Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

O presidente e o boné do MST

Ao pontuar que ‘a palavra é o fenômeno ideológico por excelência’, Bakhtin nos apresenta o mote para analisar os desdobramentos do encontro dos integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) com o presidente Lula, fato ocorrido em 2 de julho de 2003. Na ocasião, Lula recebeu de presente uma cesta com produtos da reforma agrária, uma bola produzida nos assentamentos e um boné, que usou por alguns instantes. Foi o suficiente para que o sinal de alarme do terrorismo midiático soasse alto: a notícia sobre o encontro e, sobretudo, a imagem do boné na cabeça presidencial correram como rastro de pólvora pelas redações dos principais órgãos de imprensa, pelos sites novidadeiros de fofocas, pelos bastidores do Congresso Nacional e pelas conversas informais na rua. Estava dada a cena enunciativa para que o fato boné aparecesse como avalanche de perigo, desrespeito às leis do país, ameaça à democracia e à paz social e afronta ao Estado de direito.

Tais sentidos, determinados por condições de produção bastante especiais (o MST não visitava o Planalto desde 18 de abril de 1997), precisam ser pontuados, afinal o pavor ao Movimento deriva de uma construção histórica dominante, que sempre prezou em colocar os camponeses e lavradores politicamente organizados no lugar de malfeitores, bandidos e ladrões, que invadem propriedades privadas, agridem a Constituição federal e criam instabilidade e caos no campo.

Narrados dessa forma, os sem-terra ocupam no imaginário nacional o sítio simbólico dado pela ruptura da democracia e do Estado civilizado e representam o lugar da barbárie, da ausência das leis e da desordem social. A mídia, pelas ligações umbilicais que mantém com a classe dominante, em geral, tem se comportado como o grande e principal amplificador dos sentidos apresentados acima. Nesse artigo, pretendemos interpretar alguns recortes de reportagens, manchetes e artigos, veiculados em jornais, revistas, listas de discussão e sites eletrônicos, que contam o encontro Lula-MST, ou seja, o mesmo acontecimento é observado de diferentes posições, indicando que as palavras são afetadas pelo lugar social que o sujeito ocupa em uma conjuntura historicamente datada.

Arqueologia dos sentidos

Tendo pontuado o que está naturalizado sobre o MST (incluindo o seu ícone mais divulgado, o boné vermelho), iniciamos a interpretação do nosso primeiro recorte. O nosso ponto de partida é o artigo de Jorge Bornhausen, publicado no jornal Folha de S.Paulo em 3/7/2003, cujo título ‘O boné da insensatez’ situa a loucura como um atributo daqueles que usam o boné (leia-se aqui integrantes do MST). Assim, o presidente é falado como demente, sem razão, nada lúcido, privado de juízo e de bom senso. Logo no início, o texto estabelece a seguinte comparação: ‘Antes que se completassem 24 horas, o mesmo boné que aparecia na cabeça de um homem preso na zona da mata de Pernambuco por saquear um caminhão de cargas apareceu na cabeça do presidente da República (…) o presidente da República e o MST assumem a causa comum, ou seja, estão embarcados na mesma nau insensata que inquieta a nação’. Sob a forma da repetição, amarra-se um ponto no bordado ideológico, que faz o sujeito colocar o MST como ilegal e criminoso e seus integrantes e/ou usuários do boné merecedores de prisão. Aos poucos, esse sentido é deslocado ao presidente, que, para esse sujeito, na condição de primeiro mandatário jamais poderia ter colocado o símbolo de uma quadrilha na cabeça.

Sabemos que o discurso dominante é produto da historicidade, que construiu e ainda constrói a criminalização da luta camponesa e indica apenas que a luta de classes não mudou: as capitanias hereditárias de ontem continuam a existir sob a forma de latifúndios e os senhores de outrora tiveram sua designação alterada, mas em nada mudaram o seu poder concentrado no/pelo latifúndio e as estratégias de defesa de seus privilégios.

