Um desafio para o Brasil
A miséria invadiu os jornais. Não, não estamos assistindo por aqui uma reprodução das revoltas dos países árabes. A miséria ocupa grandes espaços nos diários desta quarta-feira, dia 4, por conta de duas notícias.
A primeira, originada no Palácio do Planalto, dá conta de que o governo da presidente Dilma Rousseff definiu como alvos do plano de erradicação da pobreza extrema – núcleo de suas promessas eleitorais – os brasileiros que têm renda mensal de até R$ 70 por pessoa da família.
A outra notícia, produzida por um estudo da Fundação Getulio Vargas, revela que o porcentual de pobres no Brasil caiu 50,64% entre dezembro de 2002 e dezembro de 2010, período em que o país foi governado por Lula da Silva.
A primeira notícia se refere a uma radiografia realizada pelo governo em cima do censo feito em 2010 pelo IBGE, que aponta a existência de 16,3 milhões de brasileiros, ou 8,5% da população, vivendo na miséria.
Há, em alguns jornais, um saudável debate sobre o critério adotado para definir a pobreza extrema, mas o mais relevante é o fato de que a base para os projetos sociais a serem implantados não foi considerada irrealista nem concessiva demais pelos especialistas consultados.
De modo geral, a imprensa considera positiva a definição de um patamar de miséria a ser eliminado do contexto social brasileiro, e concorda em que os projetos específicos para combatê-la devem ser extintos quando os objetivos forem atingidos.
Um dos dados mais chocantes apresentados no estudo sobre a miséria que o Brasil precisa extinguir se refere ao analfabetismo absoluto, dos cidadãos com mais de 15 anos de idade que não sabem ler nem escrever.
Entre os extremamente pobres, esse indicador chega a 22% nas cidades e 30,3% na zona rural, o que aponta a educação como uma conquista intimamente ligada à ascensão social.
O retrato reproduzido pelos jornais não deve orgulhar os brasileiros. Como lembra um dos entrevistados, quase um entre dez brasileiros vive por milagre.
Por outro lado, a dissecação da pobreza extrema permite a construção de projetos eficientes para eliminar essa vergonha do nosso território.
Mais e melhor educação
Não é de se esperar que a imprensa volte a se opor ao uso de verbas públicas, ou de receitas como as da exploração de reservas do pré-sal, para atacar diretamente a miséria.
Mesmo porque, na outra notícia que transporta a pobreza para dentro dos jornais de circulação nacional está registrado o sucesso das políticas sociais de transferência direta de renda aplicadas no governo anterior.
Até os mais resistentes entre os que se opuseram aos programas sociais do tipo Bolsa-Família concordam hoje que tais projetos produziram resultados surpreendentes.
Com toda a miséria que ainda envergonha os brasileiros, o estudo conduzido pelo economista Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas, revela que o Brasil conseguiu superar, em menos de uma década, uma desigualdade social que havia se agravado nos 50 anos anteriores.
O porcentual de pobres caiu 50,64% no governo Lula, contra uma queda de 31,9% no período em que o Brasil foi governado por Fernando Henrique Cardoso, incluido o período de implantação do Plano Real.
Claro que essa constatação vai produzir muito barulho entre correligionários de um lado e de outro, mas há, no estudo da FGV, indicadores que mostram grandes diferenças entre o governo que estabilizou a moeda e o governo que distribuiu dinheiro e oportunidades de estudo para os mais pobres.
Segundo os jornais, nos últimos dez anos a renda dos 50% mais pobres cresceu 67,93%, enquanto entre os 10% mais ricos aumentou 10%.
O autor do estudo considera que, se o período de FHC foi a década da estabilização, o período Lula deve ser considerado como a década da redução da desigualdade.
Mas o dado mais interessante se refere à educação, outra vez apontada como fator de desenvolvimento.
Paralelamente ao crescimento da renda dos mais pobres, foi constatado que, nos últimos dez anos, a escolaridade aumentou 8,1% entre os 20% mais ricos, enquanto entre os 20% mais pobres subiu 55,6%.
Nenhuma dúvida sobre os caminhos que o Brasil deve escolher para o desenvolvimento.
Todos eles passam pela educação de qualidade para todos.