Se você faz parte da plateia que não espera pela chegada ao Brasil de uma série muito comentada nos Estados Unidos, e vai baixando tudo pela web, é bem possível que já tenha visto mais de cinco episódios de The Newsroom. Mas, na tela da TV, digamos, oficialmente, é hoje que estreia no Brasil, pela HBO, a nova série de Aaron Sorkin, diretor premiado com o Oscar de melhor filme por A Rede Social e dono de grandes sucessos no universo de séries americanas, a começar por The West Wing.
The Newsroomtraz nesta primeira temporada dez episódios, sempre aos domingos, às 21 horas, todos já prontos para desembarcar aqui, com promessa de uma segunda temporada, ainda a filmar. Lá estão os bastidores de um telejornal de uma grande rede de TV, tratada sob a fictícia sigla ACN, com todos os conflitos profissionais, pessoais, comerciais e éticos que a produção de um noticiário de massa provoca entre os membros da equipe.
Mas as notícias que sustentam o enredo são todas verídicas, o que torna os episódios muito críveis. Deve estar aí uma das razões do desconforto causado entre alguns veículos de imprensa nos EUA, inconformados com o fato de McAvoy tratar sua plateia como gente burra, de baixo alcance intelectual e disposta a soluções simplistas. No primeiro episódio, o assunto é a plataforma de petróleo que explodiu no Golfo do México. A caçada a Osama bin Laden também entrará em foco mais adiante.
O episódio de estreia apresenta a tentativa da rede ACN de apostar em um novo modelo de noticiário, mais analítico e menos entregue às tentadoras imagens e fatos que hipnotizam audiência. Em dado momento, o âncora, Will McAvoy (Jeff Daniels) ouvirá do sujeito que o pressiona com análises de audiência que “são os conservadores que assistem aos telejornais” e que ele não pode abandonar esse público. Na esfera do mundo real, os números da Fox News, anti-Obama, só endossam o roteiro de Sorkin.
A pior geração
O ponto de partida para a empreitada de um novo conceito em telejornal é um debate em seminário universitário do qual McAvoy participa, tendo representantes do partido Democrata de um lado e do Republicano do outro, diante de uma plateia de estudantes. No meio do duelo, McAvoy é cobrado por tomar posição e deixar de lado a tal imparcialidade pública que sempre o caracterizou. “Você é popular porque não incomoda ninguém”, provoca o moderador.
A questão que aciona o botão opinativo de McAvoy vem de uma mocinha doce, que quer saber o seguinte: “O que faz dos EUA o maior país do mundo?” Após arriscar palpites neutros, McAvoy explode, afinal, na afirmação de que os EUA “não são mais o maior país do mundo”, e se põe a enumerar todos os defeitos de uma nação que omite seus índices de baixo alcance social. “A sua geração é a pior que já tivemos”, diz ele à garota. A sequência passa a ser gravada pelos universitários em seus celulares, cai na web e McAvoy em tese cairia em desgraça.
Ao retornar ao trabalho, após ganhar duas semanas de “férias”, descobre que sua equipe foi desfeita e uma nova produtora foi contratada sem que ele fosse consultado. Mas o chefe de redação, Charlie (Sam Waterston), ainda que seja acusado de bêbado, resolve bancar a postura desse novo McAvoy, capaz de humanizar o noticiário com mais análise, e aposta em uma produtora de incontestável competência, a quem McAvoy jamais deveria se opor. A não ser, claro, pelo fato de a moça, MacKenzie McHale (Emily Mortimer) ser sua ex-namorada, protagonista de um rompimento traumático para ele.
Ao colocar o dedo na ferida de um país em crise, The Newsroom ganhou o público nos EUA, reunindo, em média, 2,1 milhões de espectadores. É ficção, mas a notícia é real.
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[Cristina Padiglione, do Estado de S.Paulo]