Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Sustentabilidade financeira define o futuro do jornalismo online

(Imagem: Depositphotos/ Bar Graph Analysis Strategy Business Concept)

De todos os dilemas enfrentados atualmente pelos novos projetos jornalísticos online, o mais difícil e menos discutido é o da sustentabilidade financeira a médio e longo prazo. Esta preocupação começa a ganhar corpo porque a esmagadora maioria das iniciativas não consegue sobreviver além da fatídica barreira dos dois anos e meio de funcionamento.

As tecnologias digitais de informação e comunicação (TICs) provocaram uma inédita multiplicação de projetos informativos graças aos programas e equipamentos eletrônicos que facilitaram enormemente a produção e disseminação de notícias. Mas o entusiasmo inicial das chamadas start ups (empresas iniciantes) e a expectativa dos usuários acabaram esbarrando no fator financeiro.

É muito frustrante batalhar para definir objetivos, formar equipe, montar a página, interagir com o público, formar uma comunidade de usuários e, depois de tudo isto, ser obrigado a jogar a toalha por falta de receitas capazes de cobrir despesas de operação, remuneração básica da equipe e ampliação da estrutura tanto técnica como de pessoal para atender as expectativas de sua audiência.

Até agora os empreendedores jornalísticos da era digital apostaram na hipótese de que o desenvolvimento do projeto permitiria a descoberta das condições necessárias para a sobrevivência da iniciativa. Este método empírico gerou mais frustrações do que casos de sucesso, e principalmente colocou os jornalistas diante de uma complexa decisão: optar por um sistema de mercado baseado na publicidade, ou apostar no público como principal fonte de receitas.

O problema é que, em ambos os casos, a maioria dos projetos mostrou que inovações tecnológicas e conteúdos criativos não se sustentam sozinhos, sem uma base financeira sólida. Iniciativas como Google, Facebook, Amazon, Apple e Microsoft, só para citar as mais famosas e exitosas, cresceram alimentadas pela cultura inovadora da era digital, mas acabaram aderindo ao modelo clássico da sustentabilidade através da publicidade paga e do controle monopolístico do mercado.

A Google e o Facebook controlam hoje 85% da publicidade paga na internet. No caso das páginas noticiosas e blogs, o controle chega aos 90%. Isto faz com que tanto as start ups da notícia, como versões digitais de publicações criadas antes da internet, sejam obrigadas a aceitar as condições do duopólio Google/Facebook que, além de parte da receita publicitária, ainda fica com a informação deixada por consumidores, justo a parte mais valorizada dos anúncios.

A solução está no público

Se a sobrevivência financeira já está difícil para os grandes jornais e revistas, ela tornou-se um desafio gigantesco para os novos projetos jornalísticos na era digital. Um desafio que só agora começa a ganhar sua real dimensão e atrair a atenção de pesquisadores do jornalismo. A primeira grande constatação, surgida a partir dos escombros de centenas de iniciativas frustradas, é a de que a solução mais provável para a sobrevivência de projetos jornalísticos online está no público e não apenas em financiamentos ou empréstimos.

Os que apostaram nesta alternativa também descobriram que os usuários do projeto precisam ser tratados como parceiros e não consumidores passivos como no modelo clássico da publicidade paga. Só que isto implica a necessidade de engajamento amplo da audiência com a proposta dos produtores de conteúdo jornalístico. Há inúmeros trabalhos acadêmicos já publicados sobre teorias do engajamento jornalístico, mas sua aplicação prática depende de uma avaliação detalhada da realidade onde cada iniciativa é ou será aplicada.
Isto obriga os empreendedores a serem tanto desenvolvedores de soluções noticiosas como pesquisadores do ambiente social, econômico, político e cultural, onde estão atuando. É uma sobrecarga de trabalho que pouquíssimos têm condições de suportar, principalmente porque nos primeiros 24 a 36 meses de existência, os erros são mais frequentes que os acertos, não há garantia de retorno financeiro e o entusiasmo é o principal combustível da maioria absoluta dos projetos.

A chamada Teoria da Prática tornou-se, nestas condições, a ferramenta ideal para a necessidade de integrar tecnologia, engajamento e gestão financeira num único pacote. Pesquisadores da Teoria da Prática, como o inglês Nick Couldry, a finlandesa Laura Ahva, a holandesa Tamara Witschge e Theodore Schatzki, da Universidade de Kentucky, nos EUA, para citar apenas os mais respeitados e conhecidos no meio acadêmico, afirmam que a investigação da realidade precisa ser feita sem ideias pré-concebidas para que ela ofereça resultados confiáveis.

Ahva propõe que, no caso de projetos jornalísticos, esta investigação seja feita a partir de três preocupações igualmente relevantes: a análise da realidade material onde o projeto está sendo executado, do tipo de atividade desenvolvida pelas pessoas afetadas pela iniciativa, e como elas descrevem as ideias e propostas do projeto. Em síntese um tripé formado por objetos, ações e discursos. A análise integrada destes três fatores não é um processo simples porque cada realidade tem características próprias que exigem uma pesquisa específica.

Tudo isto mostra que a busca da sustentabilidade financeira no jornalismo pela internet exigirá tempo, aprendizado e muita criatividade, mas pelo menos já se tem um caminho para explorar.

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Carlos Castilho é jornalista, graduado em mídias eletrônicas, com mestrado e doutorado em Jornalismo Digital e pós-doutorado em Jornalismo Local.