Wednesday, 27 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

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Terra de pistoleiros

Todos os grandes jornais destacam hoje em manchete a decisão dos jurados no segundo julgamento dos acusados de matar a missionária Dorothy Stang.

O fazendeiro Vitalmino Bastos de Moura, condenado anteriormente a trinta anos de prisão como mandante do crime, foi ontem absolvido.

A promotoria vai recorrer, mas a decisão povocou tensão na região de Anapu, no Pará, onde a missionária atuou por duas décadas.

Mais do que isso, a notícia teve repercussão na imprensa internacional, que desde o assassinato de Chico Mendes, há vinte anos, tem dado atenção aos conflitos na Amazônia.

Dorothy Stang ajudava a organizar os colonos assentados num Projeto de Desenvolvimento Sustentável que vive ameaçado por grileiros e fazendeiros instalados na região.

O fazendeiro Vitalmino foi apontado pela polícia como mandante do assassinato, que foi executado pelo pistoleiro Rayfran das Neves Sales.

Num primeiro julgamento, o pistoleiro confessou ter matado a missionária a mando de Vitalmino.

Ele foi condenado a 27 anos de prisão e o fazendeiro a trinta anos.

Como a lei assegura que os condenados a mais de vinte anos têm direito a novo julgamento, compôs-se novo júri, que aumentou em um ano a pena do pistoleiro e absolveu o fazendeiro por falta de provas.

Um fato importante, no caso Dorothy Stang, e que não está destacado nos jornais de hoje, é que o júri rejeitou a tese de crime encomendado, considerando que o ato foi praticado isoladamente por Rayfran.

A realidade na Amazônia é a dos crimes sob encomenda, que mantêm alta a tensão em toda a região.

A imprensa regional nunca atacou esse problema e a imprensa nacional só se mobiliza nos casos de grande repercussão, como as mortes de Chico Mendes e de Dorothy Stang.

A liberdade com que pistoleiros e mandantes se movimentam na região torna o júri popular uma verdadeira ficção.

No caso da missionária, até o promotor e sua família vinham sendo ameaçados de morte.

Pode-se imaginar a pressão exercida sobre os jurados durante todo o processo.

Citado pela Folha de S.Paulo, o bispo da diocese da Ilha de Marajo, no Pará, diz que há no Estado 300 pessoas marcadas para morrer por terem denunciado casos de tráfico de seres humanos e exporação sexual de crianças e adolescentes.

Dorothy Stang tinha 76 anos quando foi morta a tiros, em 12 de fevereiro de 2005.

A imprensa dos grandes centros do País não deveria deixar que o caso caia no esquecimento.

Colocar a Justiça para funcionar na região amazônica é uma das maneiras mais eficientes de lutar pela soberania nacional na região, tema que tanto gosto faz para os jornais de São Paulo e do Rio.

Dez anos de Observatório

O Observatório da Imprensa comemora dez anos de contribuição para o debate sobre a imprensa no Brasil.

Além do seu primeiro decênio, o OI celebra em 2008 três datas especiais: o bicentenário da criação da Imprensa Régia, em 13 de maio, o nascimento do Correio Braziliense, em junho, e a criação da Gazeta do rio de janeiro, em setembro.

O Observatório nasceu na televisão em 5 de maio de 1998, mas já existia na Internet dois anos antes, em 1996.

O OI nasceu do Labjor, Laboratorio de Estudos Avançados de Jornalismo, na Unicamp.

Foi incubado na univerdidade mas foi criado para ser um instrumento de observação social e acompanhamento crítico da imprensa.

E é esse o papel que vem cumprindo desde então.

Com a participação de milhares de leitores de jornais e revistas, além de telespectadores e ativos usuários da internet, o Observatório da Imprensa faz a conexão entre as demandas e o direito do público com relação à informação de qualidade.

O direito à informação é um dos pilares da democracia, e a observação organizada e crítica dos meios de comunicação é uma forma de manter o público atento ao cumprimento desse direito.

Diariamente no rádio e na Internet, e todas as terças na televisão, o cidadão tem a oportunidade de acompanhar o desempenho dos nossos principais veículos de imprensa e o estado das políticas públicas do setor.

O ‘Observatório da Imprensa’ muda de horário na TV Cultura. A partir desta semana, passa a ser transmitido à meia-noite e dez minutos. Pela TV Brasil, continua sendo transmitido ao vivo, às 22h40.