Violência gera terror
Os títulos mais exatos hoje são do Diário de S. Paulo e do Dia, jornal carioca: Terror pára São Paulo. O JB resumiu tudo numa palavra: Terror. Foi o que aconteceu. O Globo juntou crime e medo. Terror tem, por definição, um componente subjetivo, mas é preciso cuidado para não tentar esconder a força da organização criminosa e a fraqueza da segurança pública atrás do boato e do pânico. Folha e Estado ficam na fronteira.
Crime conserva a iniciativa
O Estadão acerta na primeira linha do título: PCC suspende rebeliões. A Folha põe essa informação abaixo da dobra. Gazeta Mercantil e Valor finalmente acordam e dão a crise em manchete.
Globo acossada pelo ibope
Houve algum sensacionalismo no rádio e na televisão. A Globo ficou um pouco tonta depois que a Record deu um banho no sábado e, na manhã de ontem, passou a falar só da crise. A lógica do ibope leva a um certo açodamento, cria o risco do sensacionalismo. Ontem de manhã a Globo foi a primeira emissora a dar a notícia do boato de bomba no aeroporto de Congonhas. Subitamente, o assunto desapareceu.
Problema alheio
Como noticia hoje o Globo, enquanto os jornais do Rio e de Belo Horizonte dão espaço aos problemas da criminalidade nessas cidades, e assim aprendem a lidar melhor com eles, em São Paulo é proporcionalmente o espaço dedicado à criminalidade… fora de São Paulo.
Impostura jornalística
Alberto Dines anuncia que uma reportagem rocambolesca da Veja será o foco do programa de televisão do Observatório da Imprensa, hoje à noite.
Dines:
– A oposição não soube compreender na semana passada que os atos inamistosos do governo boliviano não eram contra o governo, mas contra o Brasil. Por isso, ao invés de solidariedade, ofereceu críticas. Errou. O governador de São Paulo não soube entender que a presença no estado da Força Nacional de Segurança Pública daria tranqüilidade à população, preferiu aferrar-se à disputa eleitoral e recusou a presença da tropa federal. Errou, e errou feio. Este é um momento de união contra os adversários externos e contra aos inimigos internos, os narcoterroristas.
A impostura jornalística praticada na ultima edição de Veja segue a mesma lógica da irracionalidade e do vale-tudo. Mas a imprensa não pode aderir à insanidade da disputa eleitoral, a imprensa é uma reserva moral, fiel da balança. O furioso engajamento de um veículo do porte de Veja, oferecendo denúncias sem qualquer comprovação só ajuda a instabilidade, só acrescenta dificuldades num momento especialmente difícil. E difícil para todos. Esta matéria de Veja será o tema da edição de hoje do Observatório da Imprensa. Na TV-Cultura às onze e na TV-E, antes, às dez e meia da noite.
Atenção, fronteira
A mídia brasileira não poderá dizer que não houve aviso: cresce a tensão diplomática entre Estados Unidos e Venezuela, país que tem com o Brasil uma fronteira de 2.199 quilômetros. Os jornais desta terça-feira, 16 de maio, noticiam a suspensão da venda de armas americanas para a Venezuela. Na Folha, o correspondente em Londres traça um retrato vívido do teatro do presidente Hugo Chávez e dos devaneios políticos do prefeito da capital inglesa, Ken Livingstone.
Raízes dos conflitos
A professora de Ciência Política Gabriela Nunes Ferreira, autora do livro recém-lançado O Rio da Prata e a Consolidação do Estado Imperial, acredita que o noticiário sobre relações internacionais do Brasil se valoriza com um maior conhecimento do passado histórico.
Gabriela:
– Eu acho importante recuar no tempo para perceber que muitos dos conflitos contemporâneos têm raízes históricas e estruturais muito profundas. Conhecer essas raízes pode ajudar a pensar de uma forma mais ampla nas relações entre os Estados, por exemplo, da América do Sul. No meu livro eu estudo a relação do Brasil com os vizinhos do Rio da Prata durante o século XIX. Esse é um período em que os vários países da região têm seus processos de formação de seus Estados nacionais muito imbricados entre si. E os projetos nacionais que afinal vingaram foram produto de lutas políticas, muitas vezes lutas sangrentas, envolvendo vários países da região. Essas lutas deixam marcas. Se você pegar, por exemplo, a rivalidade entre o Brasil e a Argentina, que recorrentemente aflora, essa rivalidade tem raízes profundas. O Uruguai nasce como país independente exatamente da rivalidade entre esses dois países. Isso que eu estou falando para a região do Rio da Prata vale também para os outros países da América do Sul, outros vizinhos do Brasil. Vale a pena conhecer as raízes das relações entre os Estados, as raízes das feridas que existem entre os Estados.
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