Algo está mudando rapidamente no mundo dos vídeos da internet.
Em queda, estão as produções amadoras, com bebês, gatos e candidatos a celebridades que tanto marcaram a estética da segunda metade dos anos 2000.
Em alta, temos uma crescente profissionalização, com conteúdos querendo não só atrair audiência mas também fidelizá-la.
Isso é um sintoma de como a internet se consolida como nova “janela” de distribuição. É só pensar nos seriados americanos: estreiam na TV aberta ou a cabo e, em seguida, estão disponíveis em sites como o iTunes, que vende episódios “no varejo” a US$ 1,99 (cerca de R$ 4).
Só que a internet não quer ser só “mais uma janela”, complementando as anteriores. Ela ambiciona ser “a janela”. Nesse sentido, despontam séries produzidas diretamente para a rede, como “House of Cards”, exibida pelo Netflix.
O YouTube também está se transformando. O site passou a remunerar produtores de conteúdo original: quando uma websérie decola, tem chance de gerar receita significativa (há milhares de produtores faturando mais de US$ 100 mil -cerca de R$ 200 mil por ano).
Esse modelo sacodiu o mercado. Surgiram empresas especializadas em achar talentos amadores. Dão um “banho de loja” neles: melhoram a produção e os roteiros. Daí, passam a agenciá-los, dividindo ganhos.
Isso não significa que a vida das webséries anda fácil.
Neste ano, o YouTube apostou cada vez mais em conteúdo tradicional, licenciado de empresas como Disney ou Universal.
A reclamação é que, assim, produtores independentes ficam à margem. Sem destaque nas recomendações do site, a audiência cai. Enquanto isso, a de conteúdos tradicionais cresce. O embate entre o conteúdo amador, semiprofissional e profissional na internet é em si uma boa websérie. Com várias temporadas pela frente.
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[Ronaldo Lemos é colunista da Folha de S.Paulo]