Monday, 04 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1312

Otimismo no topo da pirâmide

Pela primeira vez em dois anos, a empresa de consultoria McKinsey registra uma melhora geral na expectativa dos executivos quanto à economia global. A edição de janeiro da ‘Pesquisa Global de Executivos de Negócios – Indicadores de Confiança’, divulgada pela empresa aos assinantes de seu boletim, revela que o mundo dos negócios parece ignorar completamente – ou receber com relativa desconfiança – as notícias sobre crises políticas regionais e internacionais que vemos diariamente na mídia.

Tanto nas previsões sobre perspectivas nacionais quanto sobre setores da economia e de empresas específicas, houve um aumento médio de 3 pontos porcentuais nas expectativas positivas de 4.238 executivos em 116 países, inclusive o Brasil. Nas regiões onde os índices de otimismo são menores, como Índia e China, Ásia e Pacífico Sul, os valores negativos se referem às indústrias em si, e não ao desempenho das economias nacionais.

Em conversa com um grupo de executivos reunidos na manhã de terça-feira (14/2), este observador ouviu opiniões que deveriam preocupar os gestores das empresas de comunicação. Para alguns desses profissionais, o noticiário geral não apresenta um retrato fiel do mundo quanto aos quesitos que lhes interessam. Conflitos étnicos e religiosos, resultados eleitorais na América Latina ou crises setoriais têm pouco efeito sobre suas decisões ou o modo como projetam o futuro. Os donos da mídia deveriam encomendar pesquisas mais freqüentes sobre o efeito do noticiário sobre os formadores de opinião.

A recente eleição de líderes populistas, indígenas ou esquerdistas na vizinhança do Brasil só representa uma ‘onda vermelha’ na cabeça de alguns editorialistas e articulistas. Coincidentemente, esses autores são claramente identificados muito à direita e muito à esquerda do espectro de opiniões políticas que nos habituamos a observar na mídia. O mundo real, aquele habitado por gente que precisa fazer a máquina seguir funcionando, entende que a resposta das urnas não se fundamenta necessariamente em transformações sociais profundas ou guinadas ideológicas radicais de grandes massas sociais.

Para o bem ou para o mal, o mundo parece mais pragmático depois de certa acomodação com relação aos conflitos religiosos que têm seu eixo no mundo árabe e na Palestina. O noticiário que nasce na região passa a ser considerado apenas circunstancialmente, segundo alguns executivos ouvidos por este observador, e apenas a possibilidade de um confronto aberto entre os países ocidentais e o Irã é considerado um fator de risco relevante.

O bonde avança

Investimentos em fontes alternativas de energia criam a possibilidade de se contornar em médio prazo a última crise do petróleo, e os analistas já começam a emitir observações sobre como viria a ser o mundo no futuro breve, com os magnatas árabes, sem petróleo, colocados em segundo plano no contexto global dos negócios e tendo que se haver com seus súditos.

Nesse cenário em que o petróleo bate recordes, as mudanças climáticas globais sentidas na pele das pessoas e no caixa das empresas se tornam uma evidência científica de que o sistema econômico mundial fez e manteve escolhas erradas quanto às fontes de energia. Mas a ocorrência de crises políticas restritas a regiões de longa tradição de conflitos não ajuda a massa crítica do ambiente de negócios a refletir sobre escolhas equivocadas em geopolítica. O foco da imprensa nos fatos pontuais e a falta de uma visão mais ampla a partir dessas ocorrências afastam da mídia os leitores mais influentes, que precisam de um olhar mais amplo para desenvolver suas estratégias de negócios e seus planos pessoais.

O que tem a ver a pesquisa da McKinsey com a observação da imprensa? Tem isso mesmo: a imprensa continua pessimista, e quem toca o bonde do mundo acha que as coisas vão melhorar. Onde esses caras se informam?

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Jornalista