Um novo rumo
Garotinho continua candidato. Ontem foi lançado Roberto Freire, do PPS. O desconhecido Roberto Mangabeira Unger também quer concorrer. Anuncia-se nos jornais desta sexta-feira, 8 de julho, que o presidente Lula poderia dar mais força a Ciro Gomes na reforma ministerial. Ciro é presidenciável.
Mas não dá para esperar as eleições.
A mídia, que tratou com irresponsável naturalidade o processo de submissão do PT à lógica do poder pelo poder, sem programa, deve agora servir de canal para que tenham voz lideranças nacionais capazes de conduzir os acontecimentos para outra direção.
A saturação intoxica
O processo de inquirições e confrontos das CPIs vai cansar. No primeiro momento há uma curiosidade quase circense.
Depois vem uma exaustiva repetição.
No segundo momento virão prisões, a cargo da Polícia Federal, sabe-se lá com que grau de espalhafato.
Mais adiante, as cassações de mandatos não evitarão a saturação midiática.
Fatos como o momento dramático vivido ontem pela humanidade na Inglaterra, com cobertura ampla na mídia brasileira, só reduzem às devidas proporções obscuros eventos em que pontificam Dirceus, Jeffersons, Genoínos e Valérios.
A saturação é perigosa. É vizinha da aceitação. Ricardo Boechat informa hoje no Jornal do Brasil que Roberto Jefferson, réu confesso, foi convidado pela OAB de Campina Grande para falar sobre… corrupção.
O barulho e o silêncio
A mídia faz tanto barulho e às vezes cala quando devia falar. O Alberto Dines conclama a corporação das empresas jornalísticas a defender a reputação da imprensa, abalada por revelações recentes.
Dines:
− Quando Marcos Valério começou a aparecer no noticiário com a qualificação de “publicitário” logo apareceram pessoas e entidades para explicar que o ramo dele era outro. Compreensível: as corporações não gostam de ser envolvidas pelas generalizações. O fato de Marcos Valério ser também dono de empresas de publicidade não significa que possa ser apresentado como publicitário. O mais certo seria chamá-lo de lobista ou apenas de empresário.
Acontece que nestes últimos dias a lama dos escândalos respingou na imprensa semanal e nenhum veículo, articulista ou entidade deu-se ao trabalho de manifestar-se a respeito. A própria repercussão do caso da Veja e da Editora Três foi de certa forma abrandada pelos jornais. Estavam envergonhados, com certeza. Mas a sociedade brasileira merece satisfações das entidades de mídia e, até o momento nenhuma delas deu-se ao trabalho de separar o joio do trigo e limpar a imagem institucional daquele que já foi chamado de Quarto Poder. Se demorarem muito, esta imagem pode ficar encardida.
Razão de viver
O jornal Valor publica hoje reportagem sobre o relançamento do livro de memórias de Samuel Wainer, Minha razão de viver. Wainer foi um grande jornalista. Em sua trajetória estão misturados o brilho e os bastidores opacos da mídia. Sua última grandeza foi prestar aos leitores o serviço de revelar muito do que sabia.
Armas de fogo
Haverá grande frustração popular caso seja aprovada em referendo a proibição da venda de armas de fogo e não sejam adotadas medidas capazes de reduzir a violência criminosa a um patamar controlável.
Essas medidas incluem a reforma das polícias e o aumento da oferta de emprego e lazer nos bairros mais pobres e populosos das grandes cidades.
A imprensa tem a responsabilidade de deixar isso bem claro.
A vizinha África
Uma das conseqüências dos sinistros atentados em Londres foi manter em segundo plano a discussão do G-8 sobre a ajuda à África.
Há muita polêmica em torno do assunto. A edição internacional online da revista alemã Der Spiegel publicou no início da semana entrevista com o economista queniano James Shikwati cujo título é “Pelo amor de Deus, por favor parem com a ajuda!”. Shikwati afirma que as verbas para o desenvolvimento alimentam uma poderosa burocracia e a corrupção generalizada.
A mídia brasileira comete um grande equívoco ao se ocupar pouco dos problemas africanos. A África é um continente vizinho. Culturalmente vizinho. E geograficamente vizinho.