Um congresso convocado pela Associação Mundial de Jornais discutiu mais de 30 tentativas para tentar interromper a contínua evasão de leitores jovens, um problema que tira o sono dos executivos de jornais do mundo inteiro há quase trinta anos. Foram cerca de 300 participantes de 66 países presentes à 6ª Conferência Mundial de Jovens Leitores – realizada em Buenos Aires, entre 18 e 21 de setembro –, que trocaram experiências sobre fórmulas para rejuvenescer o público leitor num momento em que os jornais enfrentam também uma evasão de anunciantes.
Mais de um palestrante destacou o fato de que a migração da publicidade rumo à internet é um problema de curto e médio prazo, enquanto a queda aguda dos índices de leitura é uma ameaça de longo prazo à sobrevivência dos jornais.
Uma pesquisa feita pela Northwestern University concluiu que, nos Estados Unidos, há uma relação direta entre a leitura na infância e na idade adulta. Um jovem que teve contato intenso com a mídia impressa no curso primário e secundário tem três vezes mais chance de ser um leitor fiel na idade adulta do que os que não foram leitores assíduos.
Se combinarmos esta constatação com as estatísticas sobre os compradores norte-americanos de jornais diários, sobrarão motivos para a insônia dos executivos da mídia impressa. Nos Estados Unidos, o percentual de leitores entre 21 e 25 anos caiu de 45% em 1972 para 20%, em 2003.
Mudança de foco
Na América Latina, assim como na Ásia e África, a perda dos leitores jovens não é tão aguda quanto nos Estados Unidos e Europa, segundo revelaram os depoimentos de executivos e jornalistas destas regiões, que participaram da conferência de Buenos Aires. Apesar de todos compartilharem a mesma preocupação com o futuro, duas tendências apareceram claramente entre os delegados na hora de propor estratégias para tentar frear a sangria de leitores jovens.
Uma tendência procurava centrar a busca de alternativas exclusivamente dentro dos jornais, por meio da publicação de suplementos especiais para o público com menos de 25 anos, programas de distribuição de jornais e treinamento de professores em escolas primárias, apresentação mais leve e colorida dos jornais. Os europeus por seu lado, preferiram enfatizar a inclusão da internet no desenvolvimento de estratégias para reconquistar os jovens. ‘A tecnologia e a web são essenciais para quem tem menos de 25 anos. Eles não entendem a vida sem elas por isso ambas têm que fazer parte, obrigatoriamente, de qualquer esforço para garantir leitores daqui a uma ou duas décadas’, recomendou Evelyne Bévort, vice-diretora da organização francesa Centre de Liaison de l´Enseignement et des Médias d´Information (CLEMI), que estuda o relacionamento da escola com a imprensa.
Mais ou menos na mesma linha está o relatório preparado pelo grupo europeu Innovation International Media Consulting Group, que listou 50 estratégias possíveis reverter a evasão de leitores jovens. O trabalho insiste na tese de que a reconquista do público com menos de 25 anos passa pela internet e recolhe experiências de jornais em 19 países. No Brasil, o caso destacado foi do suplemento Patrola, dos jornais Zero Hora e Diário Catarinense, da Rede Brasil Sul (RBS).
Marcelo Rech, editor do gaúcho Zero Hora, fugiu da retórica predominante no congresso em Buenos Aires ao defender a tese de que o principal obstáculo ao rejuvenescimento dos jornais está na cabeça dos jornalistas. ‘A questão não está no jornal como um veículo de comunicação, mas sim nos profissionais que o editam. Precisamos inovar nossos métodos e não nos contentar apenas na sobrevivência do jornal’.
‘Fora do quadro’
A análise das intervenções, de acordo com os anais do congresso publicados no site da Associação Mundial de Jornais, mostra também uma tendência a não limitar a preocupação com leitores jovens apenas aos suplementos dedicados a adolescentes. Várias apresentações destacaram a necessidade de que todas as páginas do jornal sejam publicadas tomando em conta a sua compreensão pelo público com menos de 25 anos.
A pesquisa da Northwestern University admite que a ‘maioria dos jornais terá que repensar [suas estratégias] para corrigir [problemas] na essência do seu produto. Não basta apenas a internet ou suplementos juvenis. O jornal tem que repensar seu conteúdo de capa a capa’.
Na mesma semana em que os executivos de jornais estiveram reunidos em Buenos Aires, a agência de notícias Associated Press anunciou a distribuição de um serviço multimídia orientado para o público jovem e para ser divulgado nos sites de 200 jornais norte-americanos. O serviço chamado ASAP.
Os jornais do mundo inteiro mostram uma preocupação quase obsessiva com a reconquista dos leitores jovens, mas neste esforço ainda não conseguiram fazer o que muitos chamam de ‘pensar fora do quadro’, ou seja, abandonar os procedimentos conhecidos para enfrentar crises no modelo de negócios e buscar saídas inovadoras. Este talvez seja o grande desafio.
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Editor do blog Código Aberto, deste Observatório