Zorra Totalé um programa de televisão humorístico brasileiro produzido e exibido pela Rede Globo desde 25 de março de 1999. Embora hoje em dia passe aossábados, suaestreiadeu-se emmarçode1999 nas noites dequinta-feira, das 22:00 às 23:10, até ser substituído pelo jornalístico Linha Direta.
Desde sua estreia, o Zorra Total sempre focou em estereótipos polêmicos acerca da raça, orientação sexual e religião. E ultimamente vem com uma personagem chamada Adelaide, interpretada pelo ator Rodrigo Sant’Anna, uma mulher negra e pobre, que circula pelo corredor do metrô com seu tablet, pedindo “50 centarru, 25 centarru, dez centarru” aos passageiros. Para interpretar esse papel, o ator escureceu a pele com maquiagem e usa um nariz falso e uma prótese na boca sem os dentes da frente. A primeira impressão que se tem é a de que para interpretar uma mulher pobre é preciso que ela seja negra e sem dentes, pois se fosse branca dificilmente ela seria pobre. E a segunda impressão que temos é a de que Adelaide é a única personagem negra de destaque no programa. O que seria pior: ela ser a única negra, ou ser negra nessa situação?
Adelaide também nos faz lembrar uma época nos EUA quando os artistas negros eram impedidos de participar das peças de teatro e os atores brancos. Então, se pintavam de preto – afinal, Rodrigo Sant’Anna, seu intérprete, utiliza maquiagem.
Quando dizem que “o mundo está de cabeça para baixo”, acredito que queiram dizer que os conceitos estejam mudados, ou seja, achar que só porque uma pessoa é negra ela seja feia, o que é um completo absurdo, já que é mais do que óbvio que existem muitas mulheres negras bonitas.
Asituação do artista negro
Adelaide não causou apenas comentários. ONGs e espectadores denunciaram o programa à Ouvidoria Nacional da Igualdade Racial, da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República. E o rapper Emicida publicou uma carta no Facebookcriticando Adelaide.
O Brasil deveria ser um país sem preconceito, já que somos todos mestiços, viemos de uma mistura de índios, brancos, negros. Nascemos da mistura, então deveríamos abraçar essa mistura e nos orgulharmos por ela. Pois, como diz Bob Marley: “Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerra”. Enquanto a televisão brasileira permanecer incentivando essa guerra, poucas serão as melhoras reais na situação do artista negro na mídia nacional.
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[Beatriz Matos Silva é estudante, Itabuna, BA]