Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Projetos de conquista

Nos últimos anos, assistimos ao nascimento de suplementos dedicados a adolescentes, como é o ‘Teen’, da Folha de S.Paulo. Não podemos dizer que estes suplementos consolidaram um público jovem, mas que ainda estão lutando para isso. Temos que considerar que este é um público que rapidamente se torna adulto e, conseqüentemente, deixa de ser o alvo do suplemento. Esta é sem dúvida uma das grandes dificuldades que publicações destinadas a jovens enfrentam. A segunda, uma extensão da primeira, é que cada geração de jovens traz novas expectativas e o suplemento que servia aos jovens antecessores – que se tornaram adultos, obviamente – já não sintoniza o novo grupo.

Mesmo a revista da Abril destinada a jovens, chamada Carícia, que nos anos 1990 era leitura de garotas de 13 a 18 anos, obrigatoriamente, perdeu bastante o status de publicação de influência no meio jovem. Não porque houve mudanças na direção de redação, mas porque o novo público trazia novas carências, e tanto matérias como o espírito geral da revista não se afinavam mais com as novas jovens garotas.

Estas publicações referendadas, embora não tenham o fundo didático do suplemento irlandês Eureka e do sul-africano Ciência da Vida, são projetos de conquista de um público que sempre foi relegado no passado, por não ter poder aquisitivo nem interesse maior pela leitura de jornais – e revistas. Os suplementos jovens atuais falam de shows, de baladas, de esportes radicais, de passeios interessantes e até de expectativas, como os exames vestibulares, mas não entram, como as duas publicações escolhidas para a 6ª Conferência Mundial de Jovens Leitores, na abordagem de matemática, ciências etc.

A experiência do JornaLivro

O que não invalida nossos suplementos nem nossas revistas destinadas ao público jovem especificamente, como empreendimentos e até aventuras num campo um tanto desconhecido, que é o público jovem. Por outro lado, uma incursão que tivemos oportunidade de fazer, com outros jornalistas, ao público jovem das escolas de nível fundamental e médio de São Paulo, nos anos 2000 e 2001, trouxe-nos conclusões importantes para esta abordagem: o estudante de escola pública, que representa a grande maioria dos adolescentes, não tem nenhuma motivação para continuar na escola e concluir o curso médio, porque não terá condições de cursar uma faculdade e irá para um mercado de trabalho para ganhar pouco mais que um salário mínimo. A única expectativa que tem é no curso técnico, que pode multiplicar o salário três vezes, ou seja, para mais de mil reais, mas o número de escolas técnicas públicas é pequeno.

Já a comunicação com o jovem não se dá mais da redação para o leitor, mas do leitor para a redação, no mesmo sentido da ‘IBM detectando o problema do usuário e trazendo soluções’. Como num estado como São Paulo são milhares de escolas de nível fundamental e médio e milhões de alunos, a publicação para operar a partir do leitor teria que funcionar com centenas de tentáculos, que seriam os próprios alunos enviando sugestões e, principalmente, fotos, que hoje, com os recursos dos celulares, representam uma grande fonte informativa. A comunicação teria interação com o leitor, de forma a garantir um fechamento de edição em cima deste princípio de mão dupla leitor-redação-leitor.

De fato, alcançar e manter um público jovem é um desafio para o jornalista. Ainda mais tratando da matéria didática, que exige naturalmente mais criatividade e dedicação. Mesmo assim, é um desafio interessante, principalmente se lembrarmos do JornaLivro, que foi um projeto de Narciso Kalili, Sergio de Souza, Miltainho e demais solertes repórteres e editores da ex-Realidade, que propunha o inacreditável jornal feito com trechos de livros. Quem duvidava viu que aquela alternativa também era jornalismo e tinha seu segmento de leitores.

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Jornalista, São Paulo