As redes sociais aproximaram o público daqueles que produzem a notícia. Duas décadas atrás, era quase impossível a interação entre os dois lados da informação. Aquele que quisesse enviar crítica ou sugestão a um veículo de comunicação era obrigado a utilizar fax ou telefone. Tanto que era comum haver funcionários específicos para receber ligações do público e anotar os recados.
Ao mesmo tempo em que a comunicação tornou-se instantânea, os ruídos dessa relação apareceram na mesma proporção. Jornalistas de vários segmentos mantêm perfis nas duas maiores redes sociais no Brasil, Twitter e Facebook. No caso específico, faço menção aos jornalistas esportivos. Estes são menos preparados que profissionais de outras editorias, como política e economia. Falo com conhecimento.
As brigas virtuais ocorrem, em parte, entre jornalistas esportivos e torcedores. Poucas vezes acompanhei “barraco” virtual entre profissionais de outras áreas com seus seguidores. Evidentemente que o público esportivo é, digamos, mais sujeito à irritação por envolver o futebol, esporte preferido dos brasileiros, onde se concentra a maior parte dos perfis nas redes. Não afirmo isso com base em pesquisa. Presumo que seja.
Tenho perfil no Twitter para tratar de futebol e um pouco de política, economia e amenidades. Mas, 80% das minhas postagens, interações e compartilhamentos de informações, são sobre futebol. Por esse motivo, já recebi “blocks” de algumas “personalidades” do jornalismo esportivo. Procuro manter o debate em bom nível. Mais do que ofensas e xingamentos, jornalistas detestam dialogar com alguém, digamos, “afiado”. Acredite. Cheguei a essa conclusão analisando os “blocks” que levei e também as mensagens de outros usuários do Twitter.
Consultas
Em 18 de maio, pedi que tuiteiros se manifestassem sobre bloqueios, citando nomes dos profissionais e motivos. Em menos de dois dias, recebi dezenas de informações. A maioria argumenta que o “block” se deu porque “personalidade” abordada não conseguiu responder, ou não admitiu receber determinado questionamento, ou crítica.
Jornalistas com perfis nas redes, em sua maioria, são extremamente arrogantes. Consideram-se professores quando não passam de profissionais passíveis de erros e de comentários infelizes e indesejados. Poucos admitem. Com raríssimas exceções, consideram-se incólumes, imunes à crítica e a questionamento.
Já fui bloqueado por alguns deles no Twitter: André Rizek, do SporTV; Mauro Cézar Pereira, Antero Greco e Leonardo Bertozzi, os três da ESPN; João Guilherme, do Fox; Sérgio Xavier, da Band News; e Xico Sá, ex-Folha. Não sigo muitos jornalistas esportivos por esta razão: intolerância em relação a pontos de vista divergentes.
De todos os blocks, lamentei os de Xico Sá. Fui bloqueado por ter dito que ele estava se tornando “chato” ao utilizar seus perfis para falar de política o dia todo. O bem-humorado cronista, com textos leves e soltos, estava dando lugar a um ser passional e intolerante, justo ele que prega respeito à democracia. No Facebook, ocorreu o mesmo. A política fez mal a ele.
Em dois dias, volto a destacar, recebi mensagens de 56 pessoas que se disseram bloqueadas. Mauro Cézar Pereira é o campeão em “blocks”, seguido de Flávio Gomes, do canal Fox. Também foram mencionados Fábio Sormani, do Fox; Juca Kfouri, da ESPN e Folha; Benjamin Back, do Fox; Tiago Leifert, da Globo; Mano, da FM 97; Rodrigo Rodrigues, da ESPN; Bruno Prado, da Jovem Pan; Sérgio Xavier, da Rádio Bandeirantes, entre outros menos citados.
Deixo claro que a consulta feita entre seguidores e seguidos é uma reunião de opiniões não sistematizadas, apuradas em universo restrito, sem caráter científico, baseando-se sobre levantamento realizado entre aqueles que atenderam a um pedido.
Arrogância
Torcedor do Santos, Danilo Correia disse ter sido impedido de seguir Mauro Cézar Pereira. “Os caras não admitem argumento contrário ao que eles pensam”, tuitou. Marcelo Leite elogia o comentarista: “Eu até acho o Mauro Cézar muito bem articulado. Conhece muito”, diz, com ressalva: “Mas sua arrogância é ímpar”. Felipe Garcez concorda: “Muita empáfia”. Rodrigo Bernardo lamenta que tenha levado “block” de Pereira: “Apenas porque corrigi, com educação, informação dada por ele”.
Já Luiz Fernando Miranda afirma que Flávio Gomes “é um dos maiores bloqueadores”. Carlos Souza, de Votorantim (SP), diz que os jornalistas nunca admitem opiniões diversas das deles. “Eles são incapazes de aceitar opiniões contrárias. São donos da verdade”.
Na mesma linha, opinaram o advogado Marcello Monteiro, o economista Fernando Dória, Gustavo Dias, Francisco Uceda, Ferdinand, Marcelo Guedes, GPS 47, Edgar, Caio Zani, Gui Mattoso, Paulinho, Thomaz Côrte Real, Edilson, Adair Vitor, C Carlinhos, Luís Pereira, Rodrigo Cafundó, Robson Fernando, Jackson Luiz Pinto, entre outros.
Outro lado
Procurei os dois campeões em bloqueios no Twitter, segundo consulta feita em minha timeline, para que dessem suas versões sobre essa relação tumultuada entre seguido e seguidor. Isso não significa – repito — que Mauro Cézar e Flávio Gomes liderem os blocks em todo o Twitter.
O comentarista da ESPN desistiu de receber as perguntas quando soube do que se tratava. O jornalista do canal Fox recebeu as questões, mas considerou o assunto de pouca relevância. No entanto, de maneira bem-humorada, afirmou: “Bloqueio malas, gente mal-educada, gente que fala mal da Portuguesa, dos meus carros e idiotas em geral. São muitos”.
Observa-se que, ao mesmo tempo em que as ferramentas de comunicação se modernizam ano após ano, aproximando produtores e consumidores da notícia, as relações humanas entre esses atores parecem ter tomado rumo contrário. Logo, o ciclo não se completa de maneira aceitável, aumentando os ruídos de uma já pouca convivência cordial e amistosa.
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Antonio Carlos Teixeira é jornalista e assessor de imprensa no Senado Federal