Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Mercadante agora critica imprensa
>>A suposta difamação

Mercadante agora critica imprensa

 

Em entrevista a Josias de Souza na Folha de S. Paulo desta segunda-feira, 8 de agosto, o senador Aloizio Mercadante abre uma linha de conflito com o deputado José Dirceu, sem explicitar os pontos de atrito. Mercadante, que tanto usou a imprensa como arma política, agora cospe no prato em que comeu: “A imprensa vive da criminalização das campanhas. Não abre espaço para uma discussão qualificada, emergencial e indispensável no Brasil”.

 

O senador petista diz que a concorrência que se estabelece nas redações leva a que matérias não sejam apuradas devidamente. Afirma que nem sempre o direito de defesa é respeitado e que reputações ficam definitivamente comprometidas.

 

Vantagens da concorrência

 

João Domingos, repórter de política do Estado de S. Paulo veterano de várias CPIs, reconhece que há uma concorrência feroz entre veículos, e às vezes entre jornalistas do mesmo veículo. Mas atribui principalmente a ela os acertos na cobertura da crise do “mensalão”. Ele reconhece que às vezes a ética é atropelada. Já detectou vários deslizes e erros na cobertura atual, mas faz uma avaliação geral positiva.

 

João Domingos explica que nas CPIs existem quatro tipos de personagens que se abastecem mutuamente de modo indissociável: os membros da CPI, os jornalistas, o Ministério Público e a Polícia Federal. Uns passam informações para os outros o tempo todo. As informações só adquirem dimensão política quando são tornadas públicas, é claro.

 

Na opinião do repórter do Estadão, a crise atual é terrível. Não só do ponto de vista político, mas também profissionalmente, porque muitas fontes importantes estão saindo do jogo. Waldomiro Diniz, por exemplo, revela João Domingos, era muito procurado pelos repórteres. Estava enfronhado nos assuntos do poder. Como tantos outros agora denunciados.

 

 

A suposta difamação

 

O Alberto Dines pede a máxima atenção para o documento da Executiva Nacional do PT, que acusa a imprensa de promover difamação. Dines:

 

− Acho que convém examinar com mais atenção um tópico do documento produzido pela Executiva Nacional do PT. Aquele que trata de um suposto processo de difamação para aniquilar o PT. Diz a nota: “Não somos ingênuos a ponto de pensar que todas as denúncias que circulam pela imprensa visam combater a corrupção.” E por ai vai.

 

O PT está, sim, sendo ingênuo. E muito. As denúncias que circulam não foram geradas pela imprensa, ela apenas as reproduz – o que, aliás, é um erro, deveria investigar mais. Basta assistir aos depoimentos nas CPIs e na Comissão de Ética da Câmara para entender que nesta incrível sucessão de revelações a mídia está desempenhando um papel absolutamente passivo. Mesmo o vídeo da propina nos Correios que deflagrou esta crise não foi produzido pela imprensa, foi a Abin, isto é, o governo que o produziu e o entregou à Veja. Há alguns casos isolados de denuncismo irresponsável que este Observatório já denunciou mas. Desta vez, 90% do que se noticia na imprensa é verdadeiro. A prova é que tanto o governo como o seu partido prontamente afastaram os denunciados. Se fosse difamação da imprensa o PT não deveria ser tão ingênuo e promover tantas punições sumárias.

 

Hiroshima e Nagasaki

 

Louvável a denúncia da violência no material sobre os 60 anos das bombas atômicas lançadas contra Hiroshima e Nagasaki, mas nas emissoras de televisão e em revistas as reportagens ficaram sem contexto histórico. Na Folha de S. Paulo de sábado, Ricardo Bonalume Neto produziu uma abordagem rica, e sem simplificações ilusórias. Mostrou, por exemplo, que o governo japonês até hoje não se retratou pelas atrocidades durante a guerra, ao contrário do governo alemão.

 

 

Lula não é Collor

 

Veja partiu para o confronto máximo. Na capa desta semana, equipara o presidente da República a Fernando Collor. Do ponto de vista político, é passar o carro à frente dos bois. Do ponto de vista jornalístico, temerário. Nos dois casos, uma comparação sem fundamento histórico. Lula não é Collor. Alguns acham até que a crise atual é mais grave. Mas não é igual.

 

A revista bateu no limite. Se Lula não cair, o que fará a Veja? Vai continuar em campanha? Vai queixar-se ao secretário-geral da ONU, ou ao Papa?