Observamos que o interdiscurso, ou seja, a memória discursiva sobre a luta dos camponeses e a sua criminalização constituem peças/chaves interpretativas para a investigação de alguns efeitos de sentidos apresentados hoje. Diz o autor: ‘O presidente da República, no mínimo, contemporizou com os saques e desordens assumidamente realizados pelo MST, por pessoas usando o boné comum (…) Ora, todo mundo está cansado de saber que o MST não tem nada a ver com os sem-terra e a reforma agrária. Todos sabemos que o MST é um movimento político revolucionário que apenas usa a grave questão campesina para efeito de propaganda e, principalmente, de financiamento, pois recolhe uma porcentagem considerável de todo o dinheiro que o governo repassa aos assentados; que o MST tornou-se massa de manobra de aluguel, usada por grupos que precisam de equipes táticas treinadas em sabotagens, como se viu na semana passada no Paraná; que o MST ameaça provocar uma nova guerra de Canudos (a loucura crudelíssima que há um século explodiu no sertão da Bahia) no Pontal do Paranapanema, em São Paulo; que o MST tende a se ampliar agregando o que, na linguagem da própria esquerda radical, chamam de lúmpen urbano, com toda a carga de risco que tal mobilização representa para o país sem meios, como está sentindo o próprio governo do PT, para implementar programas sociais compensatórios pela desigualdade de renda’.

Só mesmo fazendo uma escavação arqueológica dos sentidos aqui construídos a partir do já-dito é que chegamos à identificação de alguns genéricos: ‘Todo mundo está cansado’, ‘Todos sabemos’ e, assim, com frases disponibilizadas como verdades absolutas e com força de lei, o autor apresenta a sentença que se pretende jurídica: ‘MST tornou-se até massa de manobra de aluguel’ e ‘MST ameaça provocar nova guerra de Canudos’. Retornam aqui todos os sentidos de baderna, desordem, ilegalidade, loucura e crime, que ora já definimos.

Ácida ironia

Alinhada à mesma retórica, a manchete ‘‘Lula coloca boné de movimento sem-lei’, diz líder do PFL’ aparece no jornal eletrônico Terra (TV.terra.com.br/jornaldoterra), do dia 2/7/2003. Chama-nos atenção a seqüência ‘boné de movimento sem-lei’, cuja marca da preposição ‘de’, sem a presença do artigo, indica que o ‘movimento’ é de qualquer um, não existindo elemento restrito e definitivizador. É como se o sujeito desse discurso falasse de conceitos abstratos e não sujeitos que fazem leis e as respeitam (ou não). A lei aqui é narrada como patrimônio de uma única classe, no caso, aquela detentora da terra. É, portanto, posse de quem tem posses. O lugar destinado ao MST é dado pela ausência de leis: como se o Movimento e os sem-terra não tivessem regras e estatutos internos; como se a organização política desse movimento popular não existisse e como todos os sem-terras (e usuários do boné) não se submetessem à Constituição Federal, vivendo como fora-da-lei.

Tal síntese não se fixa apenas na manchete, no interior da notícia o deputado federal José Carlos Aleluia (BA), líder do PFL na Câmara, ocupa o lugar daquele que condena brutalmente o fato do presidente Lula usar o boné do MST, apenas por alguns instantes, voltamos a ressaltar. Vocifera ele: ‘O encontro em si poderia ter sido para buscar a paz, mas o presidente, ao colocar na cabeça um símbolo do MST, resolveu se afastar de todo o resto da sociedade brasileira e incorporar o sentimento do MST’. Há aqui um efeito de distanciamento entre a sociedade em geral e o MST; entre o presidente com e sem boné; entre o boné do MST e ‘o boné de movimento sem-lei’. Há uma tentativa de atribuir a Lula os sentidos veiculados e despertados pelo boné, deixando-o em situação de oposição à sociedade brasileira. A expressão ‘o boné do MST’ marca uma delimitação de posse, afinal o dono do boné é o MST e a ele cabem todas as responsabilidades da causa política que os sem-terras sustentam. Desta forma, a implicação do ônus e da ilegalidade tem como destinatário o movimento popular. No caso em questão, ao enunciar ‘o boné de movimento sem-lei’, o sujeito cria uma proximidade entre Lula e o MST. Ambos são emparelhados na mesma condição e, entre os dois nomes, circula o sangue quente da desordem, da ilegalidade e do perigo em uma transfusão irreversível.

