Uma foto de Pablo Torres Guerrero, fotógrafo do jornal espanhol El País, sobre o atentado terrorista em Madri, foi alterada pelo Jornal do Brasil e pelo Diário de S.Paulo em suas primeiras páginas desta sexta-feira [12/3/04].
A imagem, que também foi capa dos principais jornais no mundo todo, mostra vítimas sendo atendidas ao lado de uma composição do metrô. Na foto original, há um pedaço de corpo humano no canto esquerdo inferior, que foi digitalmente apagado pelos dois jornais brasileiros.
Para Marcos Barros Pinto, editor-executivo do Jornal do Brasil, a foto era indiscutivelmente a melhor e suficientemente chocante. ‘Por isso pedi ao Departamento de Imagem para eliminar o pedaço do corpo, pois este fragmento não diminuía nem acrescentava em nada a foto’. Ele alega ter pensado num possível protesto de leitores: ‘Quando demos a foto de um palestino sendo torturado, a seção de cartas foi tomada por leitores indignados com a publicação da imagem, com frases do tipo não exponham isso na primeira página, dêem essa opção aos nossos filhos. Mas acho agora, pensando friamente, que deveria ter avisado ao leitor que a imagem [do atentado] foi alterada’.
O Estado de S. Paulo e a Folha de S. Paulo deram a foto sem alteração. Para o editor Wilson Pedrosa, de O Estado de S. Paulo, ‘não se cogita alterar uma foto. Esta imagem foi escolhida por sintetizar melhor a tragédia, por transmitir a sensação do que tinha acabado de acontecer. Em outras ocasiões já decidimos por não publicar uma imagem por achar que isso poderia chocar os leitores’. Já Flávio Florido, editor-assistente da Folha de S. Paulo, diz que ‘apesar de a imagem ser cruel, alteração é contra os princípios éticos do fotojornalismo, por isso publicamos da forma em que veio’.
A Reuters, agência que comercializou a imagem, só tomou conhecimento das alterações depois da publicação. ‘É um absurdo e pode gerar processos contra os jornais’, avalia Paulo Whitaker, que integra a equipe de fotografia da agência no Brasil. Segundo Whitaker, a empresa aguarda a chegada de Rickey Rogers, chefe do departamento de fotografia, que não se encontra no Brasil, para avaliar o caso.
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Da redação do Fotosite