Wednesday, 18 de December de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1318

Velhas bravatas, novas embalagens

Durante um café da manhã num hotel em São Paulo, localizado diante da sede da Globo, o vice-presidente da Record, Walter Zagari, subiu ao palco para relatar: “O empresário Edir Macedo disse que, entre três e cinco anos, temos que dividir a liderança com o nosso vizinho aqui do lado”.

A bravata de Zagari teve grande destaque na mídia, o que desagradou a Globo. Executivos da emissora lembraram aos colunistas que escrevem sobre televisão que a meta estabelecida por Macedo é antiga, mas nunca foi alcançada.

De tempos em tempos, esse objetivo é enunciado como se fosse novidade. Em outras palavras, na visão da líder de mercado, a Record reciclou uma meta antiga como forma de esconder o próprio fracasso no cumprimento dela.

O anúncio de Zagari ocorreu durante um encontro destinado a informar ao mercado as novidades da programação da Record em 2013. A saber: a contratação de Rafael Cortez para apresentar o show de talentos “Got Talent Brasil”, um remake da novela “Dona Xepa” e a estreia do novelista Carlos Lombardi, que prepara “Pecado Mortal”.

Como estas três atrações já haviam sido alardeadas anteriormente pela emissora, a fala do executivo, incluindo o efeito causado ao chamar o fundador da Igreja Universal do Reino de Deus de empresário, acabou sendo a maior “novidade” do encontro.

Estratégias distintas

Um dia depois do café da manhã da Record, foi a vez de a Globo promover um encontro para anunciar as suas novidades para 2013. Realizado numa casa de shows em São Paulo, o evento grandioso foi planejado para resultar num programa de televisão, exibido 24 horas depois, na noite de quinta, 28 de março.

Tal como ocorrera no evento da concorrente, as principais “novidades” da Globo já eram conhecidas: as séries “O Dentista Mascarado” e “A Teia”, assim como os títulos das novelas que exibirá ao longo do ano, “Sangue Bom”, “Amor à Vida”, “Saramandaia” e “Joia Rara”.

A principal surpresa foi o anúncio de que o ex-jogador Ronaldo, hoje dono de uma empresa de marketing, que cuida da carreira de atletas, será comentarista da emissora na Copa das Confederações. A novidade, nos dias seguintes, deu lugar a uma discussão sobre o nítido conflito de interesses que a envolve.

Antes da apresentação no palco da casa de shows, o novo diretor-geral da Globo, Carlos Henrique Schroder, deu uma entrevista, na qual abordou os desafios da sua gestão. Uma das questões de que tratou disse respeito à troca no comando da direção de Comunicação da emissora.

A substituição do jornalista Luis Erlanger pelo publicitário Sergio Valente foi explicada por Schroder como fruto da necessidade de dar um passo além no diálogo da empresa com a sociedade. “Um jeito diferente de embalar a Globo”, disse o diretor-geral.

O especial “Vem Aí” rendeu à Globo audiência de 28 pontos, mais do que ela vinha obtendo no horário com o “Big Brother” -um sinal de que a proposta foi bem recebida pelo público.

São estratégias muito diferentes. A reciclagem de velhas bravatas agrada ao público mais fiel da Record, mas suspeito que não atraia novos espectadores. A nova embalagem oferecida pela Globo me parece mais adequada a este momento, em que a oferta de imagens e informações convida o público a escapar da televisão aberta.

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Mauricio Stycer, da Folha de S.Paulo