A velha TV da sala, com sua centena de canais, agigantou-se e está sendo transmitida para táxis em movimento, celulares no metrô e, no futuro próximo, em HD e, quem sabe, em 3D para qualquer tela. Acabou a televisão que conhecíamos até pouco tempo atrás. E, com essas e outras mudanças de tecnologia, mudam os modos de produção, os modos de distribuição e assim mudarão os conteúdos deste planeta chamado audiovisual. No futuro, tudo será tela. Agora, no Natal de 2012, o grande presente popular será um tablet. A segunda tela estará ligada nas redes sociais – enquanto assistimos ao show do Roberto, comentando as músicas com os nossos amigos da web.
Ou será que a própria tela da sala vai se dividir, metade TV e metade internet, num show de interatividade? Os programas ao vivo serão o coração da TV do futuro, como diz o Boni? E a regulamentação de faixa etária? Como ficará, se as telas tendem para a vida sem fronteiras? O que é “conteúdo impróprio” para tempos onde se nasce no YouTube? Existirá programação regional de TV? Quem contará o que acontece no meu bairro? Como competir com a “qualidade do mundo”? E as histórias encantadas em novelas, filmes e minisséries? Devem continuar, claro, afinal uma boa história é o começo e o fim de tudo.
Mas as obras de ficção deverão ser fortes on demand. E aí como fica a publicidade de trinta segundos que é o que ainda sustenta a TV? Vai virar product placement (inserção de produtos nos programas)? Branded content (conteúdos vinculados às marcas)? O comércio nas telas tende para o merchandising?
Onde estamos e para onde vamos
Se estaremos em interatividade e conteúdo transmídia, como ficarão as narrativas? E, falando em futebol, a Copa de 2018 vai ser transmitida pela Apple? Faz sentido, certo? Serão muitas fontes de informação e entretenimento. Quem assistirá tanta notícia? E como ficarão os direitos autorais de quem cria, se temos tudo tão fácil para download gratuito? Novas formas de encriptar o conteúdo surgirão? Ou a invenção pirata será sempre mais rápida? O mercado será o dono do conteúdo? As marcas terão canais próprios com conteúdos significativos? O que é significativo? O desejo de mercado pode se unir ao objetivo social? Quem cobrará isso? O público, o Estado? Como farão isso? E a educação via TV?
Hoje, a pergunta que sempre me ocorre é: por que não vemos a TV correr riscos? Será que as agências de publicidade, aliadas às emissoras tradicionais de TV, conseguirão atrasar a revolução audiovisual por muito mais tempo? As empresas de telefonia virão destoar o coro dos contentes produzindo conteúdo interativo em escala industrial? A TV continuará sendo a detentora da maior fatia de publicidade por quanto tempo? A internet já está em segundo, crescendo. Como ficará a medição de audiência de um programa que pode ser exibido em tantas telas em tempos diferentes? É isso o que o mercado e a torcida do Flamengo querem saber. Rápido!
E o poder? Como ficará a política e a representatividade cidadã com tantas telas? Revelar-se-á de quem são as mãos sujas da corrupção? A punição online é iminente? Enfim, onde está a inovação? O que virá depois do YouTube, do Twitter e do Facebook? Estamos como dinossauros estupefatos diante da certeza da queda de um asteroide em nosso planeta de audiovisual. Caraca! Onde estamos e para onde estamos indo? Está claro que sem foco no desenvolvimento social teremos só tecnologia e mercado. Não haverá sonho, seja lá o que isso for. Mas, sem isso, para que então?
Ah! Eu casei neste domingo. Uma pequena celebração em família. Não foi transmitida para lugar nenhum.
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[Tadeu Jungle, diretor de cinema e TV, é sócio do Grupo Ink, produtor de audiovisual; João Ramirez é diretor-executivo da produtora digital Colmeia]