Uma dívida com os eleitores
Os moradores da maioria das grandes cidades brasileiras vão outra vez às urnas sem conhecer a visão de mundo e as idéias dos candidatos a prefeito.
Mais uma vez, a imprensa – com raríssimas exceções – fez uma ampla cobertura sobre o varejo da campanha e deixou de apresentar ao eleitor o que interessa: que políticas se pode esperar de quem for escolhido.
E perde-se nova oportunidade para incluir a população na discussão sobre seu próprios problemas.
Claro que os episódios menos edificantes não podem ser debitados aos jornais. Eles apenas reproduzem aquilo que lhes chega dos candidatos.
E é exatamente esse o problema: a imprensa espera passivamente que os políticos e seus marqueteiros encham sua cesta diária de notícias.
Dessa forma, nem mesmo os jornalistas têm a oportunidade de conhecer a fundo suas cidades, para julgar melhor os planos de governo de cada candidato.
Alguns jornais apresentaram estatísticas disso e daquilo, outros entrevistaram especialistas, mas nenhum deles penetrou profundamente nos problemas que esperam os futuros prefeitos.
A exceção mais notável ainda é o Globo, que fez uma série de reportagens sobre a ação de traficantes e milicianos em favelas do Rio, impedindo a livre circulação de candidatos e tentando impor aos eleitores os nomes de sua conveniência.
As reportagens do Globo tiveram o poder de despertar as autoridades, e a presença de tropas do Exército ajudou a melhorar o padrão democrático da eleição no Rio.
Mas em termos de informação sobre o que esperar das escolhas que serão feitas neste domingo, a imprensa em geral ainda fica muito a dever.
A população perde com a falta dos debates diários sobre os temas que realmente lhe interessam.
E a imprensa também perde, no longo prazo, porque em algum momento os cidadãos começa a perceber que ela vai deixando de ser relevante para a formação das opiniões sobre questões importantes.
No fim, perde toda a sociedade, pois uma imprensa qualificada e atuante é uma das garantias da democracia.
Árvores abaixo
Longe, bem longe das grandes cidades, o Brasil acumula uma dívida com o futuro da humanidade.
Segundo a Folha de S.Paulo, a nova versão do projeto elaborado para conter os crimes ambientais sofreu alterações que comprometem sua severidade.
Com o novo texto, os autores de crimes ambientais ganham um prazo maior – um ano acidional – para recuperar áreas degradadas e ainda terão uma multa de valor inferior ao que era proposto no projeto original.
No decreto original, assinado pelo presidente da República em julho, a multa para quem abater árvores sem plano de manejo previamente aprovado, era de 5 mil reais por hectare ou fração de terreno.
Com a mudança, esse valor cai para mil reais.
As mudanças ocorreram sob pressão do ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, e seguiu para o Palácio do Planalto com aprovação do ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc.
Mas o que parece resultado de um processo democrático de negociação está escondendo a incapacidade do governo de fazer frente aos lobbies dos exploradores da floresta.
Os dados sobre o desmatamento da Amazônia, que tanto desgaste trazem para o Brasil nas relações internacionais, indicam que apenas um tipo de estratégia pode funcionar para salvar a floresta: convencer os agentes econômicos de que as árvores são mais valiosas em pé do que deitadas.
Esse convencimento se faz por meio de planos econômicos que estimulem atividades não predatórias, mas, ao mesmo tempo, é preciso haver instrumentos punitivos para quem insistir em destruir o patrimônio ambiental.
Recentemente, algumas das principais redes de supermercados e grandes frigoríficos assinaram um pacto para evitar comprar carne bovina originária de terras onde se cometem crimes ambientais.
O cidadão também pode fazer sua parte.
De cada três quilos de carne consumida nas grandes cidades do
Sudeste, um quilo vem da Amazônia.
Se cada pessoa exigir do comerciante que evite vender carne de gado criado na Amazônia, alguma coisa vai mudar.