A nova arrumação das classes de consumo ocorrida no Brasil nos últimos dez anos provocou mudanças em modelos de negócios que antes atendiam só as camadas mais ricas da população.
Nesse período, mais de 40 milhões de pessoas foram alçadas à classe C, perfazendo filão de mais de 100 milhões de consumidores ávidos por serviços. Além de contratar plano de saúde, viajar de avião e acessar a internet pelo smartphone, essa massa, agora com mais dinheiro no bolso, começa a ver TV por assinatura.
Entre 2011 e 2012 (os dois anos aferidos pela Agência Nacional de Telecomunicações, a Anatel), o volume de assinantes dos canais fechados no Brasil avançou 27% – veja o gráfico. Já são 17 milhões de pontos de acesso, que atingem um em cada cinco brasileiros. Nada menos que 48% dos atuais assinantes são da classe C (veja o Confira).
Como apontam dados da Anatel, o setor ganhou mais espectadores no ano passado nas regiões do País onde está a maior parte dos consumidores recém-egressos das classes D e E: Norte, Nordeste e Centro-Oeste. É gente que sempre teve a TV como uma de suas raras opções de lazer e que, agora, busca programação mais diversificada e de maior qualidade.
Sete grandes
A concorrência entre as prestadoras dos serviços está acirrada e os planos, cada vez mais acessíveis ao poder aquisitivo da clientela. A entrada dos grupos de telefonia no mercado colabora para maior disponibilidade de ofertas. Pacotes que incluem telefone fixo e internet rápida, além dos canais fechados (os chamados combos), chegam a ser oferecidos por R$ 80 mensais. Mas há planos mais simples, de R$ 50. O custo médio mensal da assinatura de TV no Brasil oscila em torno dos R$ 100.
A consultoria Ipso Marplan mostra que, em 2010, apenas 17% da classe C pagava para ver TV. Em 2012, esse índice subiu para 31%. Mais importante: 69% da classe C ainda não aderiu. É um bom pesqueiro a ser disputado pelas sete grandes da área (Sky, Net, Oi TV, GVT, Claro TV, CTBC TV e Vivo TV) e pelas outras 200 de menor porte.
Mas o assinante não parece satisfeito. De 2011 para 2012, as queixas à Anatel aumentaram nada menos que 94%. Por um lado, há a falta de prática dos novos clientes: parte das reclamações, de acordo com a Anatel, são dúvidas sobre o funcionamento dos serviços. Mas isso não é tudo porque a ineficiência é alta: cobranças indevidas; dificuldades para cancelamento de assinaturas; e reparos descuidados ou instalações malfeitas de cabos ou receptores de sinal via satélite são os principais problemas relatados.
Para o presidente executivo da Associação Brasileira de Televisão por Assinatura (ABTA), Oscar Simões, o setor está fortemente empenhado em reverter esse quadro. “Faremos investimentos de R$ 2 bilhões até dezembro, em infraestrutura, atendimento e comunicação com os clientes.” Em mensagem enviada à Coluna, a Anatel se compromete a acompanhar esse Plano de Ação e Investimentos, apresentado em outubro de 2012 pelas sete grandes do segmento. E aposta em que, “até o final deste ano, ocorrerá considerável melhoria da qualidade”. É esperar para ver. (Colaborou Gustavo Santos Ferreira)
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Celso Ming é colunista do Estado de S.Paulo