O que vocês lerão a seguir não é um texto normal, mas uma lista de temas para debate. Basicamente são três questões: novo engajamento social dos jornalistas, jornalismo local e a sustentabilidade financeira de projetos jornalísticos. Eles estão interligados e são parte do que chamamos de economia política do jornalismo (*).
Optei pela organização em itens porque a preocupação é instigar a interatividade entre vocês leitores. Mostrar a complexidade do contexto vivido pelo jornalismo e a necessidade de ver como as peças deste desafio se relacionam. Seguem os itens selecionados que podem ser ampliados ou reduzidos, já que este é apenas um primeiro esforço:
- A atividade jornalística está em crise por conta do esgotamento do modelo tradicional de negócios que garante a lucratividade de empresas no setor da comunicação;
- Em todo mundo, a crise está provocando o fechamento em massa de veículos de comunicação jornalística e provocando o maior índice de desemprego da história do jornalismo;
- A crise afeta a sustentabilidade de projetos jornalísticos, o que leva a necessidade de rever a base da inserção da profissão na economia política do jornalismo;
- Os desdobramentos do processo de digitalização da informação e a universalização da internet estão mudando os principais pilares de sustentação econômica da imprensa, entendida como conjunto de empresas lucrativas cujo negócio é a troca de notícias por receitas publicitárias.
- A sustentabilidade de jornais, por exemplo, passa agora, na era digital, a depender da diversificação de usuários capazes de pagar pela informação, o que implica a mudança da agenda noticiosa da imprensa.
- Isto significa focar na grande massa da população que até agora estava marginalizada na agenda da imprensa, dominada por notícias ligadas aos interesses políticos, empresariais e culturais da elite;
- A diversificação das audiências e da agenda noticiosa cria a necessidade de uma nova relação dos jornalistas com o público. A internet, e principalmente as redes sociais, ampliaram enormemente a diversidade de abordagens dos problemas e necessidades do público.
- Para poder gerar fluxos informativos capazes de gerar conhecimentos locais (solução de problemas locais), o jornalista precisa se engajar nas comunidades;
- O engajamento cria uma relação de parceria entre profissionais da notícia e o seu público-alvo. Uma parceria com duas características: manter a comunidade informada através de relação colaborativa e obter desta mesma comunidade meios capazes de garantir a sustentabilidade financeira do projeto. Sustentabilidade entendida aqui não apenas como aporte de dinheiro, mas de todos os meios não monetários necessários (voluntariado, trocas, etc.);
- A diversificação da agenda inevitavelmente aumenta a relevância do jornalismo praticado localmente, uma modalidade que tradicionalmente tem sido menosprezada. Nesta nova conjuntura criada pela digitalização e pela internet, o jornalismo local passou a ter importância estratégica porque traz para a o espaço público de debates segmentos do público marginalizados pela agenda elitista da imprensa tradicional.
- O jornalismo local é o ambiente que mais favorece o engajamento dos profissionais do jornalismo com seu público-alvo. Daí a necessidade de repensar as estratégias tanto editoriais como financeiras das publicações focadas no local.
- A busca de novos modelos de sustentabilidade financeira é considerada o mais complexo de todos os dilemas atuais da profissão. Já há consenso de que cada projeto terá seu próprio modelo e que a sustentabilidade deve ser pensada já nos planos iniciais de um empreendimento jornalístico. Alguns temas a serem polemizados: a “uberização” do jornalismo, a governança de projetos noticiosos e o papel dos sindicatos no jornalismo digital.
- Esta relação de temas para debate configura a necessidade de uma abordagem dentro do campo da economia política do jornalismo.
(*) A economia política do jornalismo estuda as relações entre a informação, comunicação, contexto econômico e conjuntura política num contexto digital. Para maiores detalhes veja em: O Jornalismo e a Nova Economia Política da Informação, Journalism is a Public Good. Let the Public Do It; The Critical Political Economy of the Media ou Political Economy of Journalism, editado e publicado pela Universidade Federal do Piauí, em parceria com universidades europeias.
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Carlos Castilho é jornalista com doutorado em Engenharia e Gestão do Conhecimento pelo EGC da UFSC. Professor de jornalismo online e pesquisador em comunicação comunitária. Mora no Rio Grande do Sul.