A primeira novela de João Emanuel Carneiro foi Da Cor do Pecado, que considero a melhor das 19h da última década e foi uma grande aposta da Globo. Na época, ele contava com a supervisão de Silvio de Abreu para a novela, que caiu rapidamente nas graças do público. Em seu currículo, Carneiro foi roteirista dos premiados filmes Central do Brasil (1998) e Deus é Brasileiro (2003). Escrever uma novela não seria tarefa fácil, mas que foi tirada de letra, já que sua primeira produção chegou a superar os 50 pontos de audiência em uma faixa onde isso não é tão comum.
Depois de Da Cor do Pecado, Carneiro escreveu Cobras & Lagartos (2006) que substituiu o fiasco Bang Bang e novamente, a audiência deslanchou em suas mãos naquele horário. Após, o autor escreveu A Favorita que também foi um grande sucesso, e por fim, Avenida Brasil, que teve um último capítulo, como não poderia deixar de ser, uma produção cinematográfica. Na prévia do Ibope na Grande São Paulo, a audiência foi de 51 pontos e um incrível share de 72%.
A intenção do novelista nunca foi inovar. E sim, apenas produzir um bom produto, que agrade. E em todas as suas tentativas, obteve êxito. Sua exímia capacidade de observação e uma sensibilidade impressionante fazem de Carneiro um “rei Midas” das telenovelas. Todos os atores que não trabalharam com ele, querem trabalhar, e os que já trabalharam, querem repetir a dose. É quase uma unanimidade.
O que foi tão atrativo?
Há algum tempo, a Globo não levava ao ar uma produção que fosse um sucesso de crítica e audiência, praticamente uma mania nacional. O tema de abertura contagiava as redes sociais, o famoso “congelamento” no final virou febre nos avatares do Facebook e Twitter, a trilha sonora continha as músicas que o povo gosta, personagens cativantes e carismáticos, além de uma boa carga dramática na trama fizeram de Avenida Brasil um fenômeno.
Não é para qualquer um levar uma novela à capa da revista Veja, como aconteceu com Avenida Brasil e levar o intérprete da música de abertura (“Vem dançar com Tudo”), Robson Moura, aos principais programas de TV de todas as emissoras para cantá-la. O folhetim conseguiu ainda um Globo Repórter e Profissão Repórter especiais na mesma semana. Fato raro, que talvez outra produção não repita o feito tão cedo.
A estudante de engenharia civil Thaís Caires, de 20 anos, revela que chamou sua atenção na trama foi o fato de Max (Marcelo Novaes) e Carminha (Adriana Esteves), terem abandonado Nina (Débora Falabella) no lixo. “Isso me cortou o coração”, conta. O jornalista Tiago Queiroz, de 23 anos, relata que as primeiras chamadas da novela já lhe chamavam a atenção. “Desde as primeiras chamadas já dava para perceber aquele popular, o que é ótimo, e fiquei meio decepcionado com a última novela (Fina Estampa)”, confessa. Tiago disse ainda que o fato dela ser popular, fez com que ele continuasse a assisti-la. “Normalmente essa história do mocinho e da mocinha serem ricos, viver no luxo e em mansões enche o saco. Em Avenida Brasil, principalmente, até Jorge Tufão, mesmo depois da fama, continua vivendo em um lugar ‘povão’ e não se importa com tanto luxo.”
O que prendeu Thaís ligada na novela, foi outro ponto: a vingança de Nina. “O que me prendeu foi essa vingança. Ela não queria que acontecesse com mais ninguém o que aconteceu com ela”, disse. “Avenida Brasil mostrou a verdadeira cara do povo brasileiro. Muitos podiam se encontrar nos personagens criados”, contou Tiago, que coincide com a entrevista de João Emanuel Carneiro ao Globo Repórter, exibido após a novela na última sexta-feira (19/10), onde o novelista conta que é muito observador e se apara no que vê à sua volta.
Sem dúvida alguma, Avenida Brasil vai deixar saudades para o público, emissora, e aos envolvidos. E que venha Salve Jorge!
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[Thiago Forato é jornalista, Ribeirão Preto, SP]