O veterano jornalista americano Bill Moyers foi a grande estrela da segunda edição da National Conference for Media Reform, que reuniu em St. Louis, no Missouri, mais de dois mil jornalistas, educadores, políticos e ativistas para um fim de semana de palestras e debates. Responsável pelo longo discurso de encerramento da conferência, Moyers foi aclamado pela platéia ao criticar duramente o governo americano, a ala mais radical do Partido Republicano e os jornalistas que reproduzem mecanicamente o que é dito por fontes oficiais.
O encontro, realizado entre 13 e 15/5, teve como objetivo primordial a discussão sobre estratégias e soluções para a melhoria do sistema de mídia atual. Organizado pela Free Press, instituição apartidária que luta pela construção de um sistema de mídia mais democrático, não resultou em um plano de batalha definido, mas enriqueceu o diálogo sobre o tema. ‘Todos entenderam que estamos num momento crítico, em que precisamos encontrar um meio para proteger uma imprensa democrática ou arriscaremos a democracia’, resume Mercedes Lynn De Uriarte, professora de jornalismo da Universidade do Texas, em artigo de Michael Sorkin no St. Louis Post-Dispatch [15/5/05].
Voltar à ativa
O discurso de Moyers parece ter contribuído para essa conscientização. Um dos mais influentes jornalistas dos EUA, com mais de 50 anos de carreira, ele foi assessor do presidente Lyndon Johnson, produziu alguns dos mais incisivos documentários de TV americanos e trabalhou, durante muitos anos, na rede pública PBS. Moyers anunciou, no fim do ano passado, que iria se aposentar. Mostrando-se indignado com a atual situação de parte da grande imprensa – de cabeça baixa diante das ‘diretrizes’ governamentais –, afirmou que pode vir a ser obrigado a ‘sair da cadeira de balanço e voltar à cadeira de âncora’.
Moyers afirmou que alguns membros da Casa Branca, ‘obcecados pelo controle’ da mídia, tentam usá-la como arma de ‘ameaça e intimidação’. E criticou repórteres que simplesmente reproduzem as informações fornecidas por eles, sem questioná-las ou investigá-las. ‘Notícia é o que as pessoas querem esconder; o resto é publicidade’, sintetizou.
Liberal demais
O jornalista respondeu pela primeira vez às acusações de que a PBS e ele teriam inclinação excessivamente liberal, que classificou de injustas. Ele apresentou até recentemente o programa Now, em que recebia entrevistados e conduzia debates com avaliações profundas – tomava posições, ao invés de apenas expor os dois lados de questões polêmicas, o que desagradava a ala mais radical da direita americana e o governo Bush. Matéria do New York Times de 2/5/05 denunciou uma trama – comandada por Kenneth Tomlinson, presidente da CPB (Corporation for Public Broadcasting), que financia a PBS – para inserir conservadorismo no conteúdo da rede pública, que estaria liberal demais.
O republicano Tomlinson teria contratado um consultor externo para monitorar o programa de Moyers a fim de detectar a existência de parcialidade liberal. Para tanto, teria pago a um ex-assessor da Casa Branca 10 mil dólares para fazer o monitoramento. O jornalista ridicularizou a ação em seu discurso: ‘Ele gastou 10 mil dólares do dinheiro público para contratar um sujeito para assistir ao Now e descobrir quais eram meus convidados e temas; 10 mil dólares!’, exclamou. ‘Nossa, Ken, por 2,50 dólares por semana você poderia comprar uma cópia do guia de TV nas bancas. Uma assinatura é ainda mais barata, e eu poderia te conseguir um cupom de desconto. Ou você poderia simplesmente assistir ao programa’, brincou. Para reforçar seu ponto, Moyers leu uma longa lista de nomes conservadores que já foram ao Now e mostrou uma carta de um deputado republicano elogiando o programa.
O prestigiado jornalista foi muito aplaudido quando afirmou que ‘a qualidade da mídia e a qualidade da democracia estão entrelaçadas’ e convidou o público presente a juntar-se a ele na luta para ‘tirar a radiodifusão pública das ameaças e interferências’.
Clique aqui para ter o discurso integral de Bill Moyers, em inglês.