Quem consulta a grade da RedeTV! nota que cerca de 11 das 24 horas de um dia normal http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2012/10/soja-vira-moeda-de-troca-no-centro-oeste-do-pais.htmlda semana são hoje “alugados” pela emissora a diferentes grupos religiosos ou comerciais.
Além de toda a madrugada, também horários nobres são ocupados por denominações como Igreja Mundial do Poder de Deus (12h), Igreja Universal do Reino de Deus (14h), Igreja da Graça (17h) e Igreja Internacional da Graça de Deus (21h30).
Excluindo esses programas, sobre os quais a emissora não tem controle nenhum, a RedeTV! mantém alguns noticiários de qualidade, uma atração sobre celebridades (o “TV Fama”) e exibe, como suas maiores estrelas, os apresentadores Amaury Jr., Gilberto Barros e Luciana Gimenez.
A emissora tem dois donos. O principal é Amilcare Dallevo, cuja mulher, Daniela Albuquerque, também é apresentadora da casa. O outro é Marcelo de Carvalho, casado com Gimenez e apresentador, ele próprio, do game show “Mega Senha”.
Tiros n’água
Os problemas da RedeTV! se agravaram no final de 2011, quando se tornaram públicos atrasos em alguns pagamentos. Esse foi, ao menos, o pretexto para que toda a equipe que fazia o principal programa da casa, o “Pânico na TV”, deixasse a emissora em direção à Band.
O baque na audiência e no faturamento levou Dallevo e Carvalho a reunir um grupo de jornalistas, em março de 2012, para anunciar a contratação do humorista Rafinha Bastos e a decisão de fazer no Brasil o programa “Saturday Night Live”.
Irônico, Carvalho comparou o “Pânico” a “uma mulher argentina gostosa” e explicou que iria ganhar muito mais com o “SNL”: “É como se tivéssemos uma mulher argentina gostosa, muito desejada. Ela foi embora. Aí vamos olhar a conta. Dá para casar com a Gisele Bündchen e ainda sobra metade do dinheiro.”
Dallevo e Carvalho anunciaram demissões, o fim de programas deficitários e enxugamento de despesas. E atribuíram a crise vivida no final de 2011 a três fatores: a perda dos direitos de transmissão da Série B do Brasileiro, a perda dos direitos do UFC para Globo e dificuldades de crédito por conta da crise financeira na Europa.
De lá para cá, a impressão que se tem é que pouca coisa mudou. Com imensa expectativa, o “SNL” estreou num domingo (apesar de ter a palavra “sábado” no título), às 20h, o horário mais nobre, mas marcou menos de 1 ponto no Ibope.
Depois de repetidos insucessos, o programa foi transferido para a 0h, quando chegou a marcar 2 pontos. Rafinha Bastos já deixou a emissora, e o futuro do “SNL” está indefinido.
Grade limitada
Há duas semanas, a emissora anunciou um novo programa matinal, “Se Liga Brasil”, em substituição ao “Manhã Maior”, que exibia havia alguns anos. A novidade diz muitos das dificuldades da RedeTV!.
“Estamos de programa e cenário novo, mas o patrocinador continua o mesmo. Ainda bem”, disse a apresentadora Regina Volpato, na estreia. Em resumo, o “Se Liga Brasil” apenas reciclou o “Manhã Maior”: uma pitada de notícias, duas doses de fofocas, uma receita culinária e entrevistas “polêmicas”.
Qualquer que seja a situação da RedeTV!, ela é preocupante do ponto de vista do espectador. Com sua grade hoje muito limitada, a emissora não está conseguindo se apresentar como uma alternativa relevante no quadro da TV brasileira.
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[Mauricio Stycer, da Folha de S.Paulo]