Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Ruy Mesquita volta a atacar

Não é todo dia que o diretor de um grande jornal pronuncia-se com veemência contra a mercantilização da imprensa. O jornalista Ruy Mesquita merece irrestritos aplausos quando, ao receber o título de ‘Personalidade da Comunicação de 2004’, concedido pelo Congresso Brasileiro de Jornalismo Empresarial, Assessoria de Imprensa e Relações Públicas e pela Mega Brasil, condenou a murdoquização que ameaça o jornalismo internacional.

Referia-se a Rupert Murdoch, criador e dono da News Corp, um dos maiores conglomerados de mídia do planeta. Certamente não pensava apenas no império ou na pessoa do magnata australiano, investia contra as empresas jornalísticas que subordinam sua cobertura aos interesses do departamento comercial. Inclusive as brasileiras.

Esta corajosa tomada de posição é mais do que oportuna, sobretudo diante da dramática crise econômica que assola os meios de comunicação nacionais. A murdoquização não é fenômeno distante, está incorporada ao nosso dia a dia. Jornais, revistas, rádios e emissoras de TV perderam a compostura e topam qualquer negócio, incapazes de resistir à pressão de empresas e governos, anunciantes ou não.

Quanto um dos mais ilustres membros do establishment jornalístico, verdadeiro símbolo da imprensa brasileira, pronuncia-se de forma tão veemente contra a mercantilização do processo informativo – a ponto de parecer um dos articulistas deste Observatório da Imprensa – é sinal que a situação já não admite meios tons, meias medidas ou meias palavras.

A ousadia de Ruy Mesquita contraria não apenas a pregação risonha e inconseqüente do especialista em mídia do Estadão (Carlos Alberto di Franco, representante da Universidade de Navarra), mas coloca-se frontalmente contra as posturas contemplativas e resignadas do patronato jornalístico.

É extremamente salutar que um publisher-editorialista do gabarito de Ruy Mesquita deixe aflorar o seu lado de crítico de mídia. Diante do quadro francamente degradado em que se encontra a sociedade brasileira, a imprensa precisa capacitar-se da sua missão formadora. Impossível exigir dignidade e decência de outros poderes e instituições quando os vigilantes e fiscais mostram-se tíbios, complacentes, quando não cúmplices.

O improviso de Ruy Mesquita não pode ser minimizado ou descartado como desabafo casual. Homem de redação, filho e neto de grandes jornalistas, Ruy Mesquita conhece o valor das palavras, suas frases são manchetes, suas percepções são compromissos.

Na história do O Estado de S. Paulo não há recuos.