‘Lula extrapolou’ é um artigo de Antônio Canuto, que recebemos por e-mail da Via Campesina, organização que agrega as lutas camponesas em diversos paises e que constitui um circuito de dados e uma rede eficaz de informação, que geralmente não circula nos órgãos da grande mídia. Em tom de ácida ironia, o autor recorre a sentidos naturalizados sobre o papel do presidente e a sua representação no país. Identificamos aqui que esse lugar no país é historicamente marcado por uma classe detentora de privilégios, representada por um pólo de poder, que está distante dos trabalhadores, sem-terra e excluídos.

Sentido de resistência

Perguntamos: a quem serve o presidente? O que se espera que um homem nesse lugar coloque na cabeça, ou seja, quais ícones podem tatuar o corpo de um estadista no trono do poder? Para quem o presidente deve governar? É preciso recorrer ao interdiscurso para constatar que, na posição de presidente, é aceito o uso de botton, boné, lenço, chapéu e camiseta de sociedades ruralistas, de criadores de nelore, de uniões de proprietários de terras e de siglas de latifundiários. Nenhuma delas deflagra susto, medo ou pavor. Ao contrário, no âmbito do poder, elas circulam como pratas da casa, adereços do cenário político e peças necessárias à produção do país. Estranho e pavoroso é ostentar emblemas da plebe; expor ícones da senzala e deixar à mostra vestígios dos que se encontram na zona perigosa da pobreza e da indignação.

Nesse sentido, ao colocar o boné do MST, o presidente atuou como o tenor que desafina durante a ópera. Comportou-se como aquele que quebra os protocolos do lugar que ocupa e que destoa do circuito de ações que o poder permite. Daí, ‘extrapolou’, foi além do pólo constituído como permitido para a sua condição e ultrapassou a fronteira suportável da transgressão. Excedeu-se no limite do proibido e conjugou sua imagem à falta de bom-senso. Por não atuar dentro das convenções e sentidos que o seu papel impunha, o presidente virou notícia bombástica, pois no discurso da democracia, facilmente entendido como engodo, reza a ladainha de que o presidente, eleito por todos, deve governar para alguns, para os poucos detentores da terra e do capital. O boné do MST na cabeça presidencial é a metáfora invertida de todo esse processo, pois representa a evocação do movimento popular na esfera do poder constituído. Usá-lo é a síntese da insanidade e do perigo, porque fere aquilo que se entende pertinente e adequado para o cargo de presidente eleito e coloca em evidência aqueles sentidos de reivindicação, que sempre foram solapados pelo discurso dominante.

Marcamos que, em diversas outras ocasiões, Lula usou o boné do MST ao longo de sua trajetória sindical, militante e de candidato, mas foi a primeira vez que o fez do lugar de presidente. ‘Voltarei a usar o boné do MST, diz Lula’ é o recorte que escolhemos no endereço www.folha.uol.com.br, data de 12/07/2003, em que o presidente se pronuncia a respeito do caso: ‘Já devo ter tirado mais de 200 fotos com o chapéu do MST na cabeça: vou continuar pondo’. Ao se referir ao passado, o sujeito, no lugar de sindicalista, líder operário e simpatizante da reforma agrária, ganha voz, identificando o momento e as condições anteriores à eleição. Vale destacar que naquele momento em que Lula angariava apoios políticos, transitava com feroz arsenal de crítica a ruralistas e postava-se como candidato capaz de fazer a reforma agrária no país. ‘Já devo ter tirado’ materializa lingüisticamente tal trajeto político, cuja essência lutadora marcou os anos de chumbo, as greves do ABC paulista e as primeiras candidaturas de Lula: existe aqui o efeito de sentido de resistência com a marcação da quantidade bastante dilatada de vezes em que ele se apresentou ao lado da sigla MST, afinal foram ‘mais de 200 fotos’!

