Thursday, 21 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Sorria, você está sendo decodificado!

(Foto: Peggy und Marco Lachmann-Anke por Pixabay)

Guardar informações não é nada novo. Os homens primitivos já faziam isso com suas pinturas rupestres nas cavernas. Hoje, ao invés de utilizar as pedras para arquivar informações, usamos serviços de arquivamento nas nuvens e memórias flash.

Câmeras de monitoramento e vigilância, caixas eletrônicos, transações online e por meio de cartões de débito e crédito, smartphones e wearables, prontuários médicos e dispositivo de reconhecimento facial e biométrico. Sem contar a informação produzida e disseminada por meio das plataformas de mídias sociais e outras fontes na web. São apenas alguns canais e dispositivos que geram a todo instante amplas quantidades de informações digitais sobre nós.

E quando esses dados são analisados, cruzados, interpretados e estruturados podem fornecer informações preciosas sobre grupos específicos e indivíduos, dependendo do que se pretende descobrir.

Por exemplo, analisando a base de dados da Companhia de Engenharia de Trânsito de São Paulo (CET) podemos descobrir a velocidade média dos carros em determinado horário na Marginal Tietê. Até esse ponto, nenhuma novidade. Mas se cruzarmos essa informação com dados sobre abastecimento pago com cartão de crédito em postos de combustível daquela região, encontramos a média gasta por quilômetro percorrido na via expressa. Se adicionarmos também a base de dados com informações das operadoras de telefonia, descobrimos quanto tempo os motoristas conversam pelo telefone enquanto dirigem pela Marginal Tietê.

Essa é a mesma lógica utilizada pelo Waze, um dos aplicativos mais populares da atualidade. O GPS colaborativo Waze disponibiliza informações sobre o trânsito em tempo real e oferece recompensas para os usuários, com pontuações de acordo com ações realizada, como notificar acidentes e enviar comentários.

Este é apenas um pequeno esboço do que chamamos big data, termo relacionado à manipulação de grandes volumes de dados atualizados a todo instante, cujo tamanho está além da habilidade de ferramentas tradicionais de banco de dados em capturar, gerenciar e analisar.

As bases de dados da Receita Federal, das plataformas de streaming, telefonia e operadoras de cartão, além de hospitais e serviços públicos como companhias energéticas, saneamento básico e controle de tráfego, podem ser considerados grandes bases de dados. Contudo, nem todos os big data estão disponíveis e com acesso livre ao público. Bases de dados governamentais como a Receita Federal têm acesso restrito e controlado.

A partir da análise desses grandes volumes de dados, é possível entender e identificar uma infinidade de problemas que afetam a sociedade. Trazendo para a vida real a ficção, até então científica, de filmes como “Minority Report”, já temos a capacidade de prever crimes antes que aconteçam, mapeando e cruzando em tempo real boletins de ocorrências policiais de uma determinada região da cidade.

Analisando grandes fluxos de dados meteorológicos junto com informações sobre a interrupção do fornecimento de energia elétrica em áreas atingidas por furações por exemplo, podemos até prever quanto tempo levará para um bairro ficar sem luz. Sem contar a popularização da utilização da Inteligência Artificial para analisar dados.

E como o jornalismo poderia fazer uso desses dados? O caráter questionador, que defende a transparência, o interesse público e a justiça social fazem do jornalismo um defensor e utilizador dos dados abertos, bebendo dessa fonte para potencializar as informações contidas nas reportagens.

O jornal americano The New York Times e o britânico The Guardian, entre outros pelo mundo, contam com bancos de dados estruturados e abertos ao público. O New York Times foi pioneiro no uso de banco de dados na produção de notícias. Esses meios de comunicação entenderam a importância e o poder dos dados no futuro da sociedade. Por isso estão deixando de ser apenas meio de comunicação online para se tornarem produtores de conteúdo e informação de relevância social.

Contudo, esses dados, que podem vir de diversas origens, do reconhecimento facial ao biométrico até inputs em telas touchscreen também podem ser usados para nos vigiar, manipular, induzir ou até mesmo para medir nossos sentimentos e possíveis ações que tomaremos em um futuro próximo. Esse acesso a novas formas de analisar grandes volumes de informação está promovendo uma revolução no modo como vivemos em sociedade. Estamos prontos?

***
Eduardo Fernando Uliana Barboza é jornalista com especialização em Design Instrucional. Mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). Doutorando em Comunicação e Linguagens pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP).