Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Um cenário global mais otimista

Vem da empresa de consultoria PricewaterhouseCoopers uma notícia alentadora para a mídia: no estudo denominado ‘Global Entertainment and Media Outlook: 2003-2008’ (‘Panorama global de mídia e entretenimento: 2003-2008’), cujos resultados estão exibidos em seu site (www.pwcglobal.com) desde terça-feira (29/6), a empresa projeta um crescimento anual de 6,3% para os setores de entretenimento, mídia e comunicação eletrônica de dados, som e imagem nos próximos quatro anos, após três anos de estagnação.

A análise engloba todos os continentes e está dividida em catorze estudos setoriais, que podem ser adquiridos por 95 dólares cada, no formato eletrônico. De modo geral, traz um panorama positivo que leva em conta, ligeiramente, um processo mais estável do fenômeno da globalização apesar da grande demanda por gastos com segurança nas empresas e governos. Esses gastos reduzem a disponibilidade para investimentos em publicidade e outras formas de patrocínio da mídia, mas considera-se uma perspectiva de acomodamento dos principais conflitos no período observado.

No entanto, a imprensa propriamente dita não tem muito o que comemorar: o estudo revela que nos Estados Unidos os esforços para atrair leitores jovens deverá melhorar a circulação dos dias úteis, mas não há sinais de sustentação das edições de domingo, nas quais as empresas têm investido mais fortemente nos últimos anos.

No Canadá, a perspectiva é de queda da circulação até 2008, em relação aos números de 2003. Na Europa, Oriente Médio e África (regiões que são agrupadas sob a designação EMEA), espera-se que a indústria de jornais seja afetada por novas regulamentações. Na região Ásia-Pacífico, novas tecnologias deverão ajudar a reduzir a contínua migração de leitores para a internet e para os noticiários da televisão – o estudo se refere a tecnologias de transmissão de dados e impressão personalizada, que irão oferecer uma grande oportunidade para a mídia impressa.

Poder dominante

Na América Latina, o que se prevê é que o processo de estabilização econômica venha a dar mais fôlego a uma incipiente marcha de recuperação de receitas de publicidade para o setor. No entanto, a concorrência dos grandes conglomerados internacionais deve se tornar ainda mais forte, principalmente quanto a informações econômicas e de esportes.

O setor de revistas deverá ter uma vida melhor na América Latina, com um crescimento médio anual de 3,1%, avançando de um faturamento de 1,7 bilhão de dólares em 2003 para 2 bilhões de dólares em 2008. A principal parcela da receita publicitária no setor será destinada a revistas de negócios e setorizadas. Essa previsão é parte da estimativa de investimento em informação financeira e econômica em âmbito global, que deve crescer de 14 bilhões de dólares em 2003 para 19 bilhões de dólares em 2008.

Os setores da mídia que sustentam a perspectiva de crescimento continuarão sendo os de informações econômicas e de entretenimento. Porém, a mídia de negócios tende a se concentrar em grandes conglomerados ou a se pulverizar em múltiplas fontes não convencionais – como boletins de bancos e corretoras de ações, revistas e sites mais segmentados por indústria –, abrindo ainda mais a concorrência para as empresas tradicionais de mídia independentes ou de característica nacional ou regional.

Quanto ao desempenho do setor de entretenimento, a tendência deve reforçar o poder das organizações dominantes, como a Rede Globo, que podem se beneficiar dessa receita – o que também contribui para reduzir a margem de atuação das empresas limitadas ao negócio do noticiário não especializado.

Motivo de queixa

A estabilização monetária obtida nos últimos anos está ajudando as empresas de mídia da América Latina em geral, após décadas de inflação descontrolada e desvalorização, mas a mídia da região ainda depende muito de eventos pontuais. Segundo a análise da PricewaterhouseCoopers, a Copa América e a Libertadores de América, entre outros eventos esportivos, estão produzindo uma perspectiva de crescimento de 7,9% para as redes de televisão abertas e a cabo em 2004. A Copa do Mundo de 2006 deverá elevar em 10,5% a receita de publicidade na TV.

Embora não esteja explicitado no estudo, tradicionalmente a mídia impressa se beneficia desse interesse dos anunciantes, e sempre há um crescimento da receita nesses períodos. O problema segue sendo a falta de sustentabilidade, que se depreende também dos números apresentados no cenário desenhado pela consultoria.

A internet continua sendo vista como uma mídia em desenvolvimento, mas extremamente dependente de melhores condições econômicas, por sua característica ainda bastante elitista. Na América Latina, a expansão da rede, combinada com a emergência da banda larga e condições econômicas mais favoráveis, deve estimular a publicidade online. O estudo projeta um salto da receita na internet de modestos 62 milhões de dólares em 2003 para 276 milhões em 2008 – um crescimento anual de 34,8%. No entanto, outra vez os sites noticiosos de jornais e revistas continuarão competindo com protagonistas variados e novos serviços, como aqueles que estão sendo desenvolvidos pelas empresas de telefonia.

De qualquer modo, trata-se de uma visão mais otimista, após três anos de estagnação por causa da desaceleração da economia global e das preocupações com o terrorismo. A adoção acelerada de novas tecnologias, como a TV digital, e a popularização do DVD e da transmissão de dados, som e imagem por telefonia celular são consideradas como potenciais estimuladores de maior interesse pela mídia, mas o melhor resultado continuará sendo dirigido para entretenimento.

Pelo menos, no meio da crise em que se encontram, as empresas de comunicação terão menos motivos para se queixar das condições macroeconômicas.

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Jornalista