As recentes perdas para o humor brasileiro, na semana passada com a morte de Chico Anysio e ontem (27/03), com a morte de Millôr Fernandes, coincidem com novas apostas do gênero na TV aberta. Nada de muito inovador, mas sim novas roupagens para velhas fórmulas que vêm fazendo sucesso ao longo das últimas duas décadas. A primeira estreia, amanhã, às 23h25, é a do novo programa da trupe do Casseta & Planeta na Globo, depois da pausa de pouco mais de um ano, após 18 ininterruptos no ar. Agora, sob o título Vai Fundo, o casseta perde a alcunha de “Urgente”, o que vai refletir no novo conceito da atração.
“O programa não é mais feito na semana que vai ao ar, baseados em assuntos urgentes da semana e naquelas paródias da TV, que já fazíamos desde o tempo do TV Pirata”, explica Claudio Manoel, líder do grupo, que também abandona, por ora, os personagens Massaranduba e Seu Creysson. “Agora, tudo é roteirizado, gravado com antecedência e, conforme sugere o título, 'vamos fundo' em um tema por programa, como amor, maracutaia, celebridades, ecologia, entre outros”, diz. Segundo Claudio Manoel, durante os 12 episódios previstos para o primeiro semestre (mais oito estão encomendados até o fim do ano), 80% do tempo será dedicado a textos previamente roteirizados e 20% a assuntos da semana.
Para romper com o modelo de programa anterior, o grupo optou por não fazer mais nenhum personagem conhecido do público, mas personagens diferentes a cada esquete, com convidados especiais e músicas originais compostas por artistas famosos e um resgate do que o casseta fazia em seus primórdios: humor na rua, no “corpo a corpo” com o público. “Estávamos cansados de ficar trancados nos estúdios do Projac. Acho que o programa tende a ficar mais quente e espontâneo com as gravações externas”, acredita Claudio Manoel.
“Não é resposta a outros programas”
Com a saída de Maria Paula, que acompanhou o grupo desde seu início da TV, a trupe buscou novas caras e apostou em três jovens talentos. Além da vencedora do BBB 11, Maria Melilo, que passou a fazer oficina de atores da Globo, e da humorista Miá Mello (ex-Legendários), o Casseta contratou o ator Gustavo Mendes, que ficou famoso por sua paródia desbocada da presidente Dilma Rousseff, no site Kibe Loko. “Nesse tempo que ficamos longe da TV, cada um tocou seus projetos pessoais, mas também procuramos muita coisa nova para o programa. Eu e o Marcelo (Madureira) nos aproximamos do pessoal que faz internet e stand up”, conta o casseta Hélio De La Peña. “A ideia sempre foi dar uma renovada.”
A ideia de mudar, segundo o grupo, é antiga. “Mas não dava pra gente trocar os quatro pneus com o carro andando”, diz Beto Silva. O grupo, porém, nega que o ano sabático tenha ocorrido por causa da queda de audiência e da ascensão de outros programas de humor.
“Não é uma resposta aos outros programas que surgiram depois da gente. Mesmo porque, no horário que vamos ao ar não concorremos com nenhum deles”, afirma Claudio Manoel. “E, outra: eles surgiram bem depois da gente, os argentinos que criaram o CQC, por exemplo, nos assistiam. Todos mais nos homenageiam e dão seguimento ao que sempre fizemos do que rompem com o nosso tipo de humor.”
***
[Alline Dauroiz, do Estado de S.Paulo]