Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Para onde vai nossa televisão?

Para onde vai nossa televisão? Eis uma pergunta que venho fazendo há algum tempo, desde que me tornei uma comunicadora. Como já se sabe, a cada dia cresce mais a falta de qualidade nos programas da televisão brasileira. São programas inassistíveis, se é que existe esta palavra, quando, sem outra opção, somos “obrigados” a ver. Não quero aqui neste artigo ser interpretada como apocalíptica, mas o rumo que estes programas vêm tomando me leva a pensar que, rapidamente, o quadro só tende a piorar. Em primeiro lugar, não estou referindo-me à qualidade da TV paga, mas sim, à aberta, à qual obviamente, a maioria da população, inclusive eu, possui acesso.

A começar pelo telejornalismo. Ainda não se sabe até que ponto o jornalismo brasileiro está disposto a ir para garantir sua audiência. Mas pelo que vemos, ele se dispõe a ir longe. É possível percebê-lo quando analisamos a qualidade e a credibilidade das notícias que recebemos diariamente. Em vez de notícias que tratem de forma objetiva e clara os acontecimentos, os problemas da sociedade, somos bombardeados por conteúdos de alto teor sensacionalista e entretenimento exagerado.Notícias relacionadas a escândalos políticos, violência, dramas e conflitos humanos prevalecem no noticiário, de modo que a promoção do direito à cidadania, à igualdade e à informação de qualidade é simplesmente descartada.

Faça um teste, caro leitor. Não é preciso ser um comunicador, sociólogo ou crítico para perceber. Tente assistir à maioria dos jornais de todas as emissoras abertas (Globo, Record, SBT e Bandeirantes), em um dia. Você conseguirá observar que as notícias e focos são praticamente os mesmos e há uma grande fragmentariedade nas informações, ou seja, não conseguimos reter conhecimento algum, pois as informações não têm contexto social, histórico ou cultural. Em parte, isso não é alcançado por causa do tempo destinado às noticias televisivas, que vão de um a cinco minutos apenas.

O destino dos jovens

Outro tipo de programação que vem diminuindo sua qualidade são os programas de entretenimento. Nem é preciso dizer muito. Como nos sentimos assistindo ao Domingo Legal, ao Eliana, ao Domingão do Faustão ou ao Programa do Gugu (só para ilustrar alguns exemplos)? São programas literalmente horríveis, grotescos, sensacionalistas. Que programas são esses que têm como pauta mostrar a música “Ai, se eu te pego”, em todos seus ângulos possíveis ou fazer um concurso do indivíduo mais parecido com o jogador Neymar? E os reality shows? Nem é preciso dizer muito, pois posso parecer redundante, mas o que é isso, um modo de deseducação, em que corpos são elevados ao seu nível máximo de importância, de narcisismo?

Não posso deixar de citar também as nossas novelas. Elas são um caso à parte. Reforçam os estereótipos, subestimam nosso senso crítico e minimizam o ser humano, classificando-o apenas como bom ou mau. Por que ao invés de tantas novelas transmitidas diariamente (um total de cinco), a rede Globo não dispõe de programas educativos que reforcem a cidadania, os valores humanos e culturais, para que tenhamos uma população mais bem informada e educada? Por que bons programas não podem ser transmitidos em horário nobre, ao invés de horários em que a maioria das pessoas não têm possibilidade de ver?

Como se pode perceber, este artigo está recheado de perguntas, questões que vêm me atordoando. Acredito que muitas pessoas, assim como eu, vêm questionando a respeito. Nossa sociedade vem caminhando num rumo incerto, inseguro. A pós-modernidade traz consigo inúmeros problemas, como a própria falta de segurança do que pode acontecer no futuro. E neste caso a mídia reforça e ao mesmo tempo espelha essa mudança pela qual a sociedade está passando. Vivemos num mundo mais liberal, onde se tornaram normais algumas atitudes que, poucos anos atrás, seriam inaceitáveis. Mas o que realmente mais me preocupa é o destino dos jovens receptores dessa nova “cultura midiática”. O que vai ser de sua formação educacional, cultural ou profissional? Como poderão tomar decisões com capacidade reflexiva, se as informações que recebem já vêm prontas, empacotadas, sem que se necessite reflexão?

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[Paula Roberta Santana Rocha é mestranda em Comunicação pela UFG]