Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Para salvar a situação

Quem atentou para o tom dos discursos do atual presidente brasileiro possivelmente registrou a impressão de que Lula fez uma contínua campanha ao longo de sua gestão. Mesmo na situação, não perdeu o hábito de ser oposição. Mas o ano que vem é ano de eleições, e por isso, mais campanha!

No dia 16 de dezembro, em Garanhuns (PE), estava Lula inaugurando nova escola do Senai, e o momento climático foram suas palavras patéticas, esta sua súplica: ‘Tenho pedido ao presidente da Câmara e aos deputados, pelo amor de Deus, vamos aprovar o Fundeb, pois ele é a salvação para o ensino fundamental e o Nordeste’.

Para salvar a situação, a educação e o Brasil, Lula, mais do que nunca, optou por ser oposição. Oposição contra a oposição. Oposição contra tudo aquilo que se oponha à sua reeleição salvadora. ‘O país’, acrescentou naquela ocasião, ‘não pode permitir que as eleições de 2006 possam atrapalhar o desenvolvimento do país.’ O desenvolvimento do país, supondo-se que seja decorrência de decisões de Estado, mais do que de governos ou partidos, não deveria pertencer a este ou àquele presidente. Se está implícito que Lula vê na sua reeleição a salvação econômica do país, será realmente importante que as antecipadas disputas não atrapalhem mesmo…

Jogo político

De mais a mais, a acreditar no desabafo de Fernando Henrique – ‘A política econômica dele é a minha’ –, tanto faz hoje em dia votar na oposição que quer voltar a ser situação ou na situação que não deixou de ser oposição…

‘Já podemos andar com a nossa própria perna’, disse Lula naquele mesmo discurso, referindo-se ao Brasil. Este Brasil-saci em que todo mundo acredita na hora das eleições, que todos querem salvar de seus tropeços e malandragens… Este Brasil quase-pós-CPI talvez já não acredite em salvações…

E mais uma vez Lula lançou mão do nome divino, em sua já explícita campanha: ‘Peço sempre a Deus, pois haverá o dia em que o povo vai começar a perceber o que é o jogo político’. Também nós podemos pedir a Deus que nos salve dos nossos salvadores. Que se multiplicarão no ano que vem, disputando a fé dos eleitores.

O povo já começou a perceber o que é o jogo político. Neste jogo, como na eterna mega-sena, muitos apostam (com que esperança!), mas muito poucos levam o prêmio.

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Doutor em Educação pela USP e escritor; www.perisse.com.br