2012 não foi diferente dos outros anos. Pelo menos, no que diz respeito à produção audiovisual para crianças, no contexto da TV aberta comercial no Brasil. Poucas realizações de fato foram pensadas para o público infantil. Algumas que já existiam foram inclusive retiradas da programação diária, como a TV Globinho, da Globo, que, na verdade, exibia apenas desenhos animados enlatados. A justificativa de não produzir conteúdo próprio brasileiro para a criança foi a mesma de sempre: altos custos combinados com a falta de anunciantes/patrocinadores diante de um contexto de pressão legislativa pelo fim da publicidade infantil na tevê.
Na contramão, o SBT talvez tenha sido o canal que mais se destacou, ao reeditar a novela infantil Carrossel. No ar às 20h30, a trama ganhou a atenção das crianças e aumentou o lucro da emissora, mostrando que o filão infantil não morreu e que pode ser um bom investimento. Tivemos também, neste ano, a série animada do Sítio do Pica Pau Amarelo (26 episódios de 11 minutos cada), lançada aos sábados pela Globo, e o programa Conversa de Gente Grande, na Band, mas que saiu do ar depois de sete apresentações. Segundo a emissora, o programa não decolou por conta do horário: aos domingos à noite. De resto, apenas os desenhos animados enlatados já conhecidos.
No Brasil de hoje, criança só tem melhores opções na TV por assinatura. Mas que criança? De acordo com a Anatel, somente 16 milhões de domicílios brasileiros têm acesso à tevê fechada. Ou seja: não é a realidade de muitas meninas e meninos. Fato muitas vezes ignorado pelas emissoras e pelo próprio governo federal, que poderia cobrar e investir mais na produção audiovisual para criança na tevê aberta comercial e na TV Brasil, vinculada à Empresa Brasileira de Comunicações. Em 2012, apenas o programa TV Piá, uma produção terceirizada, fez diferença na programação da TV Brasil. Que tal, em 2013, pressionar os canais e o poder público? Lembrando: os canais são concessões públicas. Exigir produções/programas para crianças, com bom conteúdo, diário e em horário compatível é um direito.
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[Marcus Tavares é professor e jornalista especializado em Educação e Mídia]