Sutilezas do noticiário político
Os jornais de hoje dão conta de que o governador de Minas, Aécio Neves, está se aproximando de aliados do presidente Lula com intenção de pavimentar seu caminho para as eleições de 2010.
Aécio tem excelentes relações com o prefeito de Belo Horizonte, o petista Fernando Pimentel, que, como ele e o presidente Lula da Silva, também navega em altos índices de popularidade.
A imprensa detectou os discretos movimentos do governador mineiro mas não fez maiores relações com as recentes pesquisas que mostram a elevada e crescente aprovação do presidente e do governo federal.
Mineiramente, Aécio também anda na moita, mas defende publicamente uma aliança entre o PT e o PSDB.
Enquanto isso, a Folha de S.Paulo segue reproduzindo investigações da Receita Federal sobre gastos de campanha do governador de São Paulo, José Serra.
Nas pesquisas publicadas nesta semana, Serra aparece como o mais bem colocado entre os possíveis candidatos à sucessão de Lula, fato que deve incomodar outras lideranças do PSDB.
A julgar pelo dominó do noticiário político, ele tem um duelo agendado com Aécio Neves num futuro próximo, e não parece dar muita bola para a insistência da Folha nas denúncias.
Talvez devesse. Dessas pequenas poções, pingadas diariamente na opinião do público, é que se constróem os conteúdos das campanhas eleitorais.
O noticiário que envolve popularidade de governantes e previsões eleitorais sempre foi um vasto campo para as especulações de jornalistas.
Chama atenção, por exemplo, nas análises publicadas anteontem sobre os índices de aprovação do governo e de Lula, a tentativa de explicar mais uma vez aquilo que a imprensa chama de ‘blindagem impermeável às crises’ que parece proteger a popularidade do presidente.
O diretor do instituto Sensus, Ricardo Guedes, sempre citado por ocasião das pesquisas, desta vez se aventura pela análise política, dizendo que Lula Implantou um pacto social-democrata em moldes europeus, abandonando as idéias revolucionárias, mas fortalecendo a assistência social.
Epa, mas social-democrata não é aquele outro partido, que está na oposição?
A linha dos indecisos
É razoável afirmar que, quando a imprensa, massivamente, induz a uma visão negativa, como se pode notar no noticiário sobre o atual governo – seja por causa dos escândalos sucessivos, seja por causa de abusos nos gastos oficiais ou pela questão tributária, a linha dos indecisos, aqueles que aparecem nas pesquisas considerando tudo muito regular, pode indicar uma aprovação envergonhada dos pesquisados.
Se esse elemento fosse levado em conta como expressão favorável ao governo e ao presidente, os números da popularidade de Lula seriam ainda mais positivos.
Como ele mesmo gosta de repetir, ‘nunca neste país’ houve presidente tão popular.
Mas não basta ser popular. É preciso que o governo seja efetivamente uma força de transformação social.
Os números confortáveis da economia não são suficientes para que se faça essa afirmação.
E o noticiário político, preso a picuinhas e declarações, não permite avaliar as razões desses altos índices de aprovação.
E a popularidade de Lula é um fato comprovado.
No entanto, resta entender a surpresa da imprensa.
As causas dessa maciça aprovação, que já dá sinais de penetrar também na classe média, talvez pudessem ser encontradas nas palavras do diretor do Instituto Sensus: talvez Lula tenha conseguido colocar em pé o governo social-democrata que os social-democratas não foram capazes de consolidar, por injunções da política, ou por causa das condições adversas da economia mundial na década passada.
Ou seja: se a imprensa juntar os pauzinhos, corre o risco de chegar à conclusão de que Lula pode, afinal, estar fazendo um bom governo, como parece acreditar a maioria da população.
O ‘risco’, nessa hipótese, é o risco da unanimidade, e se relaciona com a aproximação entre Aécio Neves e o PT.
Ao contrário de José Serra, que sempre comparece ao noticiário para fazer reparos à ação do governo petista, Aécio Neves tem evitado se apresentar como oposicionista.
Ainda não está claro no noticiário, mas a resistente popularidade de Lula parece estar mudando a configuração das forças políticas no Brasil.