se da imprensa uma safra mais robusta de análises de fundo, que dêem perspectiva para o entendimento da crise do “mensalão”. Nesta sexta-feira, 5 de agosto, uma entrevista com o prefeito César Maia publicada pelo jornal Valor é boa antecipação. Acredite-se ou não que o PFL e o PMDB possam exercer o papel de protagonistas na busca de uma saída em direção ao parlamentarismo, como propõe Maia, faz sentido, por exemplo, ele cobrar uma participação mais ativa de governadores no processo.
Um país diferente
Por seu equilíbrio e busca de objetividade na crise, a mídia ganhou credibilidade. Hoje, os jornais de expressão nacional reagem sensatamente, em editoriais, à fala do presidente Lula em Garanhuns.
Também como canal de uma maior clareza o papel da imprensa será decisivo. Um melhor entendimento da situação poderá evitar que o presidente Lula insista no equívoco de antecipar a campanha eleitoral e se afaste do confronto com a mídia. Porque, como a economia, que a cada dia surpreende legiões de entendidos, também a vida política do país mudou muito. E talvez Lula não tenha percebido a extensão dessa mudança. O senador Jefferson Peres deu uma sugestão adequada: que Lula faça um pronunciamento sério à nação. É o óbvio, tão inacessível.
Não engolir Jefferson
Na visão do Alberto Dines, a mídia deveria ter reagido com mais vigor aos desafios do presidente Lula. E não pode engolir o barítono Roberto Jefferson.
Dines:
− Mauro, a deputada Denise Frossard disse ontem que está sentindo um cheiro de pizza no ar. Pode ser que tenha razão, mas há outros cheiros no ar, menos fortes. Um deles é o cheiro de palhaçada que, aliás, não existe. Parece que o barítono Roberto Jefferson esgotou o seu estoque de bombas, começa a se desdizer, e como nestes quase três meses de show ainda não apareceu um substituto, corre-se o risco de saturar o distinto público.
O mais grave de tudo é que com esta fartura de infrações, dinheiros, pistas, indícios e suspeitos a imprensa não consegue produzir um único fato novo. Contenta-se em reproduzir o que foi dito na véspera e às vezes nem isso, tal é o volume de declarações, discursos e insinuações que precisa ser publicado. A mídia armou um grande circo mas não está conseguindo ensaiar números novos.
Alguns membros das CPI, os mais sérios, já estão dizendo que estão fartos de mentiras das testemunhas, chegou a hora de trabalhar em cima dos documentos. Mas outros parlamentares, a maioria, insiste em convocar novos figurantes, ainda que sem importância. Claro, querem aparecer na telinha, fazer o seu número, esse negócio de destrinchar a papelada não rende votos. A mídia está atrapalhada. Pior, a mídia está intimidada. Basta ver a forma tímida com que ontem reagiu às ameaças do presidente em Garanhuns, basta ver como até aceita as gozações do canastrão Jefferson.
Sem transparência
Roberto Jefferson faz um jogo de idas e vindas ao sabor de suas conveniências. Ancelmo Gois informa hoje no Globo que caixas de documentos estavam sendo tiradas ontem do escritório de Jefferson no Centro do Rio de Janeiro. Por que a Transparência Brasil aceitou participar de um debate com ele sobre a crise? Está marcado para segunda-feira em São Paulo.
Londrina
Como é vivida fora do circuito Brasília-São Paulo-Rio a crise do “mensalão”?
A editora de política da Folha de Londrina, Beth de Bertolis, fala do sentimento captado nas cartas dos leitores.
Beth:
− A impressão que dá, lendo essas cartas, é que o eleitor está decepcionado. Argumentam que não é uma coisa nova, não é novidade para eles o fato de haver um “mensalão”, de haver compra de apoio político, mas que eles não esperavam que fosse desse tamanho, que a crise fosse tão grande. Que o volume de dinheiro que isso está envolvendo fosse tão grande. [Percebe-se] que há um clima de frustração e decepção, que eles não esperavam que fosse acontecer isso votando no PT.
Mauro:
− Beth de Bertolis, editora de política da Folha de Londrina, destaca a forte presença, entre os missivistas, de empresários e profissionais liberais.
No Judiciário
Dora Kramer trabalha hoje no Estado de S. Paulo com a hipótese de que o governo, presidente Lula à frente, e ministro Thomaz Bastos por trás do pano, esteja procurando no Judiciário o entendimento de que houve apenas crime eleitoral. Essa seria a essência do “tapetão”.