Além dos jornais impressos, também para as revistas semanais o cenário não se mostra auspicioso. Depois de sofrer forte concorrência de títulos emergentes, as principais revistas dos Estados Unidos – US News & World Report, Times e Newsweek – enfrentam o desafio de manter as grandes tiragens que lhes garantiram durante décadas certa primazia no mercado publicitário.
Mas a julgar pela pesquisa The State of the News Media 2005, do Projeto Para a Excelência em Jornalismo, a estratégia de buscar assuntos genéricos e mais leves não está dando resultado. De um lado, ao aligeirar o noticiário, as revistas acabam perdendo os leitores que buscam conteúdos mais densos, e, por outro lado, ao alargar a temática, enfrentam uma concorrência mais ampla, como a das revistas especializadas e as publicações de entretenimento.
Para os pesquisadores, as revistas estão repetindo o modelo da televisão aberta, um meio que tenta cobrir todo tipo de acontecimento e acaba não oferecendo consistência em nenhum deles. ‘Em outras palavras, se alguém está procurando fofocas sobre celebridades, ou notícias sobre saúde ou ciência, qual a especialidade que as revistas oferecem?’, questionam os analistas.
A queda nas vendas de revistas em bancas revela que essa variedade de temas, tratados sem profundidade, não está mais trazendo leitores para as semanais. Essa busca pelo que está ‘na moda’ talvez explique a coincidência de duas semanas atrás, quando as principais revistas semanais de informações do Brasil escolheram o escritor Paulo Coelho como tema de capa, com matérias anódinas e desprovidas de criatividade. [Leia aqui matéria do OI sobre esta ‘coincidência’, e aqui a carta de Paulo Coelho comentando o artigo ‘Veja, o escritor e a reclassificação das espécies’]
Rejeição da moda
Como no relatório de 2004, há indicações de que existe no mercado americano de mídia uma demanda crescente por uma cobertura noticiosa mais séria e por uma imprensa de elite, isto é, destinada a públicos mais exigentes, que cruze as várias plataformas de mídia – TV a cabo, jornais, revistas e internet. Títulos como The Economist e The New Yorker parecem ter entendido essa tendência e estão anunciando seus conteúdos em outras mídias de elite.
Uma grande questão para essa nova mídia de prestígio é se o seu público será grande o bastante para abrigar mais títulos. Outra questão, especialmente relevante para as revistas semanais, é saber se esse público de elite estaria interessado na revitalização dos títulos já estabelecidos, ou se tenderiam a migrar para novas publicações declaradamente voltadas para conteúdo mais denso e exigente.
Em resumo, o público que forma tendência e não simplesmente compra um produto porque está ‘na moda’ rejeita a mediocridade que lhe é oferecida pelos títulos estabelecidos, mas ninguém garante que esse público voltaria a ler revistas se elas se dedicassem a um jornalismo mais sério.
TV pela internet
A televisão aberta segue sendo um meio de ampla audiência, mas sua sustentabilidade corre risco na medida em que os principais ícones do jornalismo televisivo se aposentam e as novas caras não conseguem obter a mesma empatia do público.
Bordões e chamadas inventadas pelos departamentos de produção não conseguem o mesmo efeito e, no longo prazo, a perda de credibilidade tende a reduzir o valor do telejornalismo para os anunciantes no confronto com outros meios. Como a massa de telespectadores é imensa, a decadência demora a ser diagnosticada, mas há uma tendência a uma redução na percepção de valor dos anúncios, o que pode se tornar crítico em função dos altos custos de produção.
No caso da TV a cabo, há dois desafios. O primeiro é necessidade de crescimento, muito improvável, uma vez que o mercado americano está praticamente saturado e não há boas perspectivas de agregar grande número de novos domicílios às redes de cabos.
O segundo desafio é formado pela percepção de que a TV a cabo representa na verdade uma mídia de transição entre a TV aberta e a internet. De fato, a Microsoft já anuncia para este ano a liberação do sistema padrão para compactação de vídeo, que permitirá a transmissão de imagens de TV por internet em banda larga. O sistema, chamado de Broadband TV, está pronto, já é utilizado no Brasil em cerca de 80 cinemas e pode ser adaptado para uso doméstico. O alto custo da extensão dos cabos fecha a equação do setor.
O valor da seriedade
Quanto à internet, vista como o meio que origina a ruptura e cria novos paradigmas nas relações entre o público e o jornalismo, o debate se assenta sobre a ressignificação do jornalismo.
A partir de que ponto um blog se transforma em imprensa? Qual será o momento em que poderemos considerar o jornalismo online maduro, independente, desvinculado de um dos meios impressos ou televisivos tradicionais?
Uma das descobertas interessantes do estudo ‘The State of the News Media 2005’ nos Estados Unidos é que, ao contrário da compreensão geral, a maioria dos sites de informação oferece aos seus leitores notícias de segunda mão. Exceto pelas notas urgentes, geralmente colocadas nas seções de ‘últimas notícias’, a maioria é originada nos jornais, ou na TV, ou atualizada a partir de fatos já conhecidos de outras fontes. Em 2004, subiu de 42% para 58% a proporção de notícias simplesmente transplantadas para a internet sem qualquer trabalho de edição, em relação a 2003.
Isso significa, segundo as conclusões dos analistas da pesquisa, que os cortes nas redações afetam também as versões online da imprensa, e que o desenvolvimento de novos softwares tem eliminado postos de trabalho nas redações dos meios eletrônicos. Há hoje menos jornalistas trabalhando nos jornais online americanos do que no fim dos anos 1990.
Nos sites não vinculados a jornais, como Yahoo e America Online, a proporção de matérias próprias é mínima, e o conteúdo é, na prática, totalmente reproduzido de outras fontes. Ainda assim, esses concorrentes abocanham grandes fatias do público.
Uma das conclusões do estudo indica que, mesmo para um meio que vem montado numa tecnologia avassaladora, seriedade na apuração e no trato do conteúdo ainda são condições essenciais para a conquista de uma audiência fiel, qualificada e determinante para o sucesso do negócio.
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Jornalista