Um retrato do Congresso
O Congresso Nacional segue sendo o tema predominante no noticiário político e as cartas dos leitores, publicadas em todos os jornais e revistas noticiosas, dão idéia do que pensa o cidadão comum das falcatruas que se sucedem no mundo parlamentar.
Mas a revista Época desta semana oferece uma contribuição relevante ao debate.
A publicação do Grupo Globo traz uma pesquisa inédita, realizada em parceria com o Instituto FSB e revela o que os próprios congressistas pensam do Congresso.
O resultado não é nada animador e o único ponto positivo que a reportagem encontrou na consulta é a sinceridade dos parlamentares: a maioria dos 247 consultados considera que o Congresso é um “poder sem força”, mergulhado na corrupção, pouco transparente, refém do Executivo, vulnerável a lobistas e incapaz de cumprir suas funções primordiais.
Se o ouvinte e leitor de jornais está tentado a questionar para que serve, afinal, o Congresso Nacional, saiba que muitos congressistas se fazem a mesma pergunta.
Mais de 60% dos consultados acham que a compreensão dos parlamentares sobre os principais temas em discussão no Congresso é apenas mediana, e apenas 22% acham que os congressistas entendem aquilo em que estão votando.
Por outro lado, quase 70% deles admitem que a corrupção tem presença marcante nas rotinas do Legislativo e pelo menos 86% consideram baixa ou muito baixa a possibilidade de qualquer cidadão ser eleito deputado ou senador sem o apoio de grupos econômicos, corporativos ou religiosos.
Ou seja, os próprios congressistas admitem que eles representam efetivamente grupos econômicos, corporativos ou religiosos e não a sociedade brasileira.
Nos quesitos como capacidade de fiscalização, capacidade legislativa, quer dizer, as condições para produzir leis claras e inteligíveis, a auto-avaliação dos congressistas também se revela muito baixa.
O desempenho e a transparência também deixam a desejar, mas os parlamentares não conseguem se entender quanto à necessidade de uma reforma política.
Como era de se esperar, eles analisam a questão de acordo com seus interesses corporativos.
Tudo muito distante do país que eles deveriam representar.
A imprensa hibernou
Alberto Dines:
“A gripe A espalha-se pela Argentina com 100 mil possíveis afetados” – foi esta a manchete no sábado da edição sul-americana do diário El País. Subtítulos: “A pandemia avança sem controle e soma 44 mortes”. Outro: “O governo [dos Kirchner] ocultou a realidade até o fim da eleição”.
Na mesma edição do jornal espanhol (p. 34), uma notícia sobre a reunião de emergência da OMS (Organização Mundial da Saúde), em Cancun, México, onde se informa que o hemisfério norte está acompanhando com enorme preocupação o que acontece no hemisfério sul, no caso representado pelo Chile e a Argentina. O ministro da Saúde da Argentina não compareceu, mandou um sub-sub, o vice-secretário. Mas a vice-ministra da Saúde do Chile foi categórica: “Preparem-se!” avisou.
Apesar da dramática situação sanitária argentina, nossa imprensa não reproduziu nenhuma das duas informações no fim de semana. O noticiário do fim de semana foi pequeno, sem destaque, como se a Argentina fosse um país distante, desligado territorialmente do Brasil. Os jornalistas de plantão esqueceram de que uma das duas vítimas fatais da gripe suína no Brasil foi um caminhoneiro gaúcho que esteve na Argentina.
Ignoram talvez que a extensa fronteira entre os dois países estende-se pelos três estados do Sul e que o transporte rodoviário e aéreo é muito intenso – sobretudo agora durante as férias escolares.
A OMS acompanhou a evolução da pandemia desde a sua origem mexicana com rara competência e a mídia internacional esteve sempre alerta. A irresponsabilidade do governo argentino só encontra paralelo na insensibilidade da mídia brasileira que esquece sua condição de serviço público e continua encarando a Argentina apenas como rival no futebol.