Chega às livrarias o vigésimo segundo livro do jornalista e economista J. Carlos de Assis, intitulado Os sete mandamentos do jornalismo investigativo. Escrito na primeira pessoa, a obra documenta o pioneirismo do autor, que “praticamente inventou o jornalismo investigativo em matéria econômica na imprensa brasileira no final da ditadura” – segundo sua própria reivindicação.
Assis acusa este tipo de reportagem de ter tomado rumos que a comparam agora “a uma farsa”. Ele reproduz as situações práticas vividas em reportagens do dia-a-dia ou em campanhas jornalísticas e mostra através de mandamentos os critérios que balizam o autêntico jornalismo investigativo que independeria da ajuda da polícia, da justiça ou da promotoria pública “para se realizar com ética e decência”. Neste ponto, ele ataca diretamente o comportamento da grande mídia – face às revelações obtidas com a operação Lava-Jato –, que noticia desvios de verbas vultosas não como fruto de investigação e comprovação, “mas como artifícios simplesmente declaratórios”.
Os sete mandamentos abre com a narrativa da primeira experiência do autor quando repórter do antigo O Jornal, do Rio de Janeiro, nos anos 1970. Tratava-se de uma denúncia por ele investigada em cumprimento a uma pauta da chefia de reportagem que pretendia fosse algo útil à sociedade. Logo, porém, o repórter descobriria – através de uma suíte de prosseguimento do noticiário – que seu pretenso profissionalismo violava princípios humanos de ética, ferindo as boas intenções do repórter e os interesses maiores da própria sociedade, tendo em vista o conteúdo da matéria, que podia ser usada levianamente para destruir postos de trabalho e subsistências pessoais.
Tal como aconteceria agora com a Lava-Jato, desencadeando ondas de desemprego e ameaçando o patrimônio empresarial brasileiro, ao invés de circunscrever-se aos culpados pessoais de todos os níveis. Baseando, inclusive, a imputação de crimes gravíssimos à nova e dúbia instituição da delação premiada explicitamente estigmatizada pela presidente da República. O prêmio de redução de pena para o criminoso confesso que passaria a ter voz de credibilidade se configura como esdrúxula importação jurídica com repugnância provocada em várias nações civilizadas e atualizadas no combate à corrupção e ao suborno político-empresarial.
Assis argumenta, assim, que o jornalismo investigativo, embora poderoso como arma para deter a corrupção, barrar a impunidade e desbaratar a dilapidação do patrimônio público, pode também ser uma arma perniciosamente manejada para expor pessoas honestas a vexames irreparáveis, convertendo-se ainda em instrumento de calúnia, injúria e difamação, capaz de provocar danos maiores do que os que pretenderia corrigir, numa maldição que acabará por atingir a própria mídia de forma irreparável através dos anos, acentuando as dificuldades de sobrevivência do jornalismo impresso face à digital “invasão da internet”.
O livro de Assis pode ser de grande utilidade para professores de comunicação, orientadores de teses nessa área e estudioso da relação entre Jornalismo e Liberdade, Imprensa e Responsabilidade Social: “Quero, porém, direcionar meus depoimentos em primeiro lugar”, alerta o autor, “para jovens repórteres que se propõem a trilhar o jornalismo investigativo com inteligência, ética e coragem.” Autor de pelo menos três best-sellers entre 22 obras que marcaram época no jornalismo econômico nacional – A chave do tesouro, Os mandarins da República e A dupla face da corrupção –, Assis é formado em Economia pela UFRJ, onde também fez doutorado em Engenharia de Produção. De 2006 a 2015 foi professor de Economia Internacional na Universidade Estadual da Paraíba e trabalhou como redator e colunista no Jornal do Brasil, no Globo, na Folha de S.Paulo e no O Jornal.
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José Pinheiro Junior é jornalista