Realidade tamponada

A insistência do gesto de usar o boné do Movimento e a permanência dos sentidos que ele esboça (a saber, a reforma agrária, condenação do latifundiário, simpatia à luta popular) retornam na forma de um futuro impreciso e indeterminado, silenciado momentaneamente pelo lugar que o sujeito ocupa. Há uma interdição no presente, que faz a frase ‘Voltarei a usar o boné do MST’ significar um passo a ser dado não se sabe quando. O futuro verbal direciona os sentidos de boné e derivados para outra temporalidade, pois no presente não é estratégico para o sujeito-presidente se indispor com ruralistas nem com o setor do agronegócio. Esse jogo de posições, embora silenciado, significa e tece uma urdidura de sentidos sobre o estigma que existe em se filiar aos círculos populares, longe dos salões da corte palaciana. Melhor dizendo, a seqüência ‘voltarei a usar o boné’ nem desagradar o MST nem os latifundiários: o controle dos sentidos e as zonas de interdição e legitimação do sujeito-presidente demarcam mais do que performances pessoais, delineiam representações discursiva e ideologicamente determinadas.

Representações de poder e resistência tão marcadas que, quando levadas à exaustiva divulgação midiática, correm o risco de fazer cabeças rolarem. O portal do Diário Vermelho (site www.vermelho.org.br/diário) apresenta um texto de opinião da autoria de Bernardo Joffily, cujo título é: ‘O boné do MST e a cabeça presidencial’. Observamos que ‘cabeça’ evoca vários efeitos de sentido: o primeiro, sentido literal do órgão do corpo em que o boné foi depositado. Outro, que exige um gesto de interpretação, ou seja, ‘cabeça’ indicia o conjunto de idéias que compõe o projeto político do presidente. O cabeça do país, autoridade máxima legitimada por eleições diretas e merecedora da confiança do eleitorado, perdeu a cabeça quando usou o boné, e aqui ‘cabeça’ engendra os sentidos de lucidez, razão, bom senso como já discutimos anteriormente.

A suposta perda da credibilidade, transferida ao presidente, está marcada no texto citado acima: ‘O presidente da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), fazendeiro Antonio Ernesto de Salvo, opinou que a imagem da Presidência ‘ficou maculada’ quando Lula pôs na cabeça o boné. O artigo do banqueiro e senador Bornhausen (já interpretado anteriormente), presidente do PFL, concluiu que ‘o presidente da República e o MST assumem a causa comum, ou seja, estão embarcados na mesma nau insensata que inquieta a nação’. Qualificou o gesto de ‘insensatez’, ‘temeridade’ (‘nenhuma pode ser considerada mais grave’, ‘síndrome de Estolcomo’. O deputado Antonio Caiado (PFL-GO), ex-presidente da UDR e membro da bancada ruralista, achou que ‘esse gesto leva toda a população a entrar em estado de total perplexidade’. Para o líder do PSDB na Câmara, deputado Jutahy Magalhães Júnior (BA), Lula ‘quebrou o protocolo e não combate as invasões de terra. Já o líder tucano no Senado, Arthur Virgilio (AM), sempre mais estridente desde os tempos de Fernando Henrique, viu no gesto ‘uma sinistra e perigosa escalada que o governo tolera de maneira licenciosa, por vezes indecorosa, da agressividade do MST’

Pelo que se vê, a grande mídia divulga os sentidos que constroem uma imagem negativa do MST e do gesto do presidente; controla a polissemia na tentativa de manipular o gesto de leitura do internauta e direciona a representação lingüística, visual e simbólica para uma região naturalizada como a única possível de ser dita e narrar o fato. O que nos chama atenção é que na rede eletrônica, em geral, há um apagamento das condições históricas de produção dos dizeres; silenciadas elas aparecem como se os fatos não tivessem ancorados em uma sociedade, no nosso caso desigual no quesito distribuição de renda e de terra. O virtual tampona a realidade de modo a expor apenas fragmentos de sentidos.

