Um desastre amazônico
O aumento da derrubada de matas na Amazônia é a manchete em todos os principais jornais do País.
Levantamento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, divulgado ontem à tarde, revela que foram destruídos 3.233 quilômetros quadrados de florestas no período de agosto a dezembro do ano passado.
Como o monitoramento em tempo real, implantado há quatro anos, alcança apenas 40% da área de risco, o governo admite que o estrago pode ter chegado a 7 mil quilômetros quadrados.
A notícia acabou com a festa do Ministério do Meio ambiente, que celebrava o terceiro ano consecutivo de redução no desmatamento.
Os jornais são unânimes em informar que os vilões da Amazônia são o gado e a soja.
As chamadas commodities têm alcançado preços elevados no mercado internacional, o que estimula a expansão das áreas de agricultura, principalmente nos Estados de Mato Grosso e Rondônia.
O jornal O Estado de S.Paulo observa que, no Pará, o corte de árvores também pode estar relacionado ao fornecimento de lenha para as siderúrgicas de ferro-gusa.
O Globo lembra que, em ano de eleições municipais, fica muito mais difícil efetivar a fiscalização nos 150 municípios onde se concentra a devastação.
O que os jornais não costumam fazer é questionar diretamente os políticos que se beneficiam da destruição.
Mesmo com as evidências de que o avanço das lavouras de soja e pastagens é a causa mais provável do ataque à floresta, os deputados da bancada ruralista no Congresso não foram incomodados ontem por repórteres.
Apontado como um dos líderes no processo de transformação da floresta em plantações de soja, o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, que possui fazendas na área onde ocorre a maior devastação, também não foi questionado.
Os números do crescimento econômico estão quase todos os dias nas páginas dos jornais.
A destruição da Amazônia só ganha espaço depois do fato consumado.
E não se lê uma palavra sobre a falta de sustentabilidade do modelo de desenvolvimento adotado pelo Brasil.
Briga de comadres
O governador do Paraná, Roberto Requião, é um personagem polêmico.
Ele vem sendo acusado de utilizar a Rádio e Televisão Educativa do Estado para atacar adversários.
Foi proibido pela Justiça de continuar usando a TV estatal para seus embates políticos.
Requião reagiu imitando O Estado de S.Paulo durante o período da ditadura militar, quando o jornal paulista publicou receita de bolo e trecho de Os Lusíadas no lugar de textos censurados.
O governador do Paraná foi à TV e leu uma receita de ovo frito.
Alberto Dines:
– Não é a primeira vez que o governador Roberto Requião, do Paraná, mete-se numa briga. Seu histórico de confrontos é imbatível, supera em muito o do falecido ACM, denunciado pelos inimigos como Toninho Malvadeza e aclamado pelos acólitos como Toninho Ternura. Requião, ao contrário, é uma unanimidade, rei do arranca-rabo e do bate-boca. O seu confronto com o judiciário e agora com o Ministério Público são em si reveladores de uma personalidade autoritária e totalitária. Mas o que interessa de fato nesta nova pendenga de Requião é o uso que vem fazendo da TV Educativa do Paraná desde que assumiu, há seis anos. Ele a converteu em instrumento de uso privado, esqueceu que a emissora é um bem público, a serviço da coletividade. A questão não se restringe ao programa semanal ‘Escola de Governo’ que Requião, segundo seus detratores, usa a seu bel prazer. No momento em que se tenta criar no país uma rede de TV a serviço do cidadão e do interesse público, aparece um governador trabalhando na direção contrária – ele é o Estado, o Estado é dele, portanto a TV do Estado é sua. Há muito que a TV-E do Paraná só exibe programas aprovados pelo governador, que interessam ao governador. Não está afiliada à TV-Brasil nem à Rede Cultura. O problema da censura está mal colocado: quem censura a TV Educativa do Paraná é o governador do Paraná. O resto é briga de comadres.