Sunday, 22 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1319

2015: muitas demissões e experiências nem sempre positivas

No ano em que a TV brasileira completou 65 anos de existência, muita coisa aconteceu. Antes mesmo de 2015 se iniciar, já se especulava bastante em relação a como seria o ano na TV Record. No fim de 2014, a emissora trocou os apresentadores do matutino Hoje em Dia. Saíram Chris Flores, Celso Zucatelli e Edu Guedes e entraram, com muitas críticas do público, César Filho, Ana Hickmann e Renata Alves. Havia também especulações de negociação entre a TV Record e a apresentadora Xuxa Meneguel, o que foi consolidado em março de 2015. A rainha dos baixinhos estreou o programa na nova casa em agosto, com falhas técnicas perceptíveis aos telespectadores menos atentos. Com livre inspiração no talk show norte-americano The Ellen Degeneres Show, Xuxa apareceu mais próxima do público em seu primeiro programa ao vivo na TV.

No início de 2015, o recém-estreado telejornal Hora 1 da Notícia, apresentado por Monalisa Perrone na TV Globo, se consolidou no horário das 5 horas da manhã. Uma opção de informação para o público, que “acorda cada vez mais cedo”, como dizia a chamada de estreia.

Ainda no jornalismo, vale destacar em 2015 a cobertura política de todas as emissoras na operação Lava Jato e a cobertura internacional dos ataques terroristas pelo mundo, como os de Paris, em janeiro, ao jornal Charlie Hebdo, e depois, em novembro, à casa de shows Bataclan e outros pontos da cidade.

A jornalista Maria Julia Coutinho se tornou a apresentadora oficial da previsão do tempo do Jornal Nacional. A forma pela qual o âncora William Bonner passou a chamá-la, Maju, chamou a atenção de todos e reforçou a hipótese de que o telejornal está cada vez mais informal. Em julho de 2015, Maju foi alvo de ataques racistas em uma rede social, o que desencadeou a campanha na internet #SomosTodosMaju.

50 profissionais foram demitidos em julho

No ano em que a TV Globo completou seu cinquentenário, foi exibido um show comemorativo com jovens artistas brasileiros em abril. Também foi preparada uma faixa de reprises de produtos de teledramaturgia: “Luz, Câmera, 50 anos”. Minisséries e séries da emissora foram editadas em forma de telefilmes, com duração de cerca de duas horas. Ainda em relação a reprises, o Vale a Pena Ver de Novo, da TV Globo, que neste ano completou 35 anos no ar, se destacou com a novela O Rei do Gado, de 1996. A faixa de reprises alcançou altos índices de audiência e provou que um produto de qualidade é atemporal.

Inclusive, materiais de acervo foram bem explorados neste ano não somente pela TV Globo. A TV Record também entrou nessa seara com reprises de duas novelas no período da tarde, além de reeditar o reality Troca de Família, que ganhou uma nova proposta: o reencontro das participantes principais após anos de sua exibição original.

O reality de confinamento de pessoas (teoricamente) famosas, A Fazenda, estreou sua 8ª temporada na TV Record com um novo apresentador, o “urbano” publicitário Roberto Justus, que trocou seus paletós e gravatas por figurinos à la caubói contemporâneo. Justus, que substitui Britto Jr., cumpriu sua tarefa, porém ficou muito preso ao TP (teleprompter). A temporada morna só foi salva pela participação da ex-apresentadora infantil Mara Maravilha, que com seu comportamento explosivo rendeu várias brigas e confusões.

Britto Jr. também viu seu outro programa na casa, Programa da Tarde, ser extinto, após os Jogos Pan-Americanos em Toronto, que a TV Record cobriu com exclusividade na TV aberta.

Muitos profissionais da área perderam seus empregos por conta de cortes orçamentários das emissoras. A Band demitiu dezenas de profissionais e extinguiu o programa Agora é Tarde em março. Já a TV Cultura de São Paulo, que é mantida pela Fundação Padre Anchieta, também acabou com programas clássicos como Viola Minha Viola e Provocações, apresentados respectivamente por Inezita Barroso e Antônio Abujamra. Ambos morreram em 2015. Em julho, cerca de 50 profissionais foram demitidos, o que acarretou em um movimento na internet, chamado Eu Quero a Cultura Viva, que resultou em uma petição. Até o fechamento deste artigo eram mais de 126 mil assinaturas. Se você quiser também assinar, clique aqui .

A programação infantil no SBT

O principal gênero televisivo brasileiro, a novela, teve como seus representantes em 2015 duas tramas religiosas: Os Dez Mandamentos, da TV Record e Além do Tempo, da TV Globo. A primeira, que terá uma continuação em 2016, conta a trajetória bíblica de Moisés, e Além do Tempo, que é a novela das 18h da Globo, trata do universo do espiritismo de uma forma pioneira: todos os personagens reencarnam (com mesmo nome, para fácil compreensão do público) cerca de 120 anos depois. Arquétipos e outras características melodramáticas estão presentes nas duas novelas, o que reafirma a fórmula de sucesso é fazer um trabalho seguindo o padrão já estabelecido, na maioria das vezes.

Fugindo dessa regra, outro sucesso do ano foi a novela das 23h da TV Globo, Verdades Secretas. A trama tratou do mundo da moda, com prostituição e drogas e tinha como enredo principal um triângulo amoroso com mãe e filha. A atriz Grazi Massafera, que interpretou uma modelo que se vicia em crack, foi elogiada pelo público e crítica.