Efeito-dominó

A emblemática foto Lula com boné do MST, reproduzida abaixo, apareceu estampada em quase todos os jornais e revistas impressos e/ou eletrônicos, isso sem falar da divulgação dela na obesa programação televisiva. A imagem do presidente de terno e gravata, vestido formalmente e ocupando uma sala no Palácio da Alvorada se contrapõe ao boné vermelho, tão usado nos barracos de lona preta, onde famílias inteiras insistem em sobreviver como refugiados dentro de seu próprio país. Está montada a radiografia da desigualdade: o confronto entre posições de classe, que tem como metáfora o corpo de Lula. Na cúpula política, incorpora-se um símbolo da base. O boné tatua a marca dos silenciados; dos que tiveram sua vez negada; daqueles que não são ouvidos fora do período eleitoral e cuja dor sempre pode e deve ser adiada. Pensamos que, dialeticamente, o boné inclui na cabeça presidencial os que são excluídos- seu fiel e histórico eleitorado- na mesma proporção em que promove a expulsão de Lula do lugar da credibilidade e confiabilidade por parte dos representantes da classe dominante. Para sintetizar, a fotografia condensa o jogo de poder derivado da luta de classes, e só a referência a este termo cunhado pela teoria marxista já provoca celeuma nacional.

Os artigos e notícias aqui interpretados nos apontam a direção de que as condições históricas de produção do dizer determinam o jogo tenso entre o poder instituído e legitimado e aquele que resiste de maneira marginal. Também indicam que a mídia enuncia de uma posição política, que nunca é neutra dentro do contexto de disputa e confronto de poderes. Configurada como o grande megafone da classe dominante, ela tende a ser hostil aos movimentos populares em geral, como o foi quando Lula era apenas um solitário líder sindical na estrada. Também tende a sentenciar julgamentos preconceituosos e sensacionalistas nas suas páginas, em cujo funcionamento discurso os significantes retornam sob a forma do mesmo; repetem o já-dito; silenciam a desigualdade social e deslizam para outras formas de condenação da luta camponesa e do MST. Em suma, a narrativa do boné e todos os seus desdobramentos retratam quão naturalizado pela ideologia é o estigma atribuído ao Movimento; quão retrógrada politicamente é a elite agrária do país e como a posição presidente é restritiva no tocante a atitudes ‘revolucionárias’, ainda que colocar o boné não tenha nenhuma relação com a realização da reforma agrária (é preciso ressaltar que, no primeiro ano de governo, Lula assentou apenas 30% do que era sua meta para o referido período).

Assim, chegamos ao nosso último recorte, um artigo de Marcelo Barros que correu e-mails e listas de discussão de esquerda, cujo título é: ‘O perigoso boné do presidente’. Com data de 24/7/2003, o autor expõe sentidos que dialogam com o que temos discutido até aqui. Sintetiza ele, entre irônico e inconformado, que ‘os meios de comunicação de massa (cujos proprietários, evidentemente, não defendem seus próprios interesses e agem apenas pelo bem comum) se encarregarão de mostrar que o culpado das atuais desordens sociais que correm no Brasil é o MST, e não o crescente desemprego urbano e acelerada ocupação capitalista do campo’.

O perigoso e ameaçador boné deixa de ser narrado como símbolo do MST e tem a sua posse atribuída ao presidente. Um efeito-dominó faz circular em cadeia os sentidos de gravidade, alarme e risco emprestados do movimento popular: primeiro em relação ao presidente, depois à governabilidade política e econômica, e, por fim, a todo o país. Temos aqui uma coreografia discursiva, que sem querer acertou na cabeça.

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Professora-doutora do Departamento de Física e Matemática da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (USP-Ribeirão Preto) e (**) professora-doutora do Departamento de Psicologia e Educação da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (USP-Ribeirão Preto)