Tuesday, 03 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1316

Escritor por um dia

Já há alguns meses – mais precisamente desde outubro de 2012, um dia antes de Salve Jorge invadir a tela da Globo – está no ar, no site da revista Veja, um infográfico que deve estar fazendo muito noveleiro-internauta que não dispensa uma novidade perder tempo na frente do computador. Intitulado “Monte ‘sua’ novela”, o instrumento tem a intenção de propiciar a qualquer reles mortal a construção de um folhetim nos moldes “gloriapereanos”. Para isso, elenca o que chama de “quatro blocos essenciais” de uma trama desse porte: um país exótico para ancorar a ponte-aérea, uma mocinha-heroína, um bordão a ser lançado e um merchandising social a ser explorado.

A iniciativa bem que poderia ser uma homenagem a Glória Perez, que fez bonito no Ibope com produções como O Clone. Mas, o sarcasmo fica claro quando o “autor” escolhe as opções que darão origem ao folhetim e depara com uma sinopse sem pé nem cabeça do mesmo. Muita dança marca os enredos, quaisquer que sejam suas repetidas variações. E, acompanhando os personagens que choram suas pitangas sempre com ritmo na ponta do pé, aparecem aquelas frases de efeito que fazem o maior sucesso a cada novo roteiro de Glória. Veja sugere bordões do tipo “Az s?m bogat” (Eu sou rico) ou “Lã shi” (Que porcaria). Os bordões e as danças caem bem em qualquer cenário, de uma sala de hospital onde o paciente agoniza até a morte, a um picadeiro onde uma vaca é chicoteada. E, claro, não faltam romances nas ilustrações que cruzam o trajeto Brasil-Zâmbia, por exemplo, como quem vai do Rio a São Paulo. A experiência rende boas risadas. Mas, certamente, é uma clara crítica à falta de criatividade da autora que emplaca sucessos – ou nem tanto – apostando incansavelmente nas mesmas fórmulas.

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[Taís Brem é jornalista, Pelotas, RS]