A muitas vezes bem-sucedida “novela das oito”, agora sendo exibida após as 21h, da TV Globo, começou o ano sendo representada por Babilônia, que não decolou “no Ibope”, como popularmente os números de audiência são chamados. Sua sucessora, A Regra do Jogo, inovou ao apresentar um novo formato de gravação em estúdio, a caixa cênica, onde os atores não se preocupam em marcar um ponto fixo, pois pode haver câmeras escondidas no cenário. A Regra do Jogo tem uma trama complexa e, apesar de um começo não tão fácil, está marcando bons índices de audiência.

Por falar em pontos de audiência, o cenário de medição na TV aberta tinha tudo para ser agitado em 2015, com a chegada do instituto GfK – https://www.observatoriodaimprensa.com.br/tv-em-questao/um-novo-olhar-para-audiencia-de-tv-no-brasil/. Porém, os primeiros resultados ainda não foram divulgados abertamente e, pelo que se especula na imprensa, os números não são muito diferentes do Ibope, seu único concorrente.

O espaço dedicado à programação infantil da TV aberta vem sendo cada vez menor, salvo raras exceções, como o Quintal da Cultura, na TV Cultura. Outro exemplo é o Bom Dia & Cia, matinal do SBT. Em julho, uma decisão judicial determinou o afastamento dos apresentadores mirins Mateus Ueta e Ana Júlia. Por conta disso, quem assumiu a apresentação do programa foi a diretora Silvia Abravanel, que mesmo pouco experiente com o vídeo, está melhorando a cada em frente às câmeras. Vale destacar que o SBT, além do Bom Dia, exibiu em 2015 duas novelas infantis – Chiquititas e, depois, Cúmplices de um Resgate. Embora sejam adaptações de textos mexicanos, a produção é totalmente brasileira e tem um público cativo e fiel. Já o Criança Esperança, que completou 30 anos em 2015, teve a edição desse ano modificada. Com um show em estúdio, o programa da TV Globo se assemelhou ao Teleton, maratona exibida pelo SBT. Outro programa da TV Globo que comemorou aniversário neste ano foi o vespertino Malhação. A série completou 20 anos no ar e já está na 23ª temporada.

O lançamento do Globo Play

Os domingos na TV aberta tiveram poucas mudanças significativas. A briga pela audiência ficou entre TV Globo, com o Domingão do Faustão, TV Record com o Hora do Faro, e SBT com Eliana, que em 2015 passou a ser apresentado ao vivo, e Programa Silvio Santos. Gugu Liberato, que durante anos foi peça-chave na guerra de audiência com seu programa dominical, estreou na TV Record um programa durante a semana. Em um formato de exibição não muito comum, de terça a quinta, Gugu estreou a primeira temporada do seu novo programa com uma entrevista sensacionalista com a assassina confessa dos pais Suzane Von Richthofen. A partir daí, vieram outras pautas sensacionalistas, como o goleiro Bruno, as ex-modelos Andressa Urach e Roberta Close, e até a volta (mais comportada) do quadro “Banheira do Gugu”. Dessa vez, as modelos não usavam mais biquínis, como na década de 1990 no SBT; agora eram tops. Já os homens trocaram as sungas por shorts. A título de comparação, o quadro passava nos anos 1990 à tarde e o quadro na Record passou à noite, após as 22h.

Em 2015, a Rede TV! estreou os programas Melhor pra Você, Mariana Godoy Entrevista, Chega Mais e Sensacional. Os dois últimos, aos domingos. Já a TV Globo apostou em projetos próprios com É de Casa e o humorístico Tomara que Caia, cuja primeira temporada não emplacou.

Programas já antigos na grade da TV Globo foram repaginados, como o Video Show, que agora é exibido ao vivo e apresentado de forma leve e bem humorada por Monica Iozzi e Otaviano Costa, e o novo Zorra, que antes se chamava Zorra Total.

O ano também foi marcado por programas de competição (ou seriam reality shows?) com formato de culinária. Hell’s Kitchen, no SBT teve sua segunda temporada em 2015; o mesmo aconteceu com Master Chef, da Band, que além da versão com participantes adultos, teve outra com crianças, o Master Chef Kids; a TV Record estreou o Batalha dos Confeiteiros, com o norte-americano Buddy Valastro interagindo com os participantes brasileiros, com um recurso de dublagem para compreensão dos telespectadores.

Em dezembro, foi anunciado o fim do CQC, da Band, que lançou vários humoristas do cenário atual da TV brasileira. Em 2015, o comando da atração passou a ser de Dan Stulbach. Ele entrou no lugar de Marcelo Tas. Além das programações especiais de fim de ano, como é rotineiro em todas as emissoras, a TV Globo exibe um remake do humorístico Escolinha do Professor Raimundo, em parceria com o Canal Viva.

Por fim, um ato que merece destaque em 2015 foi o lançamento do Globo Play, que já teve mais de dois milhões de downloads. A diferença do aplicativo da TV Globo, que permite acesso a conteúdos de entretenimento e jornalísticos da emissora, é a possiblidade de assistir em tempo real à programação da TV Globo de acordo com a região que o usuário está. Ligado ao GPS, uma pessoa que está em São Paulo assistirá, por exemplo, ao telejornal local e, consequentemente, também às propagandas exibidas no intervalo comercial da região específica. Conteúdo e comercial interligados.

E que venham as retrospectivas, vinhetas de confraternização e, obviamente, o especial de Roberto Carlos.

Até 2016, com Olimpíadas no Rio, eleições municipais, novas novelas e, esperamos, mais qualidade na TV brasileira.

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Julio Cesar Fernandes é radialista, jornalista, mestre em Comunicação e professor universitário. É autor do livro A memória televisiva como produto cultural: um estudo de caso das telenovelas no Canal Viva