Três alvos para a cobertura
Em meio ao tiroteio, a mídia não deve perder de vista algumas vertentes estratégicas de cobertura jornalística. Primeiro, se haverá ou não resposta nas ruas à retórica agressiva do presidente Lula. Manifestações de rua não precisam esperar a próxima campanha eleitoral. Por sinal, já estão pipocando. Segundo, cobrar eficácia das CPIs, da Polícia Federal e do Ministério Público. Já se começa a perder tempo com rodeios, embora não parem de surgir novas revelações. Mas existem fatos já caracterizados que suscitam punição. Terceiro, como pediu o senador Pedro Simon, não deixar de fora os corruptores. E não se trata apenas de empresas estatais e fundos de pensão. A corrupção privada é braba.
Ratinho
O Estado de S. Paulo desta quinta-feira, 4 de agosto, noticia que o apresentador Ratinho recebeu dois milhões e cem mil reais para entrevistar o presidente Lula. Ratinho e Ricardo Kotscho, à época secretário de imprensa da Presidência, negam que tenha havido pagamento.
Na Bahia
Como é vivida fora do circuito Brasília-São Paulo-Rio a crise do ‘mensalão’?
Na Bahia, relata Adilson Borges, editor de política do jornal A Tarde, a percepção é de frustração generalizada por parte de um eleitorado que acreditou no sonho, na utopia. Salvador foi a capital em que Lula teve a maior votação proporcional para presidente em 2002. Isso faz também com que muita gente, segundo Adilson Borges, continue acreditando que o presidente está fora da confusão, preservado.
Área de turbulência
O Alberto Dines diz que o presidente Lula fez a mais grave ameaça à imprensa desde a redemocratização.
Dines:
− Mauro, aperte o cinto, vamos entrar numa área de turbulência. O discurso do presidente Lula ontem em Garanhuns acusando a imprensa de denunciar inocentes não foi apenas um protesto irritado. Foi uma ameaça clara e inequívoca. A mais violenta ameaça que um presidente já fez à imprensa desde a redemocratização. É grave. É grave, sobretudo porque a reclamação é injusta.
Se a imprensa está errada, por que razão Sua Excia. demitiu seu braço direito, José Dirceu? Se a imprensa está errada, então por que o PT derrubou sua direção nacional? Se a imprensa está errada, por que razão o próprio José Dirceu declarou terça na CPI que uma tragédia se abateu sobre o partido? Se a imprensa está errada, o PT não precisa ser refundado, como propõe seu novo presidente, Tarso Genro.
O presidente começou o mês do desgosto entrando no perigoso terreno das provocações. Tirou a roupa de estadista que até lhe ficava muito bem e envergou um mal ajambrado uniforme de guerrilheiro, com certeza emprestado pelo companheiro Hugo Chávez, da Venezuela. A imprensa, é certo, cometeu alguns pecados nesta temporada de escândalos. Nenhum deles se compara aos pecados cometidos pelo governo e pelo partido do governo.
Dois enfoques em jornais da Globo
Ontem, o Jornal Nacional abriu com uma referência aos ataques do presidente à imprensa. No Jornal da Globo, falou-se apenas em críticas à oposição. Foi entrevistado o ministro Jacques Wagner, que negou a ligação do presidente com o caso da Portugal Telecom. Houve perguntas sobre a maratona de discursos, mas nada a respeito dos ataques à mídia.
Adeus, elegância
Ontem o blog de Ricardo Noblat foi para a arquibancada. Ou para a geral. Com o seguinte período, inserido pouco antes de meio-dia: “Essa Simone Vasconcelos, vestida de preto como se estivesse de luto, é antipática, arrogante, tem queixo pronunciado e pinta o cabelo. Pinta mal o cabelo”.
Telesur sem Lula
A política externa do governo, que era apresentada pelo presidente Lula como um trunfo, sofreu derrotas nos últimos tempos. E no final de julho, iniciou suas transmissões a Telesur, financiada principalmente pelo governo da Venezuela. Na página inicial do site da emissora aparecem os presidentes Hugo Chávez, Néstor Kirchner e Tabaré Vazquez, o comandante geral de Cuba, Fidel Castro, e uma imagem de Simon Bolívar. Nessa festa, o presidente Lula foi barrado.
Resta saber como a crise do “mensalão” está sendo coberta pela Telesur, o que não é possível via Internet.