Chegamos, em agosto de 2018, à milésima edição digital do Observatório da Imprensa. Desde abril de 1996, quando o jornalista Alberto Dines materializava na internet o seu projeto de criar um veículo de crítica de mídia no Brasil até hoje, o OI entrou para a história da imprensa brasileira se expandido, posteriormente, para o impresso, a televisão e o rádio. Produzido atualmente no formato digital, a publicação mudou ao longo dos anos não só a forma de ler jornal como de fazer jornalismo, conforme enfatiza Eugênio Bucci em depoimento para a edição especial.
A edição comemorativa reuniu artigos e depoimentos de pessoas que ajudaram a fazer essa história. O jornalista Luiz Egypto, editor do Observatório da Imprensa durante 18 anos, relembra em seu texto a proposta inicial de Dines.“Era um projeto audacioso, único, inovador, a fomentar no plano da cidadania uma discussão até então inédita, qual seja debater a mídia, seu desempenho técnico e suas responsabilidades sociais, do ponto de vista do cidadão consumidor de informação. Começava ali um processo de disseminação da crítica de mídia no Brasil que se revelou irreversível”. O texto do professor Carlos Vogt — “Ao Dines com carinho”—, republicado nesta edição, relembra as circunstâncias que deram origem ao projeto a partir de um encontro com Norma Couri e Alberto Dines em Portugal.
A existência do Observatório da Imprensa inscreve-se, portanto, na história de Alberto Dines e está associada à visão peculiar desse grande jornalista sobre a necessidade da existência de espaços para pensar criticamente a imprensa. Norma Couri demonstra que em meio aos vários projetos presentes na trajetória de Dines, o Observatório ocupa lugar de destaque. “Foi incansável a dedicação de Dines na excelência dos textos, no cuidado na apuração, na busca de novos parceiros e retoques elegantes a cada edição. Eram horas em cima do computador no mesmo escritório da Vila Madalena onde algumas vezes ele viu a luz do dia entrar sem ter dormido nem chegado em casa”.
Os depoimentos de Caio Túlio Costa, Carlos Eduardo Lins da Silva, Ricardo Kotscho, José Hamilton Ribeiro e Rogério Christofoletti, além do já citado de Eugênio Bucci, realçam a contribuição do projeto de Alberto Dines para o jornalismo e a democracia brasileira. Todas esses jornalistas tem sido , ao longo dos anos, colaboradores do Observatório da Imprensa.
Rui Martins destaca, em artigo, a forma como o Observatório entrou para sua vida depois de uma demissão por causas políticas e traça uma breve genealogia dos fatores que ameaçam a liberdade de imprensa nas sociedades democráticas. Carlos Castilho projetou sua análise para o futuro da crítica de mídia numa sociedade conectada. “A observação crítica da mídia está deixando de ser apenas dicotômica, ou seja, identificar o que está certo ou errado, para ser sistêmica, ou seja, avaliar o sistema que dá origem a uma determinada forma de informar sobre fatos e eventos jornalísticos. A avaliação dicotômica é objetiva e concreta. Já a avaliação sistêmica é bem mais complexa porque é subjetiva e geralmente abstrata”, escreve em seu artigo.
O projeto do Observatório da Imprensa não foi pioneiro apenas na forma de circulação digital. A longevidade resulta da experiência dialógica e participativa que criou, a capacidade de formar redes em torno da ideia de que a crítica ao jornalismo e a mídia se traduz também pela defesa da liberdade de expressão nas sociedades democráticas. Seguimos o desafio constante da reinvenção diante de novas abordagens que a realidade nos apresenta. Os fios dessa rede são compostos pelos leitores. A eles dedicamos a milésima edição.