No Natal de 2013, a assessora de imprensa Justine Sacco, então com 30 anos, digitou 47 letras em seu celular, apertou “tuitar”, desligou o aparelho e embarcou em uma viagem de avião de Nova York para a África do Sul. Os destinatários eram seus 175 seguidores na rede social.
A frase: “Going to Africa. Hope I don’t get AIDS. Just kidding. I’m white!”(“Indo para a África. Espero que não pegue Aids. Brincadeirinha. Eu sou branca!”).
Onze horas depois, ao aterrissar, soube que seu post tinha se tornado viral e sido compartilhado por dezenas de milhares de pessoas. Fotógrafos já a esperavam no aeroporto. Desde então, perdeu o emprego e amigos, ganhou uma depressão e enquanto houver Google terá seu nome ligado a uma brincadeira racista.
A história está no livro “So You’ve Been Publicly Shamed” (“Então Você Foi Humilhado Publicamente”), lançado em março, em que o autor, Jon Ronson, conta este e outros casos de pessoas que tomaram decisões erradas e as viram ser amplificadas e sair de controle pela velocidade e o alcance da internet.
Ronson, mais conhecido pelos livros “O Teste do Psicopata” e “Os Homens que Encaravam Cabras” (que virou um filme divertido com George Clooney), argumenta que os deslizes cometidos pelos tais publicamente humilhados do título ganham uma reação desproporcional graças ao tribunal implacável e o comportamento de manada das redes sociais.
É verdade.
Mas quem erra em geral é gente que, colada 24 horas por dia em seus celulares, já não sabe mais discernir o privado do público, confunde o real e o virtual. Faz parte do grupo sobre o qual falou o escritor italiano Umberto Eco no discurso em que critica a internet, tema desta coluna no domingo passado.
Eco os chamou de “legião de imbecis”.