Friday, 22 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

>>Temporada de mentiras e omissões
>>Bolivianos hostilizados

Temporada de mentiras e omissões


Neste mês de junho haverá um duelo de propagandas políticas. De um lado, inserções de horário obrigatório do PSDB e do PFL com as quais o candidato Geraldo Alckmin conta para reduzir a distância que o separa do candidato Luiz Inácio Lula da Silva. De outro, o candidato presidente Lula vai deitar e rolar em inaugurações de obras.


Bem faria a imprensa se avaliasse sistematicamente a lisura dessa competição. Quanta mentira é dita nos comerciais de propaganda política e quanta mentira é dita nos atos oficiais. E, principalmente, é preciso trazer à luz tudo aquilo que é omitido nos discursos partidários.


Irmãos cara-de-pau


A Veja fez uma reportagem objetiva sobre o grande esquema de abafa que governo e oposição montaram no Congresso. O historiador Boris Fausto opina que os cidadãos se sentem impotentes diante da impunidade. A IstoÉ destaca, no Congresso, seis “irmãos cara-de-pau” engavetadores de denúncias, a saber: Delcídio Amaral, Renan Calheiros, Robson Tuma, Ideli Salvatti, Ciro Nogueira e Osmar Serraglio.


A seqüência lógica é que, como noticia a Folha de S. Paulo desta segunda-feira, 5 de junho, os mensaleiros mantêm poder na Câmara.


PCC já esquecido


Se depender das revistas semanais brasileiras, já terminou a crise provocada quinze dias atrás em São Paulo pelo Primeiro Comando da Capital. Nenhuma delas dá uma palavra sequer sobre o assunto. E segue a rotina de bandidos e policiais. Até a próxima explosão de violência.


No Estadão de sábado (3/6), o repórter Bruno Paes Manso mostrou que houve uma concentração de ataques do PCC contra policiais em locais onde ocorreu um combate mais cerrado à venda de drogas.


Encarcerados chiques


Quanto mais aparecem escândalos antigos ou recentes do Banco Santos e da butique Daslu, mais a mídia passa atestado de que comeu mosca. A Veja juntou os dois agora anti-heróis Edemar Cid Ferreira e Antonio Carlos Piva de Albuquerque, hóspedes de uma cadeia de Guarulhos, Grande São Paulo, numa reportagem sobre trambiques atribuídos às empresas de que eram dono e sócio, respectivamente. Se tivesse consultado seus próprios arquivos, encontraria, não faz muito tempo, mais deslumbramento do que reprovação. Como em toda a mídia.


Manada futebolística


Não existe nada comparável a Copa do Mundo para atestar o espírito de manada no jornalismo. Os editores caem na armadilha de acreditar que fazem veículos “completos”. Nesta semana, a Carta Capital prefere mostrar o jornalista Juca Kfouri como sucessor de João Saldanha na luta pela moralização do futebol brasileiro.


Pequena ajuda da Petrobrás


Outra epidemia que se alastra pelas páginas das revistas é propaganda da Petrobrás. A IstoÉ já está no sétimo capítulo de uma história da estatal. A Época vem com um encarte de 24 páginas e promete mais na semana que vem.



Bolivianos hostilizados


Quando soam tambores belicosos já se sabe quem paga o pato. O povo. A jornalista boliviana Reyna Lafuente é editora do jornal Alianza News, que tira 2 mil exemplares semanais destinados à colônia de seu país em São Paulo. Ela fala de um assunto que a imprensa brasileira ignorou durante a crise do gás boliviano: o tratamento dado pela Polícia Federal a seus compatriotas se tornou menos gentil.


Reyna:


– Somos tantos bolivianos aqui no Brasil, especificamente em São Paulo, somos 300 mil, ignorados pela mídia. E o fato claro foi na época, faz pouco, em que o governo boliviano fez a nacionalização, nós bolivianos aqui fomos um pouco afetados. A imprensa foi bastante dura, foram muito duros, ignorando que temos muitos bolivianos aqui trabalhando. E percebemos também a hostilidade não do povo brasileiro, senão um pouco uma hostilidade, um jeito de nos tratar, uma maneira menos amável da Polícia Federal, por exemplo. Porque nessa mesma época, e até agora, estamos fazendo os trâmites da documentação, pelos acordos migratórios entre os dois países. Muitos bolivianos continuam fazendo essa documentação. Correspondentes de meios de comunicação lá da Bolívia falaram que estão se sentindo maltratados pela Polícia Federal. Infelizmente esse fato não foi publicado, e nós também não quisemos fazer muita queixa.


Mauro:


– A dona da butique Daslu, Eliana Tranchesi, fez em entrevista à Folha, no sábado, uma alusão agressiva à colônia boliviana que o jornal publicou sem criticar, como se fosse algo natural.


Peru sem militarismo


A cada eleição na América do Sul amplia-se a cobertura dos jornais brasileiros, o que é um bom caminho. O Valor destaca a declaração do vitorioso Alan García segundo a qual barrou, ao ganhar a eleição no Peru, um avanço do militarismo na América do Sul.


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