Vícios de campanha
A campanha já começou e o presidente Lula entra nela em boas condições. Em primeiríssimo lugar, porque está no poder. Em segundo lugar, porque a oposição não pôde ou não quis que as denúncias de 2005 o atingissem diretamente.
Em princípio, o equilíbrio de forças criaria espaço para uma discussão de Estado e não de governo, ou seja, em torno dos problemas reconhecidos como permanentes na sociedade brasileira. Mas a mídia inevitavelmente cederá à tentação de se deixar levar por arapongas e assemelhados. E boa parte da discussão se dará em torno de questões menores.
Entranhas expostas
Duda Mendonça se diz vítima em ano eleitoral, mas sua suposta participação nos escândalos de corrupção veio à tona no ano ímpar de 2005.
Dez entre dez jornalistas sérios dizem que a lista de Furnas provavelmente é uma falsificação, mas ninguém poria a mão no fogo pelos dinheiros do PSDB, do PFL, do PMDB, do PL, do PP, do PTB, do PDT e de outros partidos em campanhas eleitorais.
A chegada da lista à mídia deu alento aos petistas, porque nela não figura nenhum nome do partido. O episódio tem a vantagem nada desprezível de validar um provérbio ugandense citado pelo falecido Raimundo Magalhães Júnior: “O macaco que vai atrás ri do rabo do macaco que vai na frente”.
E vai sair uma biografia não-autorizada de Marcos Valério. Promete revelações cabeludas. A notícia está hoje na coluna de Mônica Bergamo, na Folha de S. Paulo.
Se tudo isso servir para expor à opinião pública mecanismos escusos de financiamento de campanha, terá valido a pena.
Transparência na TV digital
O Alberto Dines pede mais transparência nas informações sobre a escolha do padrão da tv digital brasileira.
Dines:
– Segundo o ministro das Comunicações, Hélio Costa, o governo tem condições, a partir de hoje, de escolher o padrão da futura TV digital brasileira. A acreditar no Jornal Nacional de terça-feira, o governo deve selecionar o padrão japonês mostrado como o ideal. Mas não se exclui a hipótese de que aceite uma versão modificada do padrão europeu. Tudo indica que os americanos estão fora da competição. Mas pode ser que a exposição do ministro favorecendo os japoneses tenha sido um truque para obter mais vantagens dos europeus ou barganhar com os próprios americanos.
Uma coisa ficou clara: não é assim que se discute, negocia e divulga uma questão de tamanha importância econômica e estratégica. Como as empresas de mídia têm os seus próprios interesses, não deveria caber a elas a divulgação do parecer preliminar do ministro das Comunicações. Aliás, parecer preliminar não significa coisa alguma. É apenas uma forma de pressão. O governo pretendia fazer a escolha de forma transparente. Mas acabou escolhendo uma transparência mais para o opaco.
Telefone popular
Ontem a novidade veio da área da telefonia. O presidente da Anatel, Plínio de Aguiar Júnior, partilhou críticas do ministro Hélio Costa ao esquema chamado Aice – Acesso Individual Classe Especial – aprovado pela própria Anatel. Hélio Costa recomendou à população que não aceite esse plano e prometeu um novo, melhor.
Os japoneses fizeram ontem a defesa de seu modelo de TV digital. Na semana que vem serão os americanos. O ministro Costa continua a apoiar o modelo japonês.
A matriz e os clones
O Jornal Nacional sairá vitorioso da competição com seus clones, porque tem uma estrutura infinitamente superior de reportagem. Mas no primeiro momento, como sempre que alguma coisa imprevista acontece com a Globo, a tendência é correr atrás da lebre. Como nota hoje Daniel Castro na Folha, o Jornal Nacional desta semana abriu a guarda para reportagens sensacionalistas.
Quando os planos eram secretos
O jornal Valor se antecipa nesta sexta-feira, 3 de fevereiro, e lança um caderno dedicado aos vinte anos do Plano Cruzado, anunciado em 28 de fevereiro de 1986. Carlos Alberto Sardenberg, que era na época coordenador de Comunicação Social do Ministério do Planejamento (o ministro era João Sayad), revela que os mentores do plano criaram um artifício para afastar do Brasil o jornalista Celso Pinto, que há dois anos se aproximava do furo. Conclusão de Sardenberg: ainda se acreditava que planos secretos pudessem funcionar.