Terra de pistoleiros
Todos os grandes jornais destacam hoje em manchete a decisão dos jurados no segundo julgamento dos acusados de matar a missionária Dorothy Stang.
O fazendeiro Vitalmino Bastos de Moura, condenado anteriormente a trinta anos de prisão como mandante do crime, foi ontem absolvido.
A promotoria vai recorrer, mas a decisão povocou tensão na região de Anapu, no Pará, onde a missionária atuou por duas décadas.
Mais do que isso, a notícia teve repercussão na imprensa internacional, que desde o assassinato de Chico Mendes, há vinte anos, tem dado atenção aos conflitos na Amazônia.
Dorothy Stang ajudava a organizar os colonos assentados num Projeto de Desenvolvimento Sustentável que vive ameaçado por grileiros e fazendeiros instalados na região.
O fazendeiro Vitalmino foi apontado pela polícia como mandante do assassinato, que foi executado pelo pistoleiro Rayfran das Neves Sales.
Num primeiro julgamento, o pistoleiro confessou ter matado a missionária a mando de Vitalmino.
Ele foi condenado a 27 anos de prisão e o fazendeiro a trinta anos.
Como a lei assegura que os condenados a mais de vinte anos têm direito a novo julgamento, compôs-se novo júri, que aumentou em um ano a pena do pistoleiro e absolveu o fazendeiro por falta de provas.
Um fato importante, no caso Dorothy Stang, e que não está destacado nos jornais de hoje, é que o júri rejeitou a tese de crime encomendado, considerando que o ato foi praticado isoladamente por Rayfran.
A realidade na Amazônia é a dos crimes sob encomenda, que mantêm alta a tensão em toda a região.
A imprensa regional nunca atacou esse problema e a imprensa nacional só se mobiliza nos casos de grande repercussão, como as mortes de Chico Mendes e de Dorothy Stang.
A liberdade com que pistoleiros e mandantes se movimentam na região torna o júri popular uma verdadeira ficção.
No caso da missionária, até o promotor e sua família vinham sendo ameaçados de morte.
Pode-se imaginar a pressão exercida sobre os jurados durante todo o processo.
Citado pela Folha de S.Paulo, o bispo da diocese da Ilha de Marajo, no Pará, diz que há no Estado 300 pessoas marcadas para morrer por terem denunciado casos de tráfico de seres humanos e exporação sexual de crianças e adolescentes.
Dorothy Stang tinha 76 anos quando foi morta a tiros, em 12 de fevereiro de 2005.
A imprensa dos grandes centros do País não deveria deixar que o caso caia no esquecimento.
Colocar a Justiça para funcionar na região amazônica é uma das maneiras mais eficientes de lutar pela soberania nacional na região, tema que tanto gosto faz para os jornais de São Paulo e do Rio.
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