Sunday, 17 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1314

Cidadão 2.0 no vigésimo aniversário da emissora

Um instrumento para dar transparência e visibilidade ao trabalho dos senadores, para estreitar suas relações com a sociedade. Com esta missão, surgia há 20 anos a TV Senado, a primeira emissora legislativa de alcance nacional. Em 5 de fevereiro de 1996, o então presidente do Senado, José Sarney, resumia a quem se destinava a TV: “Este serviço hoje inaugurado não é serviço para o Senado, mas para o povo brasileiro.”

O desafio de aproximar o trabalho dos parlamentares da sociedade fez surgir um modelo único de TV legislativa, que superou as naturais dificuldades de uma missão pioneira, como lembra a jornalista Marilena Chiarelli, primeira diretora da TV Senado. “Naquele momento, a gente tinha uma estrutura pequena, não tinha um modelo a seguir. Tivemos que inventar a TV que a gente queria…”, explica Marilena. No começo, eram só 15 horas diárias de programação, transmitidas apenas para Brasília. Em menos de um ano, passou a ficar 24 horas no ar. Hoje, o canal aberto da TV Senado está disponível em 20 capitais e seu sinal também chega a 40 milhões de residências por antena parabólica e TV por assinatura. Isto sem falar nos acessos ao conteúdo produzido das atividades legislativas, jornalismo e programas acessados por meio do site oficial e no canal YouTube.

A receita criada foi mérito dos profissionais da TV Senado, destaca Murilo Ramos, consultor em Comunicação, para quem o modelo de uma TV legislativa com características de TV de serviço público, mas com programações generalistas, é “sensacional e único no mundo”. Referência para Fernando Oliveira Paulino, diretor da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília (UnB), a TV Senado já se consolidou como uma ferramenta essencial para promoção da transparência e da democracia no país. “É claro que a cidadania brasileira espera que esse canal permaneça desenvolvendo o trabalho que faz e o expanda, promovendo ainda mais debates, discussões públicas e também oferecendo condições para que seus profissionais desenvolvam suas atividades sem interferência de grupos políticos que assumam a condução da casa”, avalia o professor.

Para o cientista político André César, que tem na TV Senado uma ferramenta de trabalho, o marco foi a CPI Mista dos Correios, em 2005, quando a audiência bateu recorde. “De repente, virou uma coisa que o Brasil inteiro parou. O dia que Marcos Valério foi depor parecia final de Copa do Mundo. Todo mundo parou para ligar a TV, as TVs convencionais colocando no ar ao vivo, muitas usando imagens geradas pela TV Senado. Então, isso mostra que alguma coisa está sendo feita. E isso é muito importante.”

Programação digital

As transmissões ao vivo do que acontecia no Senado tiveram impacto quase imediato na estratégia de cobertura dos outros veículos de comunicação e, mais ainda, sobre o comportamento dos próprios personagens centrais, os senadores. A própria produção legislativa cresceu com a garantia de que tudo estaria sendo registrado e levado até o cidadão. Hoje, vota-se mais e debatem-se mais as propostas de lei e os grandes assuntos nacionais. Funcionam no Senado quase 40 colegiados, entre comissões permanentes e temporárias, subcomissões e comissões mistas ou de inquérito. Há dez anos, eram menos da metade.

Em 2015, a TV Senado transmitiu ao vivo 256 sessões do Plenário, totalizando 920 horas. Foram 808 reuniões de comissões gravadas e transmitidas, com mais 1.415 horas de captação. Mesmo com toda esta enorme demanda de cobertura das atividades legislativas, graças ao esforço da equipe com cerca de 270 profissionais se produziu 1.550 programas e 1.280 chamadas de programação. Desafio que só pode ser enfrentado com renovados investimentos em tecnologia e capacitação de seus profissionais. Nos anos recentes, foram adquiridos e agora começam a ser instalados equipamentos e sistemas que deverão compensar o déficit tecnológico que a TV Senado enfrenta em relação à maioria das outras emissoras, inclusive as públicas. “2016 é o ano que marcará o início de nosso salto do analógico para o digital, com ganhos de qualidade para o cidadão e a sociedade. É uma mudança de paradigma, um momento importante para toda a equipe e para o Senado”, informa o diretor da TV, jornalista Sylvio Guedes.

A qualidade do que é produzido gera reconhecimento. Já são 21 prêmios, entre os mais importantes do país, por reportagens e documentários. Quatro vieram da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), pelo tratamento dado pela TV Senado a temas como hanseníase e populações de rua. “A TV Senado ganha prêmios porque mostra preocupação com temas sensíveis à sociedade”, define dom Leonardo Steiner, bispo auxiliar de Brasília e secretário-geral da CNBB.

Para marcar os 20 anos de criação da TV Senado, a Secretaria de Comunicação Social, ao invés de organizar eventos ou cerimônias, optou por presentear os espectadores com o que a emissora melhor sabe fazer: conteúdo de qualidade. Por isso, ao longo do ano, uma série de programas e documentários novos serão lançados. Filmetes de depoimentos com repórteres da TV, que narram momentos marcantes da TV sob a ótica de quem cobriu os fatos, já começam a ser veiculados nesta sexta-feira. Uma série de pequenos programas registrará trechos memoráveis dos debates e votações em Plenário e nas comissões. Outra linha de produção resgatará as leis mais importantes votadas pelos senadores nos últimos 20 anos.

Da série “Histórias Contadas”, que enfoca a trajetória política e pessoal de grandes nomes que passaram pelo Parlamento, três novos episódios já estão sendo finalizados, sobre os ex-senadores Eduardo Suplicy, Francisco Dornelles e Luiz Henrique. Já o projeto/documentário Cidadão 2.0 quer mostrar, sob a ótica do próprio cidadão, a sua interação com o Senado por meios dos inúmeros canais oferecidos para a participação do cidadão (e-cidadania, Ouvidoria, Alô Senado, veículos da Secom, mídias sociais etc.).

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Mayra Mesquita A. Cunha é jornalista