As notícias na televisão americana se tornaram tão sensacionalmente previsíveis quanto os reality shows, e o jornalismo em geral não vem honrando sua função democrática nem seu papel crucial de informar o público de forma inteligente. Essa é a mensagem por trás da nova série idealista de Aaron Sorkin, The Newsroom, que estreia no Brasil no dia 5/8, no canal a cabo HBO. Assim como West Wing: Nos Bastidores do Poder, outra série de Sorkin, mostra a política em Washington de forma romantizada, The Newsroom encontra otimismo no próprio setor cujas falhas busca expor.
A produção apresenta Jeff Daniels como Will McAvoy, um cínico âncora de TV de meia-idade que buscava altos índices de audiência por meio de histórias agradáveis. Até que ele se une com sua ex-namorada, uma produtora interpretada por Emily Mortimer. Juntos, eles dão uma reviravolta em seu programa noturno de notícias e tentam “recuperar o Quarto Poder”.
A personagem de Mortimer já avisa aos jovens integrantes da equipe em um dos primeiros episódios: “Não fazemos boa televisão, trabalhamos com notícias.” Enquanto isso, McAvoy se desculpa no ar por algumas transgressões recentes, como calcular erroneamente os resultados de eleições, exagerar ameaças terroristas e deixar de manter o setor financeiro sob vigília.
“É tudo dinheiro”
Sorkin usa notícias verdadeiras para evidenciar a cobertura real que os eventos tiveram e exibir o que vê como falhas atuais do jornalismo. Entre os casos presentes na série estão o desastre ambiental causado pelo vazamento de petróleo da BP no Golfo do México em 2010 e o exagero na ameaça de bomba na Times Square, em Nova York. “Eles não estão mais cobrindo a notícia, estão fazendo reality TV. E querem a todo custo que você se sinta envolvido com a história da vez”, disse Sorkin à Reuters. Para ele, em muitos casos, os programas de notícia “praticamente abdicaram de sua responsabilidade com a democracia, de informar o eleitorado”.
O escritor, de 51 anos, estende suas críticas ao jornalismo como um todo e aponta como a busca por equilíbrio e objetividade pode acabar fazendo com que os meios de comunicação deixem de abordar as notícias como deveriam. É o que McAvoy define como “ser tendencioso ao ser imparcial”. Em um dos primeiros episódios, por exemplo, McAvoy comenta que, se os republicanos apresentassem um projeto de lei sustentado que a Terra é plana, os jornais diriam que os dois grandes partidos não chegaram a um consenso sobre o formato do planeta.
No monólogo de abertura do episódio piloto, que homenageia o filme Rede de Intrigas (1976), uma sátira das empresas jornalísticas, McAvoy explode em um discurso irado contra a perda de posição dos Estados Unidos no mundo e critica a polarização política no país, assim como a dos canais de notícias na TV a cabo. “Você pode falar com a sua base e passar algum tempo no ar fazendo críticas veementes. Sua base ficará satisfeita e continuará comprando os produtos das pessoas ou empresas que anunciam com você. É tudo dinheiro.”
“Olhar idealista”
No mundo ideal das redações de Sorkin, a personagem de Mortimer promete divulgar apenas “os fatos”, enquanto o âncora, McAvoy, leva adiante sua cruzada para destacar o que vê como hipocrisias na lei de imigração do Arizona e no movimento conservador Tea Party, enquanto arremete contra Sarah Palin e outros conservadores dentro da “elite da mídia”. Sorkin, que ganhou o Oscar pelo roteiro de A Rede Social, filme de 2010 sobre o Facebook, é frequentemente criticado por conservadores nos Estados Unidos. O roteirista disse ter consciência de que “há muitos na direita que rapidamente concluirão que isso vai ser um monte de besteiras liberais de Hollywood. Eu espero que eles deem uma chance ao programa.”
Um obstáculo ainda maior para o sucesso pode ser que, de acordo com algumas das primeiras críticas, a série entra em declínio depois do piloto. “Se a narrativa das histórias fosse mais segura, ela poderia ter mais fôlego e proporcionar drama, não apenas temas para conversas”, destacou a revista The New Yorker.
Sorkin disse que os personagens – entre os quais há uma executiva-chefe interpretada por Jane Fonda, que foi casada com o fundador da CNN, Ted Turner – não são baseados em pessoas reais ligadas ao jornalismo. “Trata-se de um olhar idealista, romântico e muito otimista sobre a televisão em geral e as notícias em particular.”
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[Christine Kearney, da Reuters, de Nova York]