A terceira dimensão está na moda. Cinema, televisores, internet e videogames, quase tudo à nossa volta precisa necessariamente ter uma terceira dimensão para conquistar o interesse do público. No passado testemunhamos a introdução das imagens, das cores, das transmissões digitais em alta definição e de tantas outras inovações que aproximam nossos telejornais da realidade. Agora nos vemos diante de uma revolução com a produção e transmissão de telejornais interativos e transmídia: ao vivo, via TV aberta e pela internet. E no futuro muito próximo veremos telejornais em terceira dimensão e com do formato de videogames. Mera questão de tempo.
Estamos diante de enormes desafios: ou o jornalismo muda, conquista novos formatos, linguagens e, principalmente, recupera o interesse dos jovens; ou, pior do que a morte, o jornalismo corre o risco de se tornar irrelevante para as futuras gerações.
Ou seja, se você acredita que a prática do jornalismo e principalmente do ensino de jornalismo estão em crise, se você está insatisfeito com a situação atual do jornalismo e de suas rotinas profissionais, talvez o jornalismo transmídia, em 3D – em “realidade virtual” e no formato de games – possa ser a solução.
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Mas, afinal, o que seria um telejornal em 3D ou um telejornal com formato de videogames?
Por que tantos jovens se afastam dos jornais e dos telejornais porque os consideram ultrapassados, redundantes e chatos?
Agora, imagine como seriam os nossos telejornais produzidos e assistidos em 3D ou em realidade virtual. Em vez de “assistir” às notícias dos telejornais, você estaria presenciando ou “participando” dos eventos mostrados na TV. Uma quebra total nos paradigmas mais básicos do jornalismo atual: eu falo, conto uma história, mostro uma imagem direto de algum lugar distante e você, em casa, assiste a tudo de forma passiva, imóvel no seu sofá ou quietinho no seu celular.
Esta nova realidade e esta nova possibilidade já existem. O primeiro passo parece que já foi dado. E, para variar, não foi na Rede Globo. A Record News anunciou que o seu principal telejornal será transmídia a partir de segunda-feira (23/5). O Jornal da Record News, com o âncora Heródoto Barbeiro, será transmitido ao vivo em TV aberta e pela internet. Pode parecer incrível, mas até hoje você não podia assistir aos telejornais brasileiros ao vivo, em tempo real, pela internet.
Mas a grande novidade, no entanto, é que o portal da Record exibirá imagens do estúdio 15 minutos antes de o telejornal entrar no ar. Após a transmissão pela televisão e durante os intervalos comerciais, quem estiver na web poderá acompanhar o noticiário.
A cada dia que passa parece que estamos mais próximos da transmissão dos bastidores dos telejornais pela internet. Quem sabe um dia poderemos assistir às reuniões de pauta e edições de matérias que serão transmitidas em nossos telejornais ao vivo, via internet. Sonhar não custa. Convém registrar que a TV UERJ online, a primeira TV universitária brasileira na internet, já transmitia telejornais ao vivo e bastidores dos telejornais desde 2001.
Hoje, os telejornais já podem ser vistos com imagens e sons em alta definição. Agora, ao vivo, pela internet, caminhamos para a próxima fronteira: os telejornais em 3D.
Assim como as redações jornalísticas ainda são reféns das rotinas profissionais do século 19, as nossas universidades não ensinam jornalismo utilizando os formatos, as linguagens e as tecnologias inovadoras do século 21. Nossos cursos de jornalismo não ensinam as habilidades necessárias para um mundo que muda. Essas habilidades poderiam ser desenvolvidas jogando games de criação ou de simulação, por exemplo. A universidade e os cursos de jornalismo separam radicalmente o prazer da aprendizagem.
Os jogos interativos já representam o quarto meio de comunicação mais importante para toda uma geração de jovens americanos entre 18 e 34 anos, e já teriam superado o interesse pelos meios impressos, como jornais e revistas. Uma pesquisa divulgada pela Nielsen Research em já em 2005 revela que esses jovens utilizam entre 6% a 15% do tempo dedicado às mídias somente com videogames. E esses números tendem a crescer rapidamente nos próximos anos. Na mesma pesquisa, constatamos que grande parte dos americanos reduz ainda mais o tempo na frente da telinha e opta pelas aventuras interativas dos jogos virtuais eletrônicos.
Game simula jornalismo
Mas algumas empresas já começaram a perceber a grandeza e importância deste mercado. A Ubisoft, dos Estados Unidos, produziu o game Imagine Journalist – ou “imagine-se jornalista”. Esta primeira versão é para crianças e adolescentes que sonham em ser jornalistas. Crianças que querem “brincar” de trabalhar como repórter. Essa é a proposta da série “Imagine”. “Apesar de os videogames de última geração poderem simular a realidade com facilidade, Imagine Journalistse propõe a colocar mais glamour na ocupação e inverte certas lógicas dela”, explica o release de lançamento do videogame.
Na série “Imagine” produzida pela Ubisoft, a lógica é invertida. Em vez da fantasia, os games dessa linha adotam simuladores de profissões. Sai a carga dramática e entram licenças poéticas como repórteres trabalhando de bicicleta. “O jogador é convidado a começar sua carreira como colunista em um jornal regional para, no final, ser uma estrela internacional de televisão com seu programa próprio. Entre um e outro, o jornalista virtual tem uma vida profissional cheia de atribuições, como montar capas de revistas, tirar fotos, ir a coletivas de imprensa, entre outros”, informa o material de divulgação do jogo. É uma simulação bem divertida da profissão. Você pode dar uma olhada no game aqui.
IV Gamepad
Há muitos anos me interesso pelas possibilidades profissionais educacionais dos videogames. Em breve teremos os primeiros jogos interativos, ou simuladores, que recriarão redações virtuais nos bons cursos de jornalismo, em nossas universidades públicas e privadas. Mera questão de tempo. Esses novos videogames se tornarão ferramentas poderosas para a produção e ensino de um jornalismo mais inovador e relevante.
Videogames podem nos divertir, podem ensinar a destruir e matar, mas também podem ser educativos e inovadores. Podem ajudar mudar uma profissão em crise de público e de identidade.
Apesar da crise, o jornalismo certamente continua sendo a “melhor profissão do mundo”. Isso ainda não mudou. Mas, fazer ou aprender a fazer jornalismo hoje pode ser uma verdadeira tortura para os jovens. Aquele mesmo jovem curioso, rebelde e insatisfeito com tudo, que busca na profissão uma forma de denunciar as injustiças, de brilhar na profissão e, talvez, mudar o mundo.
Se você está interessado no futuro dos games, aproveito para indicar o IV Gamepad, o Seminário de Games, Comunicação e Tecnologia da Universidade Feevale, em Novo Hamburgo (RS), na sexta-feira e no sábado (27 e 28/5). O evento tem por objetivo reunir acadêmicos, pesquisadores, desenvolvedores da área de games e empresários para discutir o papel dos games na sociedade, tanto com foco no entretenimento como em seu uso empresarial, educacional e comunicacional. Mais informações no site dos organizadores, aqui.
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Jornalista, professor de Jornalismo da UFSC, autor do Antimanual de Jornalismo (Editora Senac SP)