Sunday, 24 de November de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1315

Interatividade recupera a audiência

João Sayad, atual presidente da Fundação Padre Anchieta, não é candidato à reeleição. Na segunda-feira (8/4), o economista reuniu-se com o Conselho da Fundação e apresentou um balanço do que fez entre 2010 e 2013: aumento no índice de audiência, incremento da produção própria e uma regularização das contratações de funcionários, problema antigo e grave da instituição. Apesar dos bons indicativos, Sayad deixou claro que não pretende continuar no cargo. “Minha missão já foi cumprida”, disse ele, em entrevista exclusiva ao Estado.

Sabe-se que a decisão leva em consideração os sinais enviados pelo Palácio dos Bandeirantes que, aparentemente, pretende reconduzir Marcos Mendonça ao posto que ocupou entre 2004 e 2007. Em fevereiro, Geraldo Alckmin indicou o nome de Mendonça para o Conselho Curador. Apesar de rechaçado no primeiro pleito, o ex-secretário de Cultura e ex-presidente da Fundação acabou sendo eleito em segunda instância. O atual presidente não comenta o episódio.

“A audiência cresceu em 20%”

O senhor vai concorrer à reeleição?

João Sayad – Não. Já anunciei ao Conselho que não irei concorrer.

Por quê? O senhor acha que não teria chances?

J.S. – Boa parte do Conselho aprecia o trabalho que foi feito. Mas eu já dei a minha contribuição.

Mas tem um candidato?

J.S. – Não tenho.

O senhor não era, até vir para cá, um homem de televisão. Por que acredita ter sido escolhido para o posto?

J.S. – Na Secretaria da Cultura fiz um trabalho grande de reorganização das OSs (Organizações Sociais). Na TV Cultura, achei que havia muito a ser feito quanto à reorganização. E consegui, de fato, fazer muita coisa nessa área.

Que balanço o senhor faz da sua gestão?

J.S. – O balanço é positivo. O resultado mais importante para nós é o aumento da audiência, levando em conta algumas características especiais. Do ano passado para cá, a audiência cresceu em 20%. A nossa média geral passou de 1% para 1,2%. E o crescimento desse índice foi acompanhado de um crescimento significativo do share (audiência medida levando-se em consideração o número de TVs ligadas no período) que passou de 2,5% para 3%. Nós ficamos, então, praticamente o ano inteiro, ocupando o quinto lugar na audiência. E agora, até abril, já estamos com 1,3%, o que demonstra uma tendência de crescimento da audiência.

“No caso do jornalismo, o resultado é expressivo”

Mas ainda não é um índice baixo?

J.S. – Como televisão pública, não podemos estar apenas em busca da maior audiência, senão faríamos um programa fácil, como o Pânico. Nosso objetivo era fazer com que o espectador experimentasse programas novos, diferentes. Não digo melhores, porque não é possível dizer, por exemplo, que a música clássica é melhor que a popular. Mas é uma música que não está nos outros canais. Tivemos, por exemplo, bons resultados com o Clássicos da Cultura, que é um programa mais difícil para o público de televisão. Além dos concertos da Osesp, para os quais melhoramos muito a captação, também passamos a exibir apresentações de algumas das melhores orquestras do mundo. Programas muito benfeitos e que saem baratíssimos para nós.

Esse aumento na audiência se deve às mudanças feitas na grade de programação?

J.S. – Outro dado importante nesse contexto é que aumentou o tempo que o espectador passa assistindo à Cultura. No caso do jornalismo, temos um resultado expressivo. O tempo médio é o maior do segmento. São 25 minutos e 26 segundos. Ligeiramente à frente do Jornal Nacional, com 25 minutos e 18 segundos. Não é uma diferença significativa em termos estatísticos, mas para nós é um resultado excelente.

“Não houve nenhum alívio financeiro”

Uma crítica corrente é de que a TV Cultura teria diminuído o seu número de produções próprias. Isso aconteceu?

J.S. – Não é verdade. Somos hoje o maior centro de produção nacional de programação infantil. E aumentamos consideravelmente o número de horas inéditas produzidas dentro da casa, apesar da redução de pessoal.

Qual foi o tamanho da redução no quadro de pessoal? E como foi possível reduzir o número de funcionários e aumentar a produção?

J.S. – Passamos de 2 mil funcionários para 1 mil. Para isso, cortamos algumas atividades – 200 saíram pela descontinuidade da TV Assembleia. Também lidamos com os casos de ineficiência grosseira, com funcionários que “feudalizaram” suas áreas, não obedeciam comando. O aumento de produtividade vem do fim desses casos de ineficiência e da modernização de alguns procedimentos. Os estúdios se especializaram. Antes, também tínhamos várias mesas de exibição. Hoje, tudo é centralizado em uma mesa só.

Essa reestruturação no setor de pessoal lhe garantiu um orçamento maior para investimentos?

J.S. – Não. A TV obedece às regras da CLT, por isso transformamos 400 colaboradores em contratados pela CLT. Economizamos em mão de obra R$ 70 milhões por ano. Mas nossos custos aumentaram em função dessa regularização da situação trabalhista.

O senhor disse que os cortes de pessoal não o deixaram com um orçamento maior. Vieram mais recursos do orçamento do Estado?

J.S. – Não. A contribuição do Estado foi ou constante ou decrescente. O aumento de custos que tivemos foi compensado por redução ou por produção interna. Não houve nenhum alívio financeiro.

“Hoje, assiste-se à TV com uma segunda tela na mão”

Mas esse orçamento hoje é suficiente ou insuficiente?

J.S. – O valor projetado é suficiente, mas a dotação do governo é insuficiente. Estamos negociando para conseguir a dotação necessária. A insuficiência este ano é grave tanto no custeio quanto no plano de investimentos. Nossa rede de internet, de fibra, para nós é uma esteira de produção e ela precisa ser trocada. Não é nada de outro mundo: R$ 2 milhões. Mas nós não temos.

O foco continua na programação infantil?

J.S. – A programação infantil ocupa 2/3 da nossa grade. Para atender à demanda dessa faixa etária, criamos novos programas como O Quintal da Cultura e também passamos a fazer o Cocoricó ao Vivo. Neste ano, estamos lançando cinco animações, produções próprias ou co-produções.

As televisões estão perdendo audiência. Como lidar com isso?

Aumentando a interatividade. Hoje, assiste-se à televisão com uma segunda tela na mão. O novo Jornal da Cultura já tem uma versão que pode ser acompanhada e expandida pelo tablet. Também estreia no dia 13 de maio Quem Sabe, Sabe. Funciona como um jogo, que já tem versões para telefone e tablet, e terá participação do público, em tempo real.

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Maria Eugênia de Menezes, do Estado de S.Paulo