O espaço dedicado às crianças na televisão brasileira aberta é cada vez menor. E, de acordo com as emissoras comerciais, justificativas não faltam. Duas se destacam. Primeira: a produção infantil é cara e não há anunciantes suficientes. Segunda: a criança, hoje, pertence a uma geração que não está mais ligada à tevê, mas, sim, às tecnologias digitais. Qual é a conclusão dos canais? Não há público nem interesse. Neste sentido, eles enxugam a pequena programação infantil, muitas vezes se limitando a exibir desenhos animados importados, apostando em programas voltados para a família.
Esta realidade não é de hoje. Pelo contrário, vem sendo desenhada a partir dos anos 80, quando as produções focadas nas crianças foram sendo substituídas pelos programas de auditório com Xuxa e Cia. De lá para cá, produções nacionais, originais e criativas, foram esporádicas. Foi, ao longo deste período, que se criou a tendência de atribuir às TVs públicas educativas, geridas pelos governos, o papel de produzir para as crianças, com qualidade e regularidade. Mas, mesmo nesse contexto, no qual havia recursos públicos disponíveis, sem depender de anunciantes, a produção infantil ficou sempre diante dos interesses políticos.
Regras do jogo
Na TV Brasil, que atualmente reúne todas as antigas TVs educativas do governo federal, não há novidade. O que se vê são produtos nacionais criados em períodos anteriores, quando os interesses dos gestores contemplavam o olhar infantil.
Sim, há exceções que, como se diz, comprovam a regra. O SBT acaba de estrear o remake da novela infantil Carrossel. A Bandeirantes exibiu, recentemente, a série Julie e os fantasmas. A Globo lançou, em janeiro, a série animada do Sítio do Picapau Amarelo, aos sábados. E a TV Cultura trouxe, no mês passado, o Cartãozinho Verde, uma mesa-redonda sobre futebol, no qual os analistas são as crianças.
Achar que isso é razoável é julgar, acreditar e reiterar que os interesses do mercado e os políticos continuam ditando as regras do jogo e que não há sociedade e governo que possam interferir.
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[Marcus Tavares é professor e jornalista especializado em Educação e Mídia]