Thursday, 28 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

>>Todos se lixando
>>Falta representatividade

Todos se lixando

Ninguém confia nos partidos políticos. Nem mesmo os políticos.

Essa é a conclusão a que se pode chegar após a leitura cruzada do noticiário sobre as dificuldades para a realização de uma reforma política e as repercussões da declaração do deputado gaúcho Sérgio Moraes, aquele que está “se lixando” para a opinião pública.

Moraes, o boquirroto, passou a representar a desfaçatez com que alguns congressistas tratam aqueles que lhes confiaram o mandato.

Por outro lado, os impasses para a realização de uma reforma capaz de melhorar o nível do Congresso Nacional revelam que nem mesmo os parlamentares confiam no Parlamento.

Em entrevista publicada nesta terça-feira pelo Estado de S.Paulo, o senador Pedro Simon, do PMDB do Rio Grande do Sul, declara que faltam boas intenções no projeto de reforma política.

De certa maneira, ele repete o que os jornais já insinuam desde o início dos debates sobre o assundo: que o financiamento público de campanha não resolveria o problema das relações espúrias de congressistas com empresas doadoras nem ajudaria a fazer uma seleção mais criteriosa de candidatos.

Os partidos pegam as verbas do fundo partidário e distribuem para quem querem nas vésperas das eleições, afirmou.

O noticiário dos jornais parece dar razão a Pedro Simon.

Nenhum dos principais caciques da política tem entrado no debate, pois eles sabem que, do jeito que está, o poder segue seguro em suas mãos.

E, se mudar, e vier o financiamento público de campanha com listas fechadas de candidatos, seu poder ficará ainda maior, pois eles dirão quem poderá e quem não poderá ser candidato.

Seria uma forma de mudar para tudo continuar na mesma.

Ainda mais se for levado em conta que a maioria das empresas que fazem doações a políticos prefere camuflar a identidade dos destinatários do dinheiro.

Segundo a Folha de S.Paulo, em 2008, as empreiteiras, os bancos e empresas de coleta de lixo preferiram fazer doações ocultas, dirigidas oficialmente aos partidos, durante as campanhas municipais.

O dinheiro entra nas contas do partido, mas já chega com a destinação carimbada para o político que, depois de eleito, vai defender os interesses dos doadores.

É assim que funciona, e assim parece que vai continuar.

Falta representatividade

Afinal, parece que o deputado Sérgio Moraes tem razão: ninguém dá bola para a opinião pública.

O próprio deputado, que declarou estar se lixando para a imprensa e para a opinião pública, não teme ter barrada sua reeleição: ele é financiado pela indústria do tabaco e se elege numa cidade gaúcha de 110 mil habitantes.

Não está nem um pouco preocupado com a repercussão nacional de sua desfaçatez.

Uma reforma política para valer teria que determinar uma representatividade mais autência aos parlamentares, mas quem vai promover a mudança, se os encarregados são os principais beneficiários do sistema?

Todos os outros escândalos que envolvem a política nacional têm a mesma origem: os supostos representantes do povo são financiados por setores específicos para representar seus interesses.

Alberto Dines:

– A farra das passagens aéreas no Congresso é coisa antiga, as mordomias e privilégios estão incorporados à vida do Legislativo. A imprensa não olhava ou, se olhava, era complacente. Alguma coisa aconteceu quando José Sarney e Michel Temer foram escolhidos para presidir novamente o Senado e a Câmara.

E o que aconteceu não foi o Estalo do Vieira, mas outro tipo de estalo. Aqueles que perderam a disputa colocaram a boca no trombone, mas como o trombone é um instrumento democrático, todos passaram a servir-se dele – começaram as primeiras denúncias.

Logo a imprensa descobriu um site jornalístico chamado “Congresso em Foco” que não necessitava recorrer a vazamentos de grampos telefônicos, apenas fazia cruzamento de dados.

E com estes cruzamentos de dados apareceram os escândalos, nunca houve tantos como agora. Se a imprensa tivesse atuado há mais tempo a desmoralização do Legislativo seria tão grande?

Assista ao “Observatório da Imprensa” e você entenderá algo que a imprensa não está explicando. Hoje às 22:40 pela TV-Brasil, ao vivo em rede nacional. E, São Paulo pelo Canal 4 da Net e 181 da